Nas vésperas, Woody Allen


Esta não é a direita civilizada, nem a social-democracia, nem a democracia cristã, nem tem nada a ver com as palavras do Papa Francisco.


© Riccardo De Luca/AP

Depois de passa ruma semana em Portugal assistindo à campanha eleitoral, Woody Allen foi obrigado a concluir: “Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher.”

Esta sabedoria é essencial no domingo. Na verdade, temos à nossa frente uma encruzilhada que é uma verdadeira salgalhada. Votar em quem? Em partidos que não vão a lado nenhum, a não ser gabarem-se de que são os grandes vencedores na noite em que se conhecerem os resultados eleitorais, quaisquer que estes sejam? Ou votar nos dois partidos do centrão, como dizem os brasileiros?

A questão resume-se numa, ou não fosse estarmos perante uma encruzilhada: votar no que tivemos até agora, que é terrível, ou votar numa incógnita que é o que nos dizem ser a opção PS? Há quem lhe chame votar na direita ou na esquerda. Com a União Europeia a dar cartas e o FMI a vigiar, os bancos a definirem políticas e as agências de rating a castigarem quem não alinhar com o que dizem, com a maldição da troika bem presente (apesar de aparentemente ausente), qual é a diferença entre direita e esquerda no poder? 

Não, não vou dizer que não é nenhuma. Sobretudo tendo experimentado na pele esta direita que nos governou durante os últimos quatro anos. Esta não é a direita civilizada, não é a chamada social-democracia, não é sequer a democracia cristã, nem tem nada a ver com as palavras do Papa Francisco, por mais crucifixos que levem nos bolsos. Pois, dirão outros, mas o PS também não é um partido socialista nem vai fazer muita diferença quanto a alguns aspectos da governação.

Reconheço que é verdade, mas às vezes uma pequena diferença de tratamento faz toda a diferença. Não tenho nada contra com quem faz fortuna trabalhando. Mas tenho tudo contra quem enriquece explorando, roubando, manipulando, mentindo e etc. Tenho tudo contra quem governa com arrogância e total indiferença social. 

Hoje, quase em véspera de eleições, acho que Woody Allen pode ser um bom companheiro. Ele, que para sua própria higiene mental não esteve em Portugal durante a campanha, enviou mensagem de solidariedade via FB: “A vantagem de ser inteligente é que podemos fingir que somos imbecis, enquanto o contrário é completamente impossível.” Na verdade, ajusta-se.

E ele acrescentou: “A realidade é dura, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife…” Há que lutar por ele, e sejamos solidários, que o bife seja para todos. Concluindo ainda com Woody Allen, já que ele deixou um SMS: “Interessa-me o futuro porque é o lugar onde vou passar o resto da minha vida.” A mim também. Logo, só vos peço uma coisa: votem e votem bem. Ou, pelo menos, o menos mal. 

Escreve à sexta-feira

Nas vésperas, Woody Allen


Esta não é a direita civilizada, nem a social-democracia, nem a democracia cristã, nem tem nada a ver com as palavras do Papa Francisco.


© Riccardo De Luca/AP

Depois de passa ruma semana em Portugal assistindo à campanha eleitoral, Woody Allen foi obrigado a concluir: “Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher.”

Esta sabedoria é essencial no domingo. Na verdade, temos à nossa frente uma encruzilhada que é uma verdadeira salgalhada. Votar em quem? Em partidos que não vão a lado nenhum, a não ser gabarem-se de que são os grandes vencedores na noite em que se conhecerem os resultados eleitorais, quaisquer que estes sejam? Ou votar nos dois partidos do centrão, como dizem os brasileiros?

A questão resume-se numa, ou não fosse estarmos perante uma encruzilhada: votar no que tivemos até agora, que é terrível, ou votar numa incógnita que é o que nos dizem ser a opção PS? Há quem lhe chame votar na direita ou na esquerda. Com a União Europeia a dar cartas e o FMI a vigiar, os bancos a definirem políticas e as agências de rating a castigarem quem não alinhar com o que dizem, com a maldição da troika bem presente (apesar de aparentemente ausente), qual é a diferença entre direita e esquerda no poder? 

Não, não vou dizer que não é nenhuma. Sobretudo tendo experimentado na pele esta direita que nos governou durante os últimos quatro anos. Esta não é a direita civilizada, não é a chamada social-democracia, não é sequer a democracia cristã, nem tem nada a ver com as palavras do Papa Francisco, por mais crucifixos que levem nos bolsos. Pois, dirão outros, mas o PS também não é um partido socialista nem vai fazer muita diferença quanto a alguns aspectos da governação.

Reconheço que é verdade, mas às vezes uma pequena diferença de tratamento faz toda a diferença. Não tenho nada contra com quem faz fortuna trabalhando. Mas tenho tudo contra quem enriquece explorando, roubando, manipulando, mentindo e etc. Tenho tudo contra quem governa com arrogância e total indiferença social. 

Hoje, quase em véspera de eleições, acho que Woody Allen pode ser um bom companheiro. Ele, que para sua própria higiene mental não esteve em Portugal durante a campanha, enviou mensagem de solidariedade via FB: “A vantagem de ser inteligente é que podemos fingir que somos imbecis, enquanto o contrário é completamente impossível.” Na verdade, ajusta-se.

E ele acrescentou: “A realidade é dura, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife…” Há que lutar por ele, e sejamos solidários, que o bife seja para todos. Concluindo ainda com Woody Allen, já que ele deixou um SMS: “Interessa-me o futuro porque é o lugar onde vou passar o resto da minha vida.” A mim também. Logo, só vos peço uma coisa: votem e votem bem. Ou, pelo menos, o menos mal. 

Escreve à sexta-feira