Passos e Portas arrancaram confiantes para a arruada de Viseu. Na Praça da República, um ecrã gigante fazia a contagem decrescente para o arranque do Benfica-Atlético de Madrid. Mas àquela hora (18h55), as atenções estavam viradas para o jogo político que tem a sua final no domingo. Pelos menos, a atenção de pouco mais de uma centena de pessoas que, à entrada para a Rua Formosa, paralela à Rua da Paz, esperavam os dois líderes com bandeiras e camisas da PàF.
Foi uma arruada curta, de pouco mais de 20 minutos. Mas serviu para Passos e Portas medirem o pulso à rua – e a capacidade de a controlar –, depois de dois dias sem contacto com a população dos distritos de Leiria e de Coimbra. Mais uma vez, Passos e Portas ouviram palavras de apoio (espontâneo) e insultos (alguns). Faltou ambiente de festa (não havia música, os tradicionais bombos) numa cidade que sempre ajudou oPSD a passar para o resto do país a imagem de mobilização.
Na caravana da PàF vive-se uma espécie de euforia contida. As sondagens do dia confirmam a tendência crescente da coligação nas intenções de voto. É certo que “sondagens são sondagens”, mas lá que elas animam hostes, não há como negar. O discurso, porém, é prudente: “A verdadeira sondagem é a de domingo.”
Repetem-se os jargões, que dão sempre jeito. No cavaquistão, Passos e Portas mantiveram-se fiéis à estratégia definida para o sprint final da campanha, que termina amanhã: a ordem é para não entrar em euforia, chamar os indecisos e radicalizar o voto no PS, nomeando o menos possível o nome de António Costa.
Das 24 autarquias do distrito de Viseu, 15 estão nas mãos do PSD (três delas em coligação com o CDS). É preciso dizer mais? O ambiente no centro de Viseu pode não ter sido o de outros tempos – a manifestação popular nas ruas também mudou –, mas o distrito que sempre deu vitórias bem expressivas a Cavaco Silva (grandes e boas, como pede Passos Coelho) entre 1985 e 1995 (daí a expressão ‘cavaquistão’) não falhou à PàF. O que importa agora para a coligação é o futuro. O passado está explicado. Ninguém o esquece, repete-se em voz alta na campanha.
Francisco Lopes, autarca de Lamego, durante um almoço havia de lançar o slogan do dia para galvanizar os militantes, falando num tempo verbal que só quem conhece bem o comportamento eleitoral do seu povo ousaria usar:“O cavaquistão passou a passistão.” Portas, na sua intervenção, havia de deixar a sua impressão. “Que o distrito de Viseu, distrito de longa tradição social-democrata, onde o CDSmanteve a sua identidade, possa passar no domingo a pàfistão.” Passos, de seguida, aproveita para assinar a substituição do cavaquistão, puxando a sardinha até si. “Aqui em Lamego ouvimos falar de passistão. Isto prova bem a coesão da nossa coligação”, atirou entre sorrisos. “Passistão ou pàfistão?”, perguntaram os jornalistas na arruada de Viseu. “Passistão para a coligação, pàfistão para o governo”, arrumou Passos.
Crucifixo e a fé O dia da coligação começou num lar da Santa Casa da Misericórdia de Lamego. Passos Coelho visitou a instituição com Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade Social, António Leitão Amaro, cabeça--de-lista da PàF em Viseu, e Hélder Amaral, primeiro nome do CDSno distrito. Passos, que durante a campanha nunca despiu o fato de primeiro-ministro – foi sempre chamado a justificar e a explicar os quatro de anos de liderança do governo –, ouviu desabafos (os cortes nas pensões) e sempre que foi chamado a ouvir o desespero de quem está fisicamente debilitado deixou uma mensagem de esperança. “Se não tem dores, isso é bom”, disse a uma idosa acamada.
No hotel-lar, ali ao lado, com vista para a serra, há cerca de 200 candidatos ao ingresso na lista de espera. Passos, mais uma vez, opta por não entrar em fatalidades, sobretudo quando se trata de fazer o balanço de uma legislatura. “Há outras instituições com capacidade de resposta. O importante é que as pessoas não tenham de sair para fora da sua região.” E deu alternativas: “Há outras ofertas que não passam pela institucionalização das pessoas, como o apoio domiciliário.” A uma rádio local, explicava em directo o significado da visita:“Não gostamos de deixar ninguém para trás.”
OEstado social está na agenda da PàF, que quer mostrar que passada a tempestade (sacrifícios), os mais afectados serão os primeiros a beneficiar da recuperação. “Se houver coerência no projecto de país e estabilidade de governo, os próximos quatro anos serão de recuperação de rendimentos, seja para contribuintes, seja para reformados”, concretizou. Passos preferiu a prudência: “Não vai ser tudo rosas. Não podemos ser apanhados desprevenidos.”
O dia terminou com um jantar-comício em Viseu onde esteve Rui Rio. Passos e Portas estão confiantes. Para o ainda primeiro-ministro é também uma questão de fé. Traz consigo no bolso um crucifixo que lhe foi entregue por uma popular durante a campanha. “Tenho fé nas pessoas”, confessou. Só na sexta-feira irá arrumar tudo aquilo que lhe foi entregue nas ruas por onde passou. Serão boas ou más recordações? A resposta chega no domingo.