O fado foi elevado a Património Oral e Imaterial da Humanidade pela Organização nas Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 2011, resultado da candidatura apresentada pela Câmara de Lisboa, através da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) e do Museu do Fado.
Desde então, o fado revelou “uma tendência de crescimento extraordinariamente positivo”, disse à Lusa fonte oficial da EGEAC, dando como exemplo as entradas no Museu do Fado, que em 2010 contabilizava cerca de 35.890 visitantes, em 2011 registava 59.474 ingressos e em 2014 conseguiu 170.000 visitantes.
Desde 2011, houve um aumento de 46% ao nível do público de fado e a nível nacional o incremento da programação de fado ascendeu a quase 50%, após a distinção.
Para a presidente da Associação Portuguesa Amigos do Fado, Julieta Estrela de Castro, “o fado foi bastante valorizado, indiscutivelmente, depois da classificação”. Porém, o crescimento que houve não trouxe qualidade, “não foi benéfico para a preservação da tradição”.
“O fado que se queria preservar tem tendência a perder-se”, alertou a responsável, explicando que há turistas que se vão embora sem o conhecimento correto.
Em Tavira, a distinção pela UNESCO, em 2013, da dieta mediterrânica foi “muitíssimo importante para a cidade, mas também para o Algarve”, considerou o autarca Jorge Botelho, reconhecendo o crescente benefício económico.
Segundo o responsável, a dieta mediterrânica tem permitido “atrair milhares de turistas nacionais e estrangeiros” que querem conhecer este “património assente na cultura, na gastronomia e no modo de vida”, mas também dinamizar o comércio tradicional, a restauração, as actividades ligadas ao turismo, a agricultura e as pescas.
“O que verificámos é que o comércio tradicional recuperou e hoje, em Tavira, podemos ver que praticamente todas as lojas – que, em 2019 e 2010, até quando cheguei à câmara, estavam fechadas – têm uma procura e hoje estão praticamente todas abertas e funcionam”, afirmou.
Jorge Botelho disse também que a restauração cresceu bastante, com a abertura de novos locais e a reabilitação de espaços já existentes.
A mais recente distinção atribuída a Portugal foi em 2014, com a classificação do cante alentejano, canto colectivo sem recurso a instrumentos, como Património Cultural Imaterial da Humanidade. A candidatura foi apresentada pela Câmara de Serpa e pela Turismo do Alentejo.
O coordenador da candidatura, Paulo Lima, disse que a classificação “trouxe, antes de mais, um reconhecimento do cante alentejano à escala global” e “aumentou de forma exponencial a auto-estima dos alentejanos por uma região, uma cultura e uma identidade”.
Actualmente, frisou, os alentejanos “olham para o cante alentejano com uma dignidade enorme, o que é visível na adesão dos jovens àquela prática musical” e na criação de novos grupos corais.
A classificação também trouxe “um acréscimo de responsabilidade do Alentejo e de outros territórios onde há cante alentejano na salvaguarda do bem imaterial” e “abriu uma nova perspectiva do cante como factor económico”.
Também o presidente da Câmara de Serpa, Tomé Pires, entende haver um acréscimo de responsabilidade. O município e a Turismo do Alentejo estão a gerir a implementação do plano de salvaguarda.
“A ideia é gerir o processo com regras definidas para que, quando tivermos de responder à UNESCO, tenhamos um relatório com as informações sobre tudo o que se está a fazer no âmbito do plano de salvaguarda do cante alentejano”, para que “a classificação se mantenha por muitos e bons anos”, disse.
A autarquia promove há 10 anos o ensino do cante nas escolas básicas, criou a Casa do Cante e está a trabalhar no projecto de criação do Museu do Cante e numa iniciativa que irá decorrer no último fim de semana de Novembro deste ano para comemorar um ano da classificação do cante.
O ciclo de candidaturas às listas da UNESCO – Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade e Lista do Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente – compreende 18 meses entre a entrega e o conhecimento da decisão do Comité.
Segundo fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), que tutela a Comissão Nacional da UNESCO, Portugal aguarda actualmente a decisão sobre a candidatura do fabrico de chocalhos, que terá uma decisão em Dezembro, e no início deste ano foram apresentadas candidaturas do processo de confecção da loiça preta de Bisalhães e da falcoaria, analisadas em 2016.
O MNE refere que “não têm aparecido muitas candidaturas, mas sim notícias sobre possíveis intenções de candidaturas acerca das quais a Comissão Nacional da UNESCO não recebeu quaisquer informações”, talvez por “alguma falta de informação sobre os requisitos”.
Lusa