"Deitar cedo e cedo erguer" é um lema que pode ser muito bonito, mas não é para qualquer um. Sobre nós, humanos, há uma máxima que prevalece: cada um tem o seu ritmo. Seja na prática desportiva, na alimentação, ou no adormecer e no acordar. Se temos ritmos diferentes, porque é que não temos horários ajustados a isso?
O neurologista Alexandre Castro Caldas defende que o rendimento académico dos alunos pode ser melhorado se o horário escolar for adaptado ao ritmo de sono dos adolescentes que se deitam mais tarde.
Em declarações à agência Lusa, o especialista exemplificou que nos Estados Unidos da América os resultados dos alunos melhoraram quando decidiram começar as aulas mais tarde. “Os miúdos estavam mais despertos, conseguiam trabalhar melhor. É preciso perceber os horários de sono dos adolescentes”, afirmou o director do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa.
No entanto, defendeu que as medidas não devem ser replicadas de forma universal: Primeiro “é preciso ver o que as escolas estão a fazer” e estudar a realidade de cada país. As neurociências e a educação é o tema que Castro Caldas leva amanhã ao Congresso Mundial de Educação, iniciado hoje em Lisboa por iniciativa do sector privado.
De acordo com o neurologista, as ciências do cérebro devem contribuir para melhorar o ensino, sendo este um dos temas mais em foco no mundo atual. A investigação em torno do funcionamento do cérebro pode contribuir “de forma muito significativa” para a forma de ensinar, frisou, acrescentando que nos EUA esta temática está “muito mais desenvolvida”.
Além de perceber os ritmos de sono dos adolescentes e adequar o horário escolar, pode também contribuir para melhorar o rendimento dos alunos a presença de atividades na escola como teatro e a música. “As pessoas trazem a ideia de que é preciso introduzir muito cedo os computadores na escola, mas Portugal é dos países com mais computadores e se calhar não é o mais correcto, porque Portugal não é dos que tem melhores resultados”, disse.
Para Castro Caldas, é preciso “perceber a importância do teatro e da música nas escolas”, uma vez que o exercício da memória e a concentração também se trabalham por aí. “O teatro, por exemplo, é uma forma de estimular a memória é preciso decorar um texto”, referiu.
A dimensão das turmas tem também o seu papel. “Turmas grandes não é o melhor modelo, é preciso uma maior proximidade entre o aluno e o professor. Num país com tantos professores, isso não deve ser um problema”, sustentou.
“É preciso que os miúdos percebam que têm dentro da cabeça um computador muito melhor do que qualquer outro”, afirmou, defendendo aqui a importância do papel do professor.
O congresso: “A Nova Educação na Era Digital”. Durante dois dias, vão estar em Lisboa vários agentes do sector, mas também convidados de outras áreas como o sociólogo Zigmunt Bauman, Prémio Príncipe das Astúrias.
Participam igualmente Maurice de Hond, cofundador das primeiras escolas Steve Jobs e John Jones, especialista em mudança educativa.O encontro é organizado pela Confederação Mundial de Ensino Privado (COMEP), com sede na Argentina, pela Confederação Europeia de Ensino Privado, com sede em Espanha, e a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo de Portugal (AEEP).