A três dias das eleições, o PS posiciona-se:não é PàF, não é “radical” como a esquerda à sua esquerda e, a garantia mais recente e sonante, não é Sócrates. António Costa tenta afirmar um espaço eleitoral sem os contágios que têm queimado o PS e, apesar de assumir que o “levantamento” só se viu na segunda metade da campanha, garante estar a fazer a campanha de que gosta.
E que campanha é essa? Amanhã de ontem dá uma boa resposta à pergunta. O candidato do PS esteve em Lisboa, num espaço municipal onde a “comunidade de makers, pessoas com skills” podem “prototipar sem custos”. Não percebeu? Desmontando, longe do vocabulário local: é um espaço (o FabLab), criado no tempo da gestão municipal de AntónioCosta, onde jovens criativos e empreendedores podem testar as suas ideias com acesso a tecnologias avançadas, como impressoras 3D.
É o tipo de exemplo que Costa quer transpor ou, numa das palavras mais repetida na manhã de ontem, “prototipar” no Estado central. “O que o Estado e os municípios têm de fazer é serem catalisadores de uma enorme energia e vontade de fazer.” E ao mesmo tempo é também o tipo de campanha de que gosta, porque pode puxar dos galões executivos e estar a ouvir discursos positivos sem agitações e empurrões de maior (coisa que já se percebeu não ser a sua praia).
Entre os exemplos alinhados para falarem no FabLab estava Domingos Guimarães, que criou o projecto Academia de Código (programação) e gracejou com o actual momento de sondagens apertadas para o PS: “Acho que a minha próxima empresa vai ser qualquer coisa para trabalhar no mercado da memória recente.”
Não há dia em que não surja a vantagem da coligação na campanha socialista, bem como a comparação (quase obsessiva) com o adversário. No dia anterior, no comício no Parque das Nações, o líder da distrital do PS-Lisboa admitiu que “PSD e CDS disfarçados de PàF são muito bons em campanha, fazem como se nada se tivesse passado”. A seguir, Costa havia de vir como o candidato anti “promessas e q.b. de demagogia”. “Se calhar há outros que gostam mais deste estilo. Eu gosto mais da minha maneira de fazer política e acho que foi por isso que, em Lisboa, ganhei cada eleição com mais votos do que na anterior.” Já o dita a versão instrumental do “À Minha Maneira” dos Xutos que faz a banda sonora da candidatura.
No campeonato comparativo, o PS pisou ontem Santa Maria da Feira, onde a coligação fez um dos maiores comícios. OPS preferiu não usar o mesmo espaço e foi para o Largo do Tribunal com porco no espeto para os apoiantes que chegaram (alguns num dos quatro autocarros vistos no largo) para um comício composto que começou já depois do fecho desta edição.
Sócrates Para o “levantamento” – que já diz ver no país –, Costa faz agora uma descolagem estratégica. Já a tinha ensaiado, mas ontem, num almoço-comício em Abrantes, foi claro. “A situação é distinta de 2011. Não temos um programa assente no relançamento de grandes obras públicas, no grande investimento, no aumento da despesa pública.”
E ainda detalhou ao dizer que “é preciso não ter vergonha para confundir diminuição da sobretaxa com a construção do TGV e ter um grande descaramento para confundir reposição do complemento solidário para idosos com a construção de um novo aeroporto”. O despesismo é a crítica mais frequente do lado de lá da barricada.
Em Coimbra, ao fim da tarde, a caravana socialista engrossou, insistindo no grito “vi-tó-ri-a”. De camisola e cachecol do Benfica, um apoiante socialista atirava a Costa um “viva o Benfica e viva o PS. Vamos ganhar”. “Vamos ganhar”, respondeu o candidato, que ainda completou “e é hoje [ontem].” Por agora, vitória certa só mesmo do Benfica.