O secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), Júlio Pereira, recusou-se esta quinta-feira a esclarecer em tribunal se alguma vez autorizou a ida de um funcionário das secretas para a Portugal Telecom (PT).
“Não me vou pronunciar sobre isso”, disse Júlio Pereira, ao responder, como testemunha, no julgamento do chamado caso das Secretas, a perguntas do advogado Nuno Morais Sarmento, defensor do arguido Silva Carvalho, ex-director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED).
A pergunta surgiu depois de Júlio Pereira ter evitado falar sobre se há pessoas de empresas privadas a colaborar com os serviços de informações. Alegando que sobre isso “não pode falar”, limitou-se a dizer que as secretas “têm fontes que podem estar em diversos locais”.
Embora não tivesse respondido à pergunta sobre se havia um infiltrado das secretas na PT, Júlio Pereira lembrou que, mesmo que isso tivesse acontecido, na altura o Estado tinha uma "golden share" na PT.
Quanto a Silva Carvalho, o secretário-geral do SIRP confirmou que o ex-director do SIED foi seu chefe de gabinete, entre Maio de 2005 e Abril de 2008, tendo-o escolhido porque já o conhecia desde o tempo em que ambos trabalharam no Sistema de Informação de Segurança (SIS). Além disso depositava confiança no seu trabalho.
Júlio Pereira revelou que “não gostou” de saber, em finais de Novembro de 2010, que, além do convite da Ongoing, Silva Carvalho tinha recebido mais dois convites de trabalho vindos do sector privado, depois de este lhe ter dito que ia dedicar os próximos dois anos a fazer um doutoramento.
Quanto às listas de identificação dos quadros do SIED, sua estrutura e lista telefónica das estações no estrangeiro, encontradas na posse de Silva Carvalho, a testemunha disse tratar-se de documentos “classificados” que nunca deviam ter saído do SIED.
Questionado por Nuno Morais Sarmento sobre se alguma vez lhe dito algo sobre o acesso (indevido) à facturação detalhada dos dados de tráfego/comunicações do jornalista Nuno Simas, que noticiou problemas no SIED, Júlio Pereira respondeu: “Nada. Não me foi dito nada”.
Repetiu que esse acesso é ilegal e que, quando soube de tais notícias publicadas no jornal Público, já o “assunto tinha morrido”.
Lusa