A Polícia moçambicana admitiu esta terça-feira não ter mandado judicial para a invasão da casa do líder da Renamo na sexta-feira, justificando que a intenção era protegê-lo e evitar um eventual "aproveitamento maléfico" que pudesse atentar contra a sua segurança.
"Nós respeitamos os termos legais, mas, neste caso, foi uma acção para recolha de armas que estavam ilegalmente em mãos alheias e a criar situações de insegurança", disse Inácio Dina, porta-voz do comando geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), durante a apresentação do balanço da actividade policial na última semana.
A operação na casa do líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambique), na cidade da Beira, aconteceu um dia depois da chegada de Afonso Dhlakama à Beira, oriundo de Gorongosa, na província de Sofala, onde reapareceu após quase duas semanas em lugar incerto, na sequência de um incidente entre as forças de defesa e segurança e a caravana do presidente da Renamo, no passado dia 25, em Gondola, província de Manica.
Durante a operação na casa do líder do maior partido de oposição, as forças especiais da polícia moçambicana, Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e Grupo Operativo Especial (GOE), fortemente armados, invadiram a casa do presidente da Renamo, num bairro de elite na Beira, tendo detido guardas do partido.
De acordo com o porta-voz da PRM, a acção da polícia tinha a intenção de garantir a própria segurança de Dhlakama, evitando "um aproveitamento maléfico" que pudesse atentar contra o próprio líder da Renamo.
"O que aconteceu foi apenas uma recolha de instrumentos que poderiam ser perigosos para o próprio Dhlakama. As armas de fogo devem ser detidas pelas forças de segurança", salientou Inácio Dina, evocando a lei moçambicana, mesmo que, no entanto, admita que não houve um mandado judicial.
"Agora [Afonso Dhlakama] está em condições bem seguras", declarou o porta-voz da PRM, sublinhando que "a polícia sempre esteve atenta à sua protecção".
Rebatendo a versão da Renamo, segundo a qual a operação tinha como objectivo a recuperação de três armas de fogo esquecidas pelas forças policiais num suposto ataque à caravana de Dhlakama, Inácio Dina sublinhou que a intenção era desarmar um "grupo armado" que, contra o que anteriormente foi acordado, começava a colocar em causa a ordem pública, não se limitando à protecção do seu líder.
"Nós estamos a falar de várias armas que estavam a ser detidas ilegalmente por indivíduos e serviam para hostilizar as populações, criando uma instabilidade", afirmou Dina, enaltecendo a importância da "colaboração pacífica" do líder da Renamo.
Questionado sobre a exigência da Renamo de criação de uma equipa conjunta para a protecção de Dhlakama, o porta-voz da PRM disse que a decisão virá das lideranças políticas, considerando que esta não é a primeira vez que se discute a integração na polícia e no exército dos militares do maior partido de oposição em Moçambique.
"Nós estamos a espera de uma decisão", declarou Dina, salientando que, dentro do quadro legal moçambicano, a polícia está pronta para cumprir, mantendo a ordem e segurança pública.
Em menos de um mês, houve quatro incidentes graves entre Renamo e forças de defesa e segurança, três dos quais envolvendo directamente Afonso Dhlakama.
Moçambique vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.
Lusa