Imaginemos que este génio ainda por aqui andava. Ou então não, coloquemos isto a tocar – quem diz isto diz qualquer outra lista de pedaços igualmente insubstituíveis de cançonetismo. Há muitas maravilhas de Lennon por onde escolher (e não são poucas), portanto estaremos sempre todos salvos. Mas voltando ao início. Se nenhum dos Beatles nos tivesse abençoado com a respectiva graça (Ringo incluído, quem disser o contrário é porque é tolo) estávamos aqui mas nada teria metade da piada, convenhamos. Não tem que ser o maior dos quatro mas é John Lennon, herói de grupo, mosqueteiro de romances imortais e revolucionário por canções próprias. Morreu em 1980, faria hoje 75 anos, e ouvi-lo é ter a certeza que está tudo certo.
“You’ve Got To Hide Your Love Away”
1965, ano de “Help!” e o princípio de tudo o que viria acontecer, para os Beatles e para John Lennon. Este romance entre o artista e os respectivos receios, à guitarra e pandeireta, era só um dos primeiros aviso ao futuro: Lennon vai despir-se perante todos (chegou a fazê-lo, literalmente) e nada será como antes foi. Ainda hoje agradecemos, estamos a fazê-lo neste momento.
“Tomorrow Never Knows”
Por mais que tentemos, nunca nenhum de nós vai conseguir desligar-se de tudo para ser mais e melhor. O amanhã é sempre longe de mais, bem o sabemos, mas quem é que o disse desta maneira depois de Lennon? Fora isso, podemos sempre usar o título desta canção quando alguém nos perguntar “mas afinal que moda é esta agora do psicadelismo?” Não é de agora, não tem prazo, e uns quantos visionários ditaram regras. John, estávamos em 1966 (“Revolver”, que disco, senhores, que disco), como é que isto foi acontecer? Está assinado Lennon-McCartney mas sabemos bem de onde isto veio.
“The Ballad of John and Yoko”
Ainda o amor, pouco mais lhe interessava. John, o noivo, canta aqui sobre o que custa organizar uma boda e sair em lua de mel. Ninguém merece, Lennon não merecia. Com Yoko a seu lado, recorda manifestações pela paz sem sair da cama, cabelos compridos, perguntas incómodas, julgamentos silenciosos, “mas porque é que estes dois andam juntos”, mais a eterna comparação com Cristo e a América que tanto o idolatrava como o criticava.
“Love”
Um piano, uma folha de papel e uma caneta para apontar uns versos. Daqueles simples, tão simples que poucos sãos o que se lembram de os transformar em dedicatória cantada ao vício que é alguém entregar-se a quem o acolha. Menos o nosso Lennon, sem McCartney continuava nesse frequência (até sempre andou meio por conta própria, convenhamos). Esta faz parte do álbum John Lennon/Plastic Ono Band (1970), das melhores coisas que uma separação (neste caso de uma banda e não de um casamento) deu ao mundo.
“Instant Karma”
Uma chicotada de mão avisa em todos os que carregam armas sem saberem porquê, sem considerarem consequências. Um gigantesco “tenham vergonha” com o rock’n’roll de cidade suja e confusa como suporte maior. Um single de 1970, escrito, composto, gravado e editado em dez dias, com Phil Spector, uma notável muralha sonora e revolução em cada nota, em toda