Poucochinho


A forma traiçoeira, matreira, oportunista como Costa chegou ao poder nunca foi esquecida pela opinião pública e muito menos pelos seus camaradas socialistas.


© Andre Kosters/Lusa

Quando António Costa iniciou o golpe de Estado no PS, na ressaca das europeias que os socialistas ganharam com uma diferença de 3,75%, ficou no ouvido o ataque a António José Seguro que foi, na verdade, justificação para a sua deslealdade: “Quem ganha por poucochinho é capaz de poucochinho.”

Poucochinho é a palavra que me vem à cabeça quando olho para as sondagens. Parece que o poucochinho persegue todos. Como Costa já disse tudo e o seu contrário, imagino que na noite de 4 de Outubro dê mais uma pirueta e perore sobre as virtudes de uma derrota por pouco.

Seguro era péssimo porque ganhava por poucochinho as europeias. Costa é extraordinário porque perde por poucochinho as legislativas. A forma traiçoeira, matreira, oportunista como Costa chegou ao poder nunca foi esquecida pela opinião pública. E muito menos pelos socialistas. O PS de Costa, ao contrário do seu antecessor, escolheu um caminho de fuga às responsabilidades. Ninguém gosta de fazer figura de tolo. Mas Costa insiste em passar um atestado de tolice a toda a gente – há queixos caídos quando se grita de forma alienada que não foi um governo PS que deixou o país na bancarrota e muito menos foi o PS a chamar a troika! A somar à alienação, a radicalização.

Há muito que o PS de Costa dava sinais de intolerância política. Se o país de Costa já não batia certo com o país das pessoas – especialmente quando se fala de resultados conquistados com sangue, suor e lágrimas –, esse fosso foi mais cavado com a inaceitável chantagem do PS sobre o eleitorado. Garantindo que, no caso da mais que provável derrota nas legislativas, os socialistas não vão hesitar em lançar o país no pântano, votando contra o Orçamento do Estado, Costa encetou a “syrização” do PS. E a coisa até pode terminar com comunistas e bloquistas no governo, a tal coligação negativa que Costa promete cerzir contra a vontade das pessoas e dos resultados.

Se somarmos a isto as zangas de Costa sempre que o país melhorou e se nos lembrarmos que o PS ficou de braços cruzados a falar mal enquanto os portugueses arregaçavam as mangas para ultrapassar as dificuldades, então percebemos bem o seu princípio político: tudo pelo partido, nada pelo país. 

O que as sondagens atribuem à coligação também é poucochinho. É pouco para tanto que este governo teve de ultrapassar. Passos Coelho foi o primeiro-ministro com o mais pesado caderno de encargos da nossa democracia. Há quatro anos foi-lhe pedido que resgatasse Portugal da bancarrota (e resgatou); que arrumasse a casa e mandasse embora a troika (e mandou); que consolidasse as contas públicas (e consolidou); que salvasse o SNS e a escola pública (e salvou); que reformasse o país (começou a fazê-lo). Mas o trabalho só vai a meio.

É preciso continuar as reformas para criar mais emprego e promover a competitividade das empresas. É preciso continuar a luta contra as desigualdades sociais para que todos os portugueses tenham a justa oportunidade de serem felizes. É preciso continuar a defender um Estado social forte. Passos Coelho foi forçado a governar com o programa que a troika nos deixou.

Agora é justo que tenha uma oportunidade de governar com as suas ideias e com o seu programa. Por último, e mais importante, o que as sondagens mostram é um resultado poucochinho para as ambições do país. Portugal dispensa a instabilidade. Dispensa o radicalismo. Há quatro anos, depois de o PS deixar o poder, não havia dinheiro para salários ou para pensões. E não fosse a intervenção dos parceiros europeus, também os portugueses teriam feito fila à boca do multibanco. Esses tempos já lá vão. Por mérito de todos os que, tendo ou não sido eleitores da coligação no passado, viram os seus esforços recompensados.

Quem votou na coligação só pode orgulhar-se da sua escolha (porque se salvou Portugal) e deve agora reforçá-la (para que não se regresse ao passado), contribuindo para uma maioria positiva e estável. Portugal tem de continuar a andar para a frente. Portugal e os portugueses podem hoje mais do que ontem. E amanhã podem mais do que hoje.

Com Passos Coelho a primeiro-ministro e uma maioria estável, vamos deitar o poucochinho para trás das costas. O país merece, os portugueses merecem e Passos Coelho merece continuar a ser primeiro-ministro de Portugal com uma maioria de deputados na Assembleia da República.

