“O heat só acaba quando a buzina toca, e até lá podemos fazer um bom score. Estamos mais que ao nível para estes campeonatos, já todos provámos isso. É sempre possível virar uma bateria no fim. Já perdi muitas assim, desta vez caiu para o meu lado.” A descrição é de Frederico Morais, quando o i lhe perguntou a sensação de vencer o round 1 do Allianz Billabong Pro Cascais. Oportuguês estava em último lugar nos instantes finais, a precisar de 7,70 pontos, quando arrancou uma pontuação de 8,10 na última onda. Passou para primeiro.
A seguir Kikas voltou a vencer, garantindo a passagem à ronda 3. Vasco Ribeiro também estava inspirado e ultrapassou os dois heats em que competiu. Aos dois portugueses confirmados no round 3 pode juntar-se Tiago Pires. Saca passou a primeira ronda e agora tem pela frente os jovens talentos Wiggoly Dantas (12.o do mundo), Kanoa Igarashi (uma das maiores promessas do surf mundial, com 18 anos) e Evan Geiselman.
Mas voltemos a Frederico Morais. Ojovem de Cascais está em 85.o no ranking do circuito de qualificação (QS), longe dos lugares de acesso à elite do surf mundial (CT). Com a época a terminar em Dezembro, será que Kikas reformulou os objectivos? “O meu objectivo é sempre qualificar-me. Ficar no top-50 é bom, o ano passado fiquei em 40.o, já foi um objectivo cumprido. É sempre possível conseguir, já vimos atletas qualificarem-se nas duas últimas etapas no Havai. É muito difícil mas há sempre essa possibilidade. É sempre para isso que trabalho, é o meu principal objectivo”, garante. Um bom resultado no Allianz Billabong Pro Cascais deixá-lo-ia no top-50, em posição de apostar tudo nas últimas etapas do ano, no Havai, em Dezembro.
Antes, muito antes, tem um duelo por resolver. Também aqui no Guincho. E com o amigo Tiago Pires, o único português que alcançou o CT. Apesar de o seu foco estar no QS, a porta de entrada para a elite mundial, Kikas lidera o campeonato nacional. Na próxima semana realiza-se a última etapa, com os dois surfistas a lutarem pelo título: “A Liga Moche acaba por ser um treino para estes campeonatos. Quando chegamos às fases finais já temos de surfar como se estivéssemos num WQS. Neste momento não é a minha prioridade, mas não posso esconder que é um título que quero ganhar e revalidar [venceu em 2013], e principalmente contra o Tiago, que é uma pessoa para quem eu olho bastante. Tenho vindo a crescer com ele, vai ser uma última etapa muito engraçada e vamos ver como é que corre.”
Aos 23 anos, o potencial de Kikas é reconhecido por todos. Continua a faltar a tal qualificação para oCT, que mudaria muita coisa. Se Vasco Ribeiro, por exemplo, conquistou o mundial júnior em 2014, Frederico também já teve o seu momento alto. Foi em 2013, quando conseguiu ser nomeado rookie do ano na Triple Crown havaiana. “Naquelas ondas, que são perfeitas, realmente tens de surfar ao mais alto nível. Todos os melhores do mundo estão lá, é um reconhecimento inacreditável e abre-nos muitas portas a nível internacional”, explica. Antes de Kikas, só um surfista europeu tinha conseguido essa proeza.Quem? Oseu amigo Tiago Pires, pois claro.
Frederico é sobrinho de Tomaz Morais, antigo seleccionador de râguebi. Otio é um expert em motivação de atletas. Então porque não ouvi-lo, questiono Frederico? “Ele não me dá conselhos directamente. Mas acho que não só o meu tio, como toda a minha família, vivem o desporto com dedicação e espírito de sacrifício. Se optamos por uma coisa, é naquilo que vamos trabalhar, assumimos o nosso compromisso. Isso acaba por ser sempre uma lição e uma aprendizagem. Não é preciso dizer-me coisas directamente, com pequenos gestos uma pessoa consegue perceber e tirar o melhor disso.”
Prodígio, sensação, futuro? Kanoa Igarashi reúne tudo isso e muito mais.
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