Deloitte já tinha avisado que estimativa de perdas da Parvalorem era insuficiente

Deloitte já tinha avisado que estimativa de perdas da Parvalorem era insuficiente


Costa diz que o executivo foi apanhado “mais uma vez num truque”. Parvalorem nega ter recebido instruções de Maria Luís. Deloitte ja tinha avisado de que o valor das imparidades era insuficiente.


Depois do Novo Banco ontem foi a vez doBPNentrar em força na campanha eleitoral. Tudo porque a Antena 1 noticiou que Maria Luís Albuquerque deu indicações para esconder os prejuízos nas contas da Parvalorem (a empresa pública que herdou os activos maus do ex-BPN) com o objectivo de não agravar o défice de 2012.

As reacções não se fizeram esperar, com o governo a garantir que não manipulou as contas e os partidos da oposição a acusar o executivo de “truques” e “estratagemas”.

Em causa está a informação segundo a qual a então secretária de Estado do Tesouro ter pedido aos responsáveis da Parvalorem para registar apenas 420 milhões de euros de imparidades, e não os 577 milhões definidos inicialmente pela administração, de forma a reduzir as perdas da empresa e o impacto nas contas públicas daquele ano. O que veio a acontecer.

 Maria Luís Albuquerque negou ter dado qualquer instrução para baixar o nível das imparidades, garantindo que apenas fez uma pergunta: “Fiz a pergunta [se as perdas registadas nas contas de 2012] podiam ser mais optimistas porque me pareceu que a expectativa estava excessivamente negativa quanto àquilo que seria a evolução da economia e da capacidade de efectivamente os créditos serem satisfeitos. Não se pode chamar instrução. As contas são da responsabilidade da administração da empresa”, afirmou numa deslocação à Moita, distrito de Setúbal, onde é cabeça-de-lista pela coligação PSD/CDS-PP. 

Confrontado com o tema em Cantanhede, o primeiro-ministro deu uma resposta um bocado diferente da ministra. Negou também que tenham sido dadas instruções,  mas admitiu que foi solicitada uma revisão dos valores das imparidades. “A Parvalorem propôs uma estimativa [de imparidades] que pareceu à tutela que devia ser revista. Efoi revista, de acordo os parâmetros e com, a própria auditoria”, disse Passos Coelho. “A estimativa foi, na altura, rectificada. Não há aqui nenhuma ocultação nem desvirtuamento”, reforçou Passos Coelho, afirmando que “teria feito exactamente a mesma coisa”.

Costa: “Mais uma truque” Numa acção em Setúbal, o secretário-geral do PS salientou que o executivo foi apanhado “mais uma vez num truque” para “disfarçar as contas de 2012”. “Ainda falta saber quantos truques fizeram para esconder as contas de 2013, 2014 e 2015”, afirmou.

Jerónimo de Sousa afirmou, por seu lado, que “o tratamento estatístico, contabilístico, esta arte de substituir a verdade por esquemas não é novidade neste governo”. “O problema não se resolve com o afastamento da ministra, resolve-se no dia 4 com o afastamento dos partidos do governo, que leve também a actual ministra. Isto não pode ser à peça”, reagiu numa “arruada” na Parede, Cascais.

Já a porta-voz bloquista, Catarina Martins, não tem dúvidas de que “as contas da Parvalorem foram marteladas”. Maria Luís Albuquerque “é tão de fiar nas suas contas como a contagem das emissões de gases da Volkswagen”, disse Catarina Martins. 

Num comunicado divulgado à comunicação social, a administração da Parvalorem, presidido por Francisco Nogueira Leite, garante que “o trabalho de fecho das contas de 2012 não foi mais do que um normal exercício realizado pelos serviços de auditoria, contabilidade e sob a exclusiva responsabilidade do conselho de administração que se sente gravemente lesado na sua honra e dignidade profissional”. “O afirmado constitui algo de impossível pelos motivos já referidos pois as contas da empresa são sujeitas ao parecer do conselho fiscal e dos auditores pertencentes a uma reputada empresa internacional”, lê-se ainda no comunicado, em que acusa a Antena 1  de ter feito “deturpações da realidade ocorrida naquele ano, usando inclusivamente gravações não autorizadas de um membro do conselho de administração e retiradas de um contexto mais alargado”.

As dúvidas da Deloitte As imparidades registadas pela Parvalorem em 2012 foram consideradas insuficientes pela Deloitte e apesar de terem sido reforçadas nos dois anos seguintes a auditora continua ter dúvidas se ainda são suficientes. No relatório e contas relativo a 2012, a Deloitte considera que as imparidades da rubrica “outras contas a receber”, que tinha a 31 de Dezembro de 2012 um saldo líquido positivo de 1,594 milhões de euros, eram insuficientes. Segundo a Deloitte, aquela rubrica “inclui um conjunto de devedores cujas dívidas à sociedade se encontram garantidas por activos, nomeadamente terrenos”, e considera que tendo em conta a situação do país “não se perspectiva no curto prazo a realização ou conclusão de projectos imobiliários que estavam subjacentes às avaliações disponíveis desses activos”, o que os fazia valer menos. “Por este motivo, em 31 de Dezembro de 2012 estavam em geral sobreavaliadas o que conduz a uma insuficiência de imparidade reconhecida nas demonstrações financeiras a essa data para aqueles devedores”, lê-se no parecer assinado por José António Mendes Garcia Barata, que diz, no entanto, que não tinha informação que permitisse “quantificar as necessidades adicionais de imparidades”.
Com Lusa