12 de Novembro de 1935. Foi neste dia que António Egas Moniz, em colaboração com o cirurgião Almeida Lima e o psiquiatra Cid Sobral, tentou uma intervenção até então nunca feita para tratar doentes psicóticos. A primeira operação aconteceu no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, e a doente era uma mulher de 60 anos, a quem foram abertos dois buracos no crânio. A técnica que até hoje permanece controversa consistia num um corte nas fibras que ligam duas zonas do cérebro, o lobo frontal e o tálamo, intervenção que parecia reduzir os surtos.
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O resultado entusiasmou a comunidade internacional e Egas Moniz não tardou a receber várias nomeações para o Nobel da Medicina pela sua leucotomoia pré-frontal, mais tarde baptizada de lobotomia por médicos norte-americanos. Entre 1938 e 1950 há registo de 18 nomeações envolvendo o médico, que viria a ser o primeiro português agraciado com o Nobel em 1949. Foi aliás neste ano que recebeu o maior número de nomeações, revelam os arquivos dos prémios Nobel consultados pelo i. No total, deram entrada nove nomeações.
Na altura, Egas Moniz dividiu o prémio com o médico suíço Walter Rudolf Hess, este distinguido pela descoberta da organização do cérebro na coordenação dos órgãos internos. Ao médico português era reconhecido o papel na descoberta do “valor terapêutico da lobotomia em algumas psicoses.” Em 1936, quando Egas Moniz publicou os resultados com os primeiros 20 doentes, pensava-se que os efeitos secundários como incontinência, apatia ou perda de memória seriam temporários. Com o tempo, percebeu-se que não e ao longo da história o prémio foi várias vezes posto em causa por tratar-se de uma técnica “desumana”. Egas Moniz defendeu o seu uso apenas em casos com risco de suicídio ou agressão, mas nos EUA a lobotomia tornou-se procedimento de primeira linha até surgirem os primeiros antipsicóticos já nos anos 1950. Foram operados mais de 20 mil doentes e muitos deles perderam todas as reacções.
pesar de reconhecer a controvérsia, o comité Nobel manteve sempre a distinção de Egas Moniz. Foi preciso esperar 49 anos até haver outro português contemplado com um Nobel. Saramago recebeu o prémio da literatura em 1998. Consta que António Lobo Antunes é um eterno candidato, mas a organização só divulga os nomeados passados 50 anos. Assim, só é possível saber que portugueses estiveram na calha para um Nobel até 1964. Nem todos os nomes são conhecidos, mas fazem parte da história.