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Com o histórico selar do acordo para o combate às alterações climáticas entre os EUA e a China, este ano, em que as duas superpotências se comprometem a reduzir as emissões de carbono – os Estados Unidos em 25% até 2025 e o Império do Meio em 40% até 2020 –, a questão da redução do CO2 no sector energético ganha um novo protagonismo nas agendas políticas e empresariais, bem como gera potenciais sérias implicações no desenho da estratégia de segurança energética dos países e dos espaços regionais.
A segurança energética e a redução das emissões de carbono é uma questão tradicionalmente encarada numa perspectiva dicotómica – ou seja, aparentemente, para reforçar uma dimensão é necessário prescindir da outra. Por exemplo, ao inserir mais energias renováveis no sistema, reduz-se o consumo de combustíveis fósseis na produção de electricidade, diminuindo desta forma as emissões de carbono.
Mas é criada igualmente maior variabilidade na rede eléctrica, devido à intermitência das fontes solar e eólica, prejudicando assim a segurança da infra--estrutura do ponto de vista físico, mas também económico, dado que gera mais custos de sistema que irão onerar o preço final da electricidade.
Só que, por outro lado, também é verdade que o aproveitamento das energias renováveis reforça a segurança do abastecimento, pois aumenta a diversificação do sistema, um valor muito importante sobretudo para países importadores energéticos, como é o caso português.
Sendo assim, em que ficamos? Para reflectir sobre esta questão, o Programa Segurança Energética da FLAD criou o Low Carbon Energy Security Navigator, um referencial de indicadores que tem como objectivo analisar a relação entre a segurança energética e a intensidade carbónica do sistema de energia de um país. Para o efeito foi elaborada uma análise comparada entre Portugal, EUA, Brasil, Angola e Moçambique.
A definição de “baixo carbono” consiste num sistema energético e numa economia que usam um conjunto de fontes e de tecnologias que, face às fontes convencionais (petróleo e carvão), permitem entregar serviços e produtos energéticos com a mesma qualidade, mas com níveis de carbono muito mais mitigados.
Ou seja, não só se enquadram nesta categoria as energias renováveis (as quais não são completamente neutras em carbono pois, no ciclo de vida da tecnologia, o fabrico e a manutenção do equipamento geram emissões carbónicas) como também o gás natural, dado ser uma fonte fóssil com 50% e 25% menor intensidade carbónica face ao petróleo e carvão, respectivamente.
O Low Carbon Energy Security Navigator mostra que quase metade da energia consumida nos EUA é de baixo carbono (43%), recaindo a maior fatia no gás natural (30%). A electricidade produzida a partir de fontes renováveis ainda é baixa (12%), bem como a mobilidade baseada em combustíveis ou tecnologias eficientes em carbono (como o carro eléctrico, por exemplo). No entanto, mais de 50% da produção industrial é conseguida através do cabaz de baixo carbono, mais uma vez assente no gás natural.
Quando se analisa o contexto de segurança deste desempenho energético, verifica-se que decorre numa situação de quase auto-suficiência energética, em muito derivada do boom da produção de shale oil e shale gas.
Com efeito, é esta última fonte que tem contribuído para o reforço da gasificação da economia norte-americana, sendo este o principal factor de redução dos actuais níveis de CO2 dos EUA para níveis próximos dos verificados em 1990 (5039 Mt/CO2): os dados mostram que, a partir do ano em que começa a aumentar o consumo de gás natural devido ao arranque da produção não convencional (2008), é também nesse ano que as emissões de carbono começam a cair. Isto porque a abundância de gás natural torna a substituição do fuel na indústria e do carvão na electricidade económica e ambientalmente atractiva, bem como igualmente segura no abastecimento e disponibilidade do recurso.
Quanto à eficiência energética e intensidade carbónica do PIB, estas estão ligeiramente superiores face aos níveis da OCDE (0,13 e 0,31, respectivamente).
Em suma, a análise do Low Carbon Energy Security Navigator mostra que, embora os EUA não possuam no seu cabaz energético uma significativa fatia de renováveis, foi possível através da maior introdução de gás natural no sistema melhorar de forma impressiva as emissões de carbono, dinamizando a economia e diminuindo acentuadamente a dependência energética externa, estando em linha com a performance média da OCDE.
A aposta na produção de gás natural não convencional (shale gas) possibilitou aos EUA reduzir as suas emissões de CO2, gerando benefícios económicos e reforçando a sua segurança energética. Por isso, as tendências apontam para que a política energética dos EUA se baseará na sua crescente gasificação, complementada e combinada com as renováveis.