A Amnistia Internacional acusa as milícias curdas das YPG (Unidades de Protecção Popular), que defendem as populações curdas sírias dos ataques do Estado Islâmico, de cometerem “crimes de guerra” e fazerem autênticas limpezas étnicas nas regiões debaixo do seu controlo: “expulsando milhares de árabes e populações turcomanas das aldeias e locais que ocupam”.
A organização de direitos humanos mostra, no seu relatório, imagens de satélite para provar as acusações. As fotografias são da aldeia de Husseinya onde, segundo a AI, 93% das casas foram destruídas pelas milícias curdas para expulsar a população local da região. “Tiraram-nos à força de casa e começaram a incendiar todas as habitações”, descreve uma das vítimas no relatório da organização. “Quando começaram a deitar gasolina na minha casa, a minha sogra não queria sair, deitaram gasolina à volta dela. Bateram no meu sogro”, denuncia outra mulher árabe que afirma que o marido combate nas fileiras do Exército Livre da Síria, organização que se opõe ao regime de Damasco e é apoiada pelos Estados Unidos da América, mas que em algumas frentes de combate, contra o Estado Islâmico, se bate lado a lado com os milicianos curdos das YPG.
Os curdos sírios têm sido as populações que mais activamente têm resistido ao avanço do Estado Islâmico na região. Para isso, têm contado com o apoio da força aérea dos Estados Unidos da América.
As populações curdas são das maiores vítimas dos massacres do Estado Islâmico, organização constituída por árabes sunitas; por seu lado, a Turquia tem impedido o apoio aos combatentes curdos e bombardeado os seus aliados turcos do PKK. Os curdos olham com desconfiança para populações árabes e turcomanas dentro do seu território. Segundo a Amnistia Internacional, a guerra não pode justificar crimes de guerra contra populações indefesas e considera que as YPG, milícia do Partido Democrático Curdo, estão a aproveitar o conflito para “ajustar velhas contas com populações que não controlam politicamente e que suspeitam colaborem com outros grupos armados da região”, escreve o diário “El País” sobre o assunto.
A Amnistia Internacional pede aos Estados Unidos da América e aos outros aliados ocidentais dos curdos que não fechem os olhos a estes crimes, de modo a que os curdos não repitam este tipo de actuações. “Há provas claras de uma campanha deliberada de castigo colectivo [de populações não curdas] nas regiões sob o domínio das YPG”, afirma o assessor da organização humanitária Lama Fakih.
Pela sua parte, o responsável da polícia curda Ciwan Ibrahim minimiza as acusações – “Trata-se de incidentes isolados” – e recorda que as populações curdas também foram expulsas de muitas aldeias da região por combatentes árabes.