Orgulhosamente claustrofóbico

Orgulhosamente claustrofóbico


Em tempo de guerra, todo o buraco é trincheira. E Portugal, em plena Segunda Guerra Mundial, era uma trincheira e peras. Que o digam os refugiados franceses que chegam a Lisboa em 1942 com o desejo de paz. Boris (Grégorie Leprince-Ringuet) e Laura (Judith Davis) são imediatamente interceptados por agentes da então PVDE, antecessora da…


Em tempo de guerra, todo o buraco é trincheira. E Portugal, em plena Segunda Guerra Mundial, era uma trincheira e peras. Que o digam os refugiados franceses que chegam a Lisboa em 1942 com o desejo de paz. Boris (Grégorie Leprince-Ringuet) e Laura (Judith Davis) são imediatamente interceptados por agentes da então PVDE, antecessora da PIDE. O agente Vargas (Paulo Pires) decide escondê-los no anexo da sua generosa casa, confiante de que tudo passaria despercebido. A inocência de Vargas é algo que só se explica pela sua sede de sexo, que encontrou em Laura, já que a sua mulher (Ana Padrão) está acamada com uma doença que a impede de se mexer. “A Uma Hora Incerta”, segundo filme de Carlos Saboga, é um retrato de um país em paradoxo que, embora em ditadura, acolhe outros povos e lhes assegura alguma tranquilidade. Bem realizado, excelente fotografia, uma história difusa, nem sempre consistente, mas que merece o nosso tempo. Este filme vai ser sempre apresentado com a curta-metragem “Coro de Amantes”, de Tiago Guedes. É sugerido – vá lá, imposto – ao espectador um plano duplo transversal ao filme em que um homem tenta lidar com um ataque de asma da sua mulher, que depressa se torna muito grave… e o hospital parece tão longe. Duas obras em que a claustrofobia reina, em que o oxigénio escasseia. Dois filmes nacionais para serem vistos.

“A Uma Hora Incerta”
***
De Carlos Saboga

“Coro de Amantes”
****
De Tiago Guedes 

A UMA HORA INCERTA, um filme de Carlos Saboga from Leopardo Filmes on Vimeo.

 

CORO DOS AMANTES // CHORUS – trailer from Take It Easy Film on Vimeo.