No último comício de campanha do Bloco de Esquerda (BE), a líder bloquista Catarina Martins reforçou a disponibilidade do seu partido em fazer parte de "soluções que salvem Portugal", agradeceu a todos pelo "grande Bloco que foi" nesta campanha, e apelou aos emigrantes, aos lesados do PSD/CDS, aos pensionistas e aos desempregados, para que no próximo Domingo "não desistam de Portugal", começou por dizer. "Nenhum partido como o BE lutou tanto contra a condição da saúde pública da democracia para que as palavras tenham mesmo significado" afirmou a porta-voz bloquista reiterando que o seu partido foi o que mais combateu os quatro anos de austeridade. E se nos últimos dois dias não houve ataques ao PS, esta sexta-feira não passou em claro: "A esquerda definesse pondo o dedo na feirda para as soluções da vida concreta das pessoas, a protecção do emprego tem de ser a causa maior da esquerda", lançou, de olhos postos no secretário-geral socialista António Costa, que ainda não respondeu a Catarina Martins sobre eventuais acordos pós-eleitorais.
E como o Bloco quer ser um partido disponível para ser governo, defendendo as pessoas que "querem viver aqui de cabeça erguida", a responsável máxima do BE apelou, esta noite, aos abstencionistas: "no Domingo vão votar, a abstenção é o jogo para que fique tudo na mesma, pensem nos 485 mil desempregados que este governo expulsou e que não podem votar, em nome deles, nos desempregados, e nos pensionistas, para que desta vez seja Bloco de Esquerda", rematou fazendo um esforço final pelo voto útil. Neste último comício/jantar na Alfândega do Porto, onde Catarina é cabeça-de-lista, houve quatro discursos, o do número 2 pelo Porto José Soeiro, o da cabeça-de-lista por Lisboa Mariana Mortágua e o do ex-coordenador do BE Francisco Louçã perante uma plateia com perto de 800 pessoas.
A cabeça-de-lista por Lisboa Mariana Mortágua fez um discurso apelando ao voto dos mais jovens, da “sua geração”, para falar de um governo que pede agora “estabilidade “ e que nos últimos quatro anos se “demitiu de investir no país”, mandando emigrar cerca de 485 mil portugueses, “dinamismo”, ironizou a candidata bloquista. E para eles, que se juntaram à campanha do Bloco nestas legislativas, Mariana disse: “fazem-no porque sabem que a sua liberdade depende de por um basta na liberdade dos mercados financeiros e ao poder absoluto, a quem pede estabilidade para governar contra o povo”. E por isso, como o seu partido é “a força que cresce com a geração que não desiste de se fazer representar”, só existe um voto possível a 4 de Outubro, “o que conquista o teu futuro”, ou seja, o no BE.
O ex-coordenador do BE Francisco Louçã, que já tinha discursado em Coimbra no início da segunda semana de campanha, revelou-se realizado. “O mais difícil já foi ganho: a alma de um povo que precisava de sentir que há quem lute contra esta ditadura do conformismo”, afirmou arrancando uma enorme salva de palmas. Embalado por uma campanha “entusiasmante”, o “Super Bloco de Esquerda” tem agora uma grande responsabilidade, a “de responder por Portugal, pelos pensionistas, pelos desempregados”, sublinhou.
De um dos fundadores históricos veio novo apelo aos mais jovens, mas também aos que foram prejudicados pelos anos de austeridade : pensionistas, desempregados e aos emigrantes, uma “sondagem" que o BE fez durante estes dias, desprezando as restantes. “Essa sondagem nós fizemos, e a essas pessoas dissemos que há uma esquerda que luta por vós”, negando que qualquer outro partido o tenha feito, onde a sua preocupação foi unicamente apelar à maioria absoluta, “um desespero”, disse.
E depois do apelo, a crítica: ao Presidente da República Cavaco Silva, a Passos Coelho, e também ao PS. Ao primeiro, que anunciou que não estaria presente nas comemorações do 5 de Outubro, disse que, “felizmente faltam 3 meses para acabar este tormento porque Cavaco já não será presidente”. Ao segundo, usou o acontecimento de hoje durante um almoço do PS, com o fadista Carlos do Carmo: “Carlos do Carmo disse tudo, quem tem amigos assim não precisa de inimigos”. E por último, Passos, que andou com um crucifixo ao bolso por Vizeu: “ficámso a saber que estas campanha tem pelo menos uma virtude, é a salvação da alma penada do futuro ex-primeiro-ministro”, rematou o antigo líder bloquista sob uma onda de risos.
E como a condição de deixar cair a restruturação da dívida para possíveis acordos com os socialistas tem estado um pouco ausente do discurso de Catarina Martins, coube a Francisco Louçã reforçar essa bandeira política do BE. “Na segunda-feira que telefone vai tocar? O de Berlim, o maior perigo para Portugal”. Numa Europa “dividida”, em que a “chefia nunca foi tão clara”, onde só é garantida mais austeridade, conduzida, segundo Louçã, pela chanceler Angela Merkel, “é necessário resolver a dívida”. “Dissemo-lo ao país, e repetimo-lo com confiança, um governo que saiba as suas prioridades tem de evitar o sufoco da dívida” para recuperar o investimento, o emprego, e a “dignidade das pessoas”. “Para por o país de pé”, exultou.
Por último, uma mensagem para o cenário político pós-legislativas. “Segunda não queremos jogos, talvez haja quem queira estar do lado da confusão, mas vai haver quem esteja do lado da força tranquila de um BE maduro, em quem o país pode confiar e que abra caminho para um Portugal que se possa respeitar.”, concluiu.