Europa. Frentes Populares em França, Espanha e Cortina de Ferro acabaram em tragédias

Europa. Frentes Populares em França, Espanha e Cortina de Ferro acabaram em tragédias


O pretexto foi a luta contra o fascismo e o nazismo, mas Mitterrand liquidou o Partido Comunista francês nos anos oitenta com esta fórmula.


A hipótese do Partido Socialista de António Costa se aliar ao Partido Comunista de Jerónimo de Sousa para formar governo não é nova na Europa. As Frentes Populares foram uma decisão política tomada pela Internacional Comunista em 1935, depois de o Partido dos Trabalhadores Alemães de Adolf Hitler ter conquistado o poder nas urnas.

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Nesse mesmo ano, a Internacional Comunista deu uma orientação a todos os partidos comunistas para mudarem de política e associarem-se aos partidos socialistas, que até aí eram considerados o seu inimigo principal. E mesmo com outras forças para que se opusessem ao fascismo. 

Frente Popular francesa de 1936 durou pouco um ano e o seu líder voltou as costas aos camaradas espanhóis

Um dos curtos êxitos desta nova política aconteceu em França, em 1936, em eleições ganhas por León Blum, que adoptou uma série de medidas estatistas, como a nacionalização da banca, da indústria e dos caminhos de ferro, ao mesmo tempo que aprovava a semana de 40 horas e os 15 dias de férias anuais. Mas logo no ano seguinte, os grandes grupos económicos de direita avançaram com uma forte oposição à coligação de Blum, criando divisões internas que levaram à marcação de novas eleições, de onde saiu um governo de direita, chefiado por Edouard Daladier.

O novo executivo rapidamente anulou todas as medidas aprovadas pelo anterior governo, enquanto o mesmo Léon Blum acabou por legitimar um acordo de “não-intervenção” contra a Frente Popular espanhola, que durou pouco tempo no poder. A sua actuação política ldevou a uma reacção política forte da direita que levou à guerra civil entre 1936 e 1939. Ganhou Franco com de vários governos fascistas, entre os quais o alemão e o italiano.

As aliança entre socialistas e comunistas, e até mesmo de outros movimentos de esquerda, foram sobretudo implementadas em países submetidos à ocupação alemã ou de outras ditaduras, como a italiana. A resistência francesa e a Jugoslávia também formaram o mesmo tipo de coligações como forma de resistirem à ocupação alemã. 

Ao longo dos anos, o movimento foi sendo conhecido por vários nomes, estendendo-se mesmo à União Soviética, depois de o país se aliar à Inglaterra e aos Estados Unidos durante a invasão das tropas de Hitler, em 1941. “A frente mundial anti-fascista acabou por ter a mesma filosofia da Frente Popular, embora juntando esquerdas mais moderadas e até republicanas na luta contra o fascismo”, explicou o historiador Fernando Rosas ao i, acrescentando que o mesmo aconteceu sob a égide do general de Gaulle.

Frente Popular espanhola provocou uma guerra civil e deu lugar à longa ditadura de Franco

Em contrapartida, a Noruega e a Dinamarca foram dos poucos países ocupados pelos nazis onde não houve este tipo de acordos porque já haviam partidos social-democratas tradicionalmente fortes e desenvolvidos. Depois da II Guerra Mundial, o modelo foi adoptado na maioria dos países da Cortina de Ferro com os resultados que se conhecem. Mais recentemente, no início da década de 80, a experiência voltou a ter um remake em França, quando o Partido Socialista de François Mitterrand se aliou ao Partido Comunista de George Marchais.

“Mas nessa altura, o PC tinha uma posição muito reduzida, acabando por ser uma espécie de lapela para o Partido Socialista. E desde essa altura que os comunistas foram sucessivamente perdendo filiados em França, sendo actualmente uma força muito reduzida”, diz ainda Fernando Rosas, explicando que as concessões de George Marchais a François Mitterand foram mínimas.   

A Grã-Bretanha manteve-se à margem destes movimentos porque não só o fascismo nunca foi uma verdadeira ameaça mas também porque as instituições do país sempre foram capazes de integrar estes sobressaltos, com um Partido Trabalhista suficientemente forte para integrar as alternativas socializantes ao conservadores.