© Steven Governo/Lusa
Para muitos – entre os quais me incluo – foi estranho ouvir na noite de domingo tantas vozes a apelar a uma união das esquerdas liderada por António Costa.
Tanto mais que algumas das figuras que deram a cara por essa solução vinham, até há poucos dias, criticando asperamente o líder do PS. De resto, a ideia nunca teria pernas para andar, pois esses partidos batem-se por propostas radicalmente opostas às dos socialistas – e se o PS não consegue sequer unir-se a si próprio, como poderia entender-se com terceiros?
Algumas pessoas parecem ainda não ter reparado que, sozinho, o PSD obteve mais deputados do que qualquer outro partido. Por muitas voltas que se tente dar ao assunto, não oferece margem para dúvidas quem os portugueses escolheram como primeiro-ministro.
Mas estas eleições vieram também mostrar a importância de as legislaturas serem cumpridas até ao fim. Ao longo dos três últimos anos ouviu-se, numa base quase diária, que o governo tinha de cair porque perdera o apoio popular e, por conseguinte, a legitimidade. Ora, o resultado eleitoral veio mostrar precisamente o contrário. A maioria silenciosa não queria que o governo caísse. E manifestou-se quando e da forma que achou que tinha de se manifestar: pelo voto, dando à coligação a maioria no parlamento.
Estes resultados não agradam a muita gente, mas decorrem do normal processo democrático. Vendo bem, talvez seja justamente por isso que não agradam. É que a democracia, quando não ganha quem nós gostaríamos, pode ser uma chatice.
P.S.: Uma nota final para o discurso de Costa no domingo – que, em geral, foi sensato e equilibrado. O secretário-geral do PS disse que “a coligação tem de perceber que há um novo quadro e não pode julgar que pode continuar a governar como se nada tivesse acontecido”. Aparentemente, Costa é o único que ainda não percebeu (nem quer perceber) até que ponto essa frase se aplica a si próprio e ao seu partido.