Kanoa Igarashi. É provável que este nome só lhe chame a atenção por ser esquisito. Mas podemos dizer que será uma questão de tempo. No mundo das ondas, Kanoa é apontado como o maior talento a despontar no surf mundial. O jovem atingiu ontem a maioridade (18 anos) e festejou-a em Portugal, onde participou no Allianz Billabong Pro Cascais (eliminado na ronda 2).
Nasceu em Santa Monica, na Califórnia, e antes de ir para a primeira classe já deslizava nas ondas de Huntington Beach. Precoce? Então fique a saber que aos seis anos teve o seu primeiro patrocínio. Hoje passa a vida a viajar e Portugal é um dos seus locais preferidos, confessa ao i: “Adoro as pessoas, as ondas, tenho bons amigos cá. É óptimo estar por aqui, é um sítio belo e que custa deixar. Ondas? Adoro os Coxos, Pedra Branca, Carcavelos, Supertubos… Há muitas ondas diferentes, acho que é por isso que gosto tanto.”
A sua face denuncia a descendência japonesa. Não lhe bastava ser um dos surfistas mais conhecidos dos Estados Unidos: quando vai à sua segunda casa, no continente asiático, é uma estrela ainda maior. Muita pressão para um adolescente que quer fazer as coisas normais da idade enquanto treina para um dia ser o melhor do mundo. “Vou muito à televisão, estou a fazer uma espécie de reality show japonês. É bom voltar, porque tenho lá os meus avós e parte da família. Adoro a comida, as pessoas, é outro lar para mim. Gosto de ir pelo menos uma vez por ano, só para estar lá e tirar algum tempo fora do surf.” Mas foi em casa que viveu o seu maior momento, quando chegou às meias-finais do mítico US Open of Surfing, em Huntington Beach. “Foi óptimo, ajudou-me a subir ao top-10, onde nunca tinha estado. Foi um dos melhores resultados da minha vida, a remar para as ondas onde cresci a surfar. Com esse resultado, talvez possa qualificar-me este ano. Fiquei supercontente, e consegui-lo em frente da minha família e dos meus amigos foi muito especial”, conta.
A vida de Kanoa Igarashi parece um sonho. Mas para ser o melhor surfista do mundo terá de treinar, treinar e treinar. Não há atalhos. “Esse é o meu objectivo. Sei que o caminho é longo, ainda tenho de me qualificar [para o CT]. Gosto muito do que faço, divirto-me bastante, posso viajar por todo o mundo para surfar as melhores ondas e estar com os meus amigos. Não parece que estou a trabalhar, sinto que estou de férias 24/7. Mas estou a gozar bons tempos. O que acontecer, acontece. Enquanto estiver a divertir-me não vou sentir muita pressão.” Apesar de a praia ser o seu escritório, de vez em quando Igarashi gosta de se desligar do surf. Além das saídas com os amigos, também joga golfe. Da adrenalina máxima para a mínima. É a tal dualidade do yin-yang, há que equilibrar as coisas.
Quando começou a dar nas vistas em Huntington, a HSS, uma loja de surf local, decidiu patrociná-lo, apesar de só ter seis anos. “O team manager era um gajo com quem eu estava sempre a surfar. Chamava-se Mike e ajudou-me muito na carreira, a arranjar pranchas, a ir aos eventos, tomava conta de mim”. Não se enganaram. Kanoa tinha mesmo talento. Aos 12 assinou pela Quiksilver. Já partilhou a casa da marca com Kelly Slater e surfou ao lado do Rei. ”É o melhor de sempre. Tenho a oportunidade de estar perto dele, de surfar com ele. É um surfista maravilhoso, muito inteligente. Aprendo muito só de o ver e de ouvir o que ele diz. Todos querem ser como o Kelly.”
O surf está em ascensão, mas em Portugal o desporto-rei é o futebol. Qual a opinião de Kanoa quanto ao soccer? “O Benfica é o meu clube. De vez em quando vou aos jogos, é algo que gosto muito de fazer quando estou cá, sentir a paixão dos adeptos. É uma experiência muito fixe, temos ondas perto de Lisboa e, por vezes, até vemos alguns dos jogadores a passear.” Kanoa joga com os dois pés, mas em cima de uma tábua. Com apenas 18 anos e o 6.º lugar no circuito de qualificação, está perto de assegurar um lugar na elite mundial em 2016. Poderá ser o início do seu caminho para o topo. Seria o confirmar de todas as previsões que fazem sobre ele nos últimos anos.