© Mario Cruz/Lusa
Faltam dois dias para terminar a campanha. Depois entraremos em período de chamada reflexão. Após o ruído, entre família e amigos, ponderando circunstâncias e expectativas, os indecisos ou apenas pouco convencidos tomarão uma decisão.
Essa decisão resultará mais de um pensamento íntimo consolidado na experiência pessoal, na atenção dirigida e na dúvida medida do que no espectáculo da campanha.
Considero intelectualmente desonesto, especialmente em períodos politicamente decisivos, escrever sobre temas políticos fingindo não se perfilhar uma definida opção ideológica.
Tentar manter-se neutral e virgem (politicamente falando, claro, porque do resto sabemos o que a casa gasta) é um embuste que tem por único objectivo aparentar uma independência de pensamento onde, na maior parte dos casos, se esconde um sectário de sentido único a florear erudição e de onde só sai propaganda em alemão.
Não existe isenção absoluta e pura e, enquanto colaborador, os meus textos não são neutrais nem de análise política em abstracto. Isso nunca me interessou.
Os meus textos são politicamente comprometidos e isso não os torna melhores ou piores, só comprometidos de forma inequívoca. Por isso, e pelo privilégio que é escrever neste jornal, o meu respeito pelos leitores e o momento político, faço a minha declaração de interesses:
Voto na CDU, o voto que considero necessário e útil para reforçar uma verdadeira alternativa.
Chegados aqui, deparamos com a cassete do voto útil que, em tempos de aflição, o PS gosta sempre de recordar para clamar ingratidão e assédio à… esquerda.
Votar no PS, que é sociologicamente um partido de esquerda, mas com uma direcção e práticas políticas de direita, é uma inutilidade. O PS, sempre que foi poder, aliou-se e procurou apoios na direita.
Foi assim com o CDS em 1978, com o PSD no bloco central em 1983-85, e até em 1987, quando se perfilava a possibilidade de um governo de coligação entre o PS, PRD e PCP, Mário Soares preferiu convocar eleições antecipadas, dando lugar à vitória com maioria absoluta de Cavaco.
Existe uma pulsão direitista histórica no Partido Socialista que não mudou, só se esconde sob a pretensa ameaça do papão da direita, com quem nunca teve pudor em partilhar mordomias, poder e políticas.
O registo do seu património de esquerda é oportunista, meramente conjuntural. Basta escutar o dirigente socialista Carlos Silva, responsável pela UGT, apelar ao entendimento com o PSD logo após as eleições, ou Francisco Assis, guardião da mais fina direita socialista, discursar em palco onde se lia “Vamos pela Esquerda”, para perceber que, para o PS, tudo é instrumental e efémero.
Até hoje, o PS foi incapaz de dizer à esquerda com quem quer governar. Para fazer que políticas? Para que quer o voto útil?
O que realmente pretende é que os portugueses vendados lhe entreguem voto para com ele cavaquear com a direita em situação de superioridade eleitoral, e não para impor alterações de política.
O voto não pode ser só útil para quem o recebe, tem de ser também útil para quem o dá.
Freitas do Amaral, Ferreira Leite, Capucho, Ângelo Correia ou Ribeiro e Castro, entre outros, sentem-se confortáveis com o Partido Socialista, identificam-se com ele.
Que têm que ver os interesses, as esperanças e os sacrifícios de homens e mulheres vítimas de décadas de políticas de empobrecimento com estes dirigentes de direita, todos eles responsáveis activos por essas mesmas políticas?
Como é possível conviverem e votarem no mesmo partido os que impuseram leis injustas e o empobrecimento e os que lutaram contra elas e por mais dignidade?
Quem se prepara o PS para enganar? O seu passado fala por si.
A CDU apresenta uma verdadeira alternativa social e económica para Portugal como país soberano no actual quadro europeu.
A impossibilidade de maiorias absolutas, permitem, com o reforço da CDU, que no próximo domingo se vote para fazer política, e não para cumprir só um procedimento constitucional.
Para políticos desonestos, demagogos ou comentadores especialistas em explicar o que não entendem, os eleitores não são mais que matéria descartável, meios para um fim, um meio para obter poder.
Mas para sua incrédula e arreliadora tristeza, nós, o que somos, é um fim para nós mesmos e apenas para nós mesmos. Recusamos continuar a ser os meios deles.
Nós que marcamos posição e a diferença, nós que estamos juntos nos momentos mais difíceis, que acudimos na solidariedade ou no ombro de uma luta, que repartimos o pão e procuramos coragem para ter esperança, todos os que regamos a terra, construímos cidades e pomos a economia a funcionar, nós, por opção irmãos, sem receios, votamos para romper com a chantagem e viabilizar outros caminhos.
Por tudo isso, o meu voto é na CDU.
Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras