Sobreendividamento. Evite o crédito fácil

Sobreendividamento. Evite o crédito fácil


Só no primeiro semestre houve 17 mil famílias a pedirem apoio à DECO.


Evitar usar a conta-ordenado e “fugir” do cartão de crédito são alguns dos truques usados pelos consumidores para não caírem numa situação de sobreendividamento. Mas nem sempre é fácil fugir desta tentação que muitas vezes sai cara. E os números de sobreendividamento falam por si. Nos primeiros seis meses do ano, os pedidos de apoio que chegaram ao Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor (DECO) totalizaram 17 mil e foram abertos quase 1300 processos. “O número de pedidos de apoio foi idêntico ao registado no período homólogo de 2013 e 2014, cerca de 17 mil famílias. No que concerne ao número de processos abertos, verificou-se uma ligeira diminuição. No mesmo período de 2014 foram abertos 1500 processos”, revela a DECO.

De acordo com o mesmo relatório, as principais causas de uma situação de sobreendividamento são a deterioração das condições laborais (39%) e o desemprego (29%). E ao contrário do que acontecia em anos anteriores, verificou-se um aumento gradual de causas de penhora (12%) e alterações inesperadas do agregado familiar (10%). “Esta última refere-se a nascimentos, falecimentos e situações profissionais e financeiras que obrigam que filhos voltem para casa dos pais ou outro tipo de alterações semelhantes”, salienta o documento.

“Um juízo de valor apressado pode levar a pensar que só os consumidores irresponsáveis contratam tantos empréstimos. Mas além dos financiamentos contraídos para compra de habitação e automóvel ou relacionados com o cartão de crédito, mais frequentes, a maioria dos portugueses tem ainda mais créditos do que, à partida, identifica”, alerta a entidade. Isso significa que “contratar uma conta-ordenado com descoberto autorizado, aderir a um cartão de pontos com crédito associado ou ser fiador de um familiar ou amigo também é contabilizado como financiamento, mesmo que a ele não se tenha recorrido de forma efectiva”, lembra a DECO.

A evitar A verdade é que não há soluções milagrosas, mas há sempre pequenos passos que pode dar de forma a gerir melhor o seu orçamento familiar e evitar desequilíbrios financeiros. Cair numa situação de sobreendividamento não é assim tão raro e, às vezes, basta uma situação inesperada – como o desemprego ou uma doença – para os consumidores deixarem de conseguir responder aos seus compromissos.

Para evitar desagradáveis surpresas, os consumidores devem gastar apenas o que podem e, se for necessário, adquirir novos hábitos. Isso significa que terão de ser mais racionais nos gastos e analisar quase a raio X as suas decisões.

Recorrer ao crédito, só mesmo quando necessário e, nesses casos, deve pagar no menor prazo possível, pois assim evitará pagar mais juros. Por exemplo, num empréstimo por um prazo de 20 anos, no valor de 100 mil euros, a taxa de juro anual de 4%, com pagamentos mensais e fixos, custaria ao consumidor 606 euros por mês. No entanto, se optasse por um prazo de 25 anos, já pagaria uma mensalidade de 528 euros, ou seja, menos 78 euros por mês. Contudo, no final do prazo, teria pago em juros 58% do empréstimo.

Usar e abusar da conta-ordenado nem sempre é a melhor solução. A ideia de ter dois salários de uma vez pode parecer tentadora, mas o risco nem sempre compensa devido aos juros que é necessário pagar sempre que se recorre a este plafond extra. Além disso, é frequente os bancos cobrarem juros a rondar os 20% pela utilização do descoberto em conta, além dos encargos mensais que é habitual cobrar nestas situações (despesas de expediente, comissão de gestão, entre outros). Ou seja, uma coisa é utilizar esta modalidade de crédito pontualmente, num mês em que possa surgir um imprevisto, outra coisa é fazer da sua utilização uma regra.