“Marty: Espere um minuto, Doc, uh, está-me a dizer que construiu uma máquina do tempo num DeLorean?”
Doc: Da maneira que eu vejo as coisas, se vais construir uma máquina do tempo num carro, porque não fazê-lo com estilo?”
No diálogo do famoso filme “Regresso ao Futuro”, Doc explicava a sua opção de usar o icónico carro desportivo para alojar a sua invenção. Podemos imaginar Rui Vitória a dizer algo semelhante a Luís Filipe Vieira. O Benfica ainda não tinha conseguido vencer fora de casa. Portanto, porque não fazê-lo no mítico Vicente Calderón, contra o complicado Atlético treinado por Diego Simeone? Se a ideia podia parecer quase impossível de executar na prática – em 2015 só o Barcelona o conseguiu –, ao fim dos 90 minutos a surpresa não foi assim tão grande.
O Benfica até começou a perder e passou por uma fase de desnorteio. Depois do golo de Correa (23’), o Atlético aproximava-se desenfreadamente do 2-0. Valeu um gigante Júlio César na baliza e o homem do costume que acalmou a equipa: Gaitán apareceu no lado esquerdo da área, tal como fizera contra o Astana, e empatou o jogo num belo remate cruzado. Era o primeiro golo das águias fora de casa nesta temporada. Era também um potente tiro no porta-aviões de Simeone, que começou a meter água.
Líder isolado Era curioso que estes dois históricos do futebol nunca se tivessem defrontado. Outro dado pouco comum era a quantidade de reencontros: Oblak, Tiago e Siqueira, ex-Benfica, Óliver e Jackson, ex-FC Porto, Raúl Jiménez, Sílvio e Pizzi (e também Salvio, que continua de fora por lesão), ex-Atlético. Isso pouco interessa quando os 90 minutos começam. Os colchoneros entraram com tudo, confiantes em resolver o jogo desde logo. O Benfica tem de agradecer a Gaitán por ter chegado ao intervalo com um resultado bom para o que tinha feito até ao momento.
Com Jiménez muito apagado e Jonas com menos ocasiões que o habitual – pela qualidade do adversário – de fazer estragos, foi o argentino a assumir o papel principal do filme encarnado. Como, aliás, não é nada de novo. Gaitán partiu os rins ao adversário directo, com o pé esquerdo, e cruzou milimetricamente, com o direito, para Gonçalo Guedes. O_jovem extremo teve a calma suficiente para desviar a bola de Oblak: 2-1.
A reacção do Atlético foi pouco duradoura. A equipa já não tinha o acelerador no máximo como em grande parte dos primeiros 45 minutos, mas Jackson e Correa ainda voltaram a testar Júlio César. Se Gaitán