Escreve à quarta-feira

Poucochinho


A forma traiçoeira, matreira, oportunista como Costa chegou ao poder nunca foi esquecida pela opinião pública e muito menos pelos seus camaradas socialistas.


© Andre Kosters/Lusa

Quando António Costa iniciou o golpe de Estado no PS, na ressaca das europeias que os socialistas ganharam com uma diferença de 3,75%, ficou no ouvido o ataque a António José Seguro que foi, na verdade, justificação para a sua deslealdade: “Quem ganha por poucochinho é capaz de poucochinho.”

Poucochinho é a palavra que me vem à cabeça quando olho para as sondagens. Parece que o poucochinho persegue todos. Como Costa já disse tudo e o seu contrário, imagino que na noite de 4 de Outubro dê mais uma pirueta e perore sobre as virtudes de uma derrota por pouco.

Seguro era péssimo porque ganhava por poucochinho as europeias. Costa é extraordinário porque perde por poucochinho as legislativas. A forma traiçoeira, matreira, oportunista como Costa chegou ao poder nunca foi esquecida pela opinião pública. E muito menos pelos socialistas. O PS de Costa, ao contrário do seu antecessor, escolheu um caminho de fuga às responsabilidades. Ninguém gosta de fazer figura de tolo. Mas Costa insiste em passar um atestado de tolice a toda a gente – há queixos caídos quando se grita de forma alienada que não foi um governo PS que deixou o país na bancarrota e muito menos foi o PS a chamar a troika! A somar à alienação, a radicalização.

Há muito que o PS de Costa dava sinais de intolerância política. Se o país de Costa já não batia certo com o país das pessoas – especialmente quando se fala de resultados conquistados com sangue, suor e lágrimas –, esse fosso foi mais cavado com a inaceitável chantagem do PS sobre o eleitorado. Garantindo que, no caso da mais que provável derrota nas legislativas, os socialistas não vão hesitar em lançar o país no pântano, votando contra o Orçamento do Estado, Costa encetou a “syrização” do PS. E a coisa até pode terminar com comunistas e bloquistas no governo, a tal coligação negativa que Costa promete cerzir contra a vontade das pessoas e dos resultados.

Se somarmos a isto as zangas de Costa sempre que o país melhorou e se nos lembrarmos que o PS ficou de braços cruzados a falar mal enquanto os portugueses arregaçavam as mangas para ultrapassar as dificuldades, então percebemos bem o seu princípio político: tudo pelo partido, nada pelo país. 

O que as sondagens atribuem à coligação também é poucochinho. É pouco para tanto que este governo teve de ultrapassar. Passos Coelho foi o primeiro-ministro com o mais pesado caderno de encargos da nossa democracia. Há quatro anos foi-lhe pedido que resgatasse Portugal da bancarrota (e resgatou); que arrumasse a casa e mandasse embora a troika (e mandou); que consolidasse as contas públicas (e consolidou); que salvasse o SNS e a escola pública (e salvou); que reformasse o país (começou a fazê-lo). Mas o trabalho só vai a meio.

É preciso continuar as reformas para criar mais emprego e promover a competitividade das empresas. É preciso continuar a luta contra as desigualdades sociais para que todos os portugueses tenham a justa oportunidade de serem felizes. É preciso continuar a defender um Estado social forte. Passos Coelho foi forçado a governar com o programa que a troika nos deixou.

Agora é justo que tenha uma oportunidade de governar com as suas ideias e com o seu programa. Por último, e mais importante, o que as sondagens mostram é um resultado poucochinho para as ambições do país. Portugal dispensa a instabilidade. Dispensa o radicalismo. Há quatro anos, depois de o PS deixar o poder, não havia dinheiro para salários ou para pensões. E não fosse a intervenção dos parceiros europeus, também os portugueses teriam feito fila à boca do multibanco. Esses tempos já lá vão. Por mérito de todos os que, tendo ou não sido eleitores da coligação no passado, viram os seus esforços recompensados.

Quem votou na coligação só pode orgulhar-se da sua escolha (porque se salvou Portugal) e deve agora reforçá-la (para que não se regresse ao passado), contribuindo para uma maioria positiva e estável. Portugal tem de continuar a andar para a frente. Portugal e os portugueses podem hoje mais do que ontem. E amanhã podem mais do que hoje.

Com Passos Coelho a primeiro-ministro e uma maioria estável, vamos deitar o poucochinho para trás das costas. O país merece, os portugueses merecem e Passos Coelho merece continuar a ser primeiro-ministro de Portugal com uma maioria de deputados na Assembleia da República.

Escreve à quarta-feira