Ao terceiro disco, os Virgem Suta chegaram ao “Limbo”. O sucessor de “Doce Lar” (2012), produzido por Nuno Rafael, continua a manifestar a dualidade lírica que marca as canções da dupla de Beja, e é apenas isso que o título pretende transmitir, rejeitando-se desde logo qualquer hipótese de encruzilhada criativa ou de indefinição da banda. Nuno Figueiredo, um dos lados da dupla, explica a escolha: “Temos sempre o hábito de contar as histórias um bocado ao contrário. No meio das canções há um segundo sentido ou uma mensagem subliminar. E depois porque desde a fase de concepção do disco até ao seu lançamento passou um ano e este último foi bem difícil para nós, em termos de gestão de carreira, de peripécias que nos atrapalharam de alguma forma o caminho. Sentimo-nos um bocado nesse limbo.”
O olhar actual atravessa essa via de dois sentidos que é a música dos Virgem Suta, com referências ora mais subliminares ora mais vincadas, como acontece em três faixas em particular: “O Charlatão”, “Viva o Povo” ou “Regra Geral”. Este último com um cheirinho a samba, por influência de uma passagem do duo pelo Brasil, em 2014, para participar na Festa Portuguesa, em Belo Horizonte. Canções que, em conjunto com as outras nove, traduzem a fase de maturidade em que a banda se encontra. “É um disco muito importante porque todos os arranjos foram feitos por nós. Partimos de uma escola com o Hélder Gonçalves, que nos ensinou muitas coisas. Agora houve um processo novo e mais rápido. Por outro lado escolhemos o Nuno Rafael, com quem desejávamos trabalhar de forma directa há muito tempo”, explica Jorge Benvinda.
Os Virgem Suta não são de guardar o material que sobra de umas gravações para as outras e, apesar de haver diferenças criativas entre a dupla, compor novas canções é sempre um desafio em que nenhuma divergência leva a melhor sobre o lado criativo. “Há uma série de coisas que nos une e é por isso que conseguimos tolerar-nos. Acho que a idade também nos faz crescer e ser muito mais tranquilos com tudo”, explica o músico.
Maturidade também significa reconhecer o caminho que ficou para trás, que os levou a conhecer e a trabalhar com muita gente que admiravam e que os ajudou a crescer musicalmente. Não os esqueceram e juntaram-nos a todos nos agradecimentos do disco. Uma manifestação de gratidão mais do que um balanço, embora este também tivesse acontecido. “Eu fi-lo. Considerei tudo, o ano passado. Não por desalento, mas porque as coisas têm de fazer sentido. Temos profissões paralelas, não somos músicos de manhã à noite”, diz Nuno Figueiredo, acrescentando que, enquanto criador de canções, no dia em que não houver esse sentido, as coisas ficam por aí: “Se for amanhã, é amanhã.”
Outro ensinamento que a idade e uma carreira de quase dez anos lhes proporcionou. “Este processo todo deu-nos uma maturidade muito boa. Conseguimos aproveitar o palco de uma melhor forma, usufruir mais da cumplicidade com o público. Nunca tivemos grandes deslumbramentos. Então focamo-nos muito no lado do gozo artístico”, refere Jorge Benvinda.
Parte desse gozo está em criar temas em que todos são metidos ao barulho, incluindo o próprio duo. Os Virgem Suta não se limitam a apontar o dedo quando observam as idiossincrasias nacionais. Até porque nem tudo é mau, como nota Nuno Figueiredo. “O ser português é muito engraçado. Isto não é só defeitos. No ‘Regra Geral’ fomos buscar um pouco esses pormenores e, no final, chegámos à conclusão de que é giro isto tudo. Não fossem os espertalhões e estávamos, de facto, num paraíso.”