Hitchcock. À sua custa somos todos “Psycho”

Hitchcock. À sua custa somos todos “Psycho”


Este é o terceiro DVD da colecção de filmes premiados que pode comprar com o i aos sábados. O filme de Sacha Gervasi é de 2012 e venceu o Óscar para Melhor Caracterização.


Torneira para o lado, o som da água a sair do chuveiro e, quando muito, uma ou outra cantilena de algibeira, mas nem sempre. Depois, tan tan tan tan tan tan tan tan tan – este é o típico som em crescendo utilizado em filmes de terror, pedimos desculpa por ser tão arcaico –, a imagem de um vulto com uma faca em riste, de seguida o puxar da cortina e o grito da vítima encurralada na sua banheira. Conseguiu atingir a sequência de takes, caro leitor? Aquela cena cliché que sempre sucede nestas produções – bem, actualmente nem sempre – e cujo desfecho já sabemos de cor. 

E se o temos como adquirido, intrínseco que é à parte do nosso cérebro que se assume como consumidor de cinema, em muito o devemos a Alfred Hitchcock. Foi através de “Psycho” (1960), uma das obras maiores do cineasta inglês, que a adaptou do livro homónimo de Robert Bloch, publicado um ano antes. “Hitchcock” (2012), o premiado filme de Sacha Gervasi, é precisamente sobre o processo de criação do filme, também este baseado numa obra literária: “Alfred Hitchcock and the Making of Psycho”. Horrores que prometemos explorar nas próximas linhas.

O DVD que o i vende com a edição de amanhã tem como protagonistas Anthony Hopkins e Helen Mirren no papel de Hitchcock e da sua mulher, Alma Reville, respectivamente. E não é tudo: Scarlett Johansson assume a pele de Janet Leigh, a actriz norte-americana que foi indicada para o Óscar de Melhor Actriz Secundária pela performance em “Psycho”. Se, por esta altura do texto, ainda está confuso no que às referências diz respeito, deixe-se disso, basta apenas perceber que o que aparece neste filme tem relação com o outro clássico.

“Hitchcock” segue o enredo de um dos filmes mais polémicos do realizador. No início dos anos 60, as críticas apontavam para um declínio criativo do génio do suspense. Coisa que o irritou de tal forma que começou a idealizar argumentos distintos do que à época se faziam. A principal razão pela qual “Psycho” foi tão controverso ficou a dever-se ao facto de Hitchcock ter decidido matar a figura feminina do enredo no início do filme. A Paramount, distribuidora que nunca tinha equacionado não apoiar o britânico, disse que o gravava, mas que este tinha de cobrir os encargos e a produção. Foi aí que Hitchcock provou aos críticos que velhos eram os trapos e, com a sua mulher e colaboradora Alma – isto depois de a relação passar por momentos difíceis –, criou uma obra que todos os amantes e cineastas do suspense e terror têm como referência. 

Por último, resta referir que “Psycho” foi feito com base na história do assassino Edward Theodore Gein (conhecido como Ed Gein), que durante bastante tempo andou fugido às autoridades. A prova de que as atrocidades deste mundo também inspiram artistas.