Passos esperava “caderno de encargos” do PS e Costa queria ouvir “propostas” do PSD/CDS

Passos esperava “caderno de encargos” do PS e Costa queria ouvir “propostas” do PSD/CDS


Encontro entre PSD/CDS e PS durou quase três horas mas não chegou para firmar um compromisso.


Passos esperava um "caderno de encargos" do PS, para ver o seu programa de governo e Orçamento do Estado para o próximo ano aprovados, e Costa esperava ver propostas da coligação para dar ou não o seu acordo. Para o líder do PSD, o normal seria que os socialistas, como partido menos votado, apresentassem as suas linhas vermelhas, tal como fez o PCP com António Costa, lembrou Passos Coelho. Mas o secretário-geral do PS tinha a mesma expectativa, em sentido contrário: que fosse a aliança PSD/CDS a "explicar as condições de governabilidade que entende que devem ser criadas". Como fez o PCP, acrescento António Costa, com o qual foi "imediatamente possível partir para o diálogo sobre propostas em concreto". 

Está criado o impasse que Passos não quer rotular como sendo o jogo do empurra. Costa, na mesma linha, depois de classificar o encontro de "inconclusivo", ensaiou o discurso de que não fechou a porta a entendimentos com a coligação mas alertou para que todo e qualquer compromisso vai depender da reunião de terça-feira, para a qual cada uma das partes envolvidas volta a esperar o mesmo uma da outra. O líder do PSD, depois de Costa deixar a sede do PSD, veio dizer que, face à ausência de propostas do PS, a coligação "seleccionou propostas do PS" para se referir à possibilidade prática de cada um. Na próxima semana, garantiu Passos, a coligação fará um "exercício ainda mais atrevido olhando para as propostas do PS".

À saída do encontro, que durou cerca de três horas e que decorreu numa das salas de reuniões da sede do PSD, em Lisboa, Passos lembrou que a coligação somou no domingo uma vitória nas urnas e, como tal, deverá ser convidada por Cavaco Silva a formar governo.Num apelo mais ou menos indirecto, atirou para o PS a responsabilidade de dar ou não as condições de governabilidade para o país e para o governo. Costa até aceita que tenha sido a coligação a vencer. Mas lembra que foi sem maioria e que há um quadro parlamentar novo. Ou seja, o ónus está no PSD/CDS e não no PS. Costa sacudiu e afirmou: "PSD/CDS têm o ónus de criar as condições para a governabilidade". 

Entre quem deve ou não ceder, Costa recusou avançar sobre de que medidas em concreto falaram PSD/CDS e PS, três partidos que se sentaram à mesa para discutir as condições de governabilidade do próximo governo, tal como pediu Cavaco Silva esta semana a Passos. Mas o líder do PSD, que diz ter como hipótese de trabalho qualquer cenário, até mesmo a inclusão do PS no governo, admitiu que está "totalmente disponível" para analisar a reposição dos salários em dois anos (e não em quatro, como propõe a coligação) e para antecipar o fim da sobretaxa do IRS, desde que isso não implique desvios na trajectória de recuperação. E aproveitou para picar os socialistas. "O PS não apresenta nenhuma proposta para medidas de recuperação económica, sem pôr em risco a trajectória de consolidação das contas públicas". E outra picada. "Se não for apresentada nenhuma proposta é muito difícil dizer se concordamos ou não". 

Costa, que chegou à São Caetano à Lapa com Carlos César, Mário Centeno, Pedro Nuno Santos e Ana Catarina Mendes, disse não estar "desiludido" com o desfecho do encontro, até porque não chegou à sede do PSD com "ilusões". Passos, que esperava o líder do PS com Paulo Portas, Marco António Costa, Jorge Moreira da Silva, Assunção Cristas e Pedro Mota Soares, reiterou a disponibilidade de sociais-democratas e centristas para acolher propostas do adversário e prometeu apertar mais com o PS, na terça-feira."Seremos mais atrevidos", prometeu Passos Terá sido o encontro de hoje um ensaio para terça-feira? Os líderes dirão. Cavaco Silva, em Belém, já ficou avisado: o compromisso é possível, provável é que ninguém sabe.