Prepare-se para entrar num labirinto que à medida que avança fica mais intrincado. Ao todo há 40 editoras que este ano disputam o mercado dos livros escolares. Cada uma com vários manuais para a mesma disciplina. Se no 1.º ciclo existem seis e sete livros para a mesma cadeira, nos seguintes, as contam duplicam ou triplicam, chegando a atingir 12 e 13 livros no secundário. Professores, pais e alunos têm de se debater com uma lista interminável de manuais escolares, fichas, apêndices, e outros materiais de apoio cujo prazo de validade é cada mais curto.
Na queixa apresentada pelo Reutilizar ao Provedor de Justiça, o movimento refere que “são as editoras que alteram os livros a cada edição e são também elas que lucram directamente com o facto de essas alterações resultarem na impossibilidade real de os reutilizar”. Considerações à parte, o certo é que as listas de manuais disponibilizadas do 1º ciclo até ao secundário no site da Direcção-Geral de Educação têm dezenas páginas e, consultadas exaustivamente mostram erros e repetições. Nalguns casos, apenas o código ISBN do livro muda mantendo-se o mesmo título das versões anteriores.
O movimento Reutilizar recorda que este “esquema” de comprar livros novos todos os anos causa também danos significativos nos planos ambiental e económico. As contas podem surpreender: “Um milhão e 400 mil alunos que frequentam os vários níveis de ensino em Portugal, utilizam aproximadamente 10 mil milhões de livros de compra obrigatória. São suficientes para encher três piscinas olímpicas. A cada ano. E são necessárias 73 mil árvores e 110 milhões de metros cúbicos de água (suficiente para abastecer a casa de todos os portugueses durante 3 meses) para os produzir”, segundo contas do movimento.
De acordo com dados da livraria online Wook, cada família gasta, em média, 71 euros em quatro manuais necessários para o 3º. ano. O valor aumenta substancialmente, por exemplo no 7º., em que só nos livros uma família pode gastar mais de 250 euros. No secundário, este valor mantém-se, apesar de o número de manuais necessários ser menor.
Num mercado dos livros escolares, aquelas que absorvem a maior fatia são duas: Porto Editora – a que também pertence a AREAL –, e a Leya, que detém a Gailivro, a ASA e a Texto Editores. Este facto explica-se com a oferta mais variada e multidisciplinar de manuais, desde o 1º ao 12º ano. A Porto Editora, juntamente com a Areal Editores, oferece mais de 300 manuais diferentes para todos ciclos.
Confusão nas línguas Todos os anos os professores são confrontados com listas das diferentes editoras, com as opções de oferta para as várias disciplinas. O que à partida poderia ser um processo simples torna-se numa tarefa árdua. No caso das línguas, o cenário complica-se ainda mais, porque o mesmo livro pode ser usado nos diferentes anos, consoante o nível de aprendizagem. O Alemão é o exemplo que mais chama a atenção, tendo até a associação portuguesa de professores desta disciplina feito, e enviado ao i, um levantamento das incoerências na adequação dos manuais ao nível de escolaridade.
O i quis perceber junto das maiores editoras quantos livros escolares vendem em média por ano, mas não obteve respostas conclusivas. A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros não prestou esclarecimentos “devido à sobrecarga de trabalho com o início do ano lectivo”. A Porto Editora não se mostrou disponível para participar neste artigo. Já a Leya e a SANTILLANA não responderam às perguntas em tempo útil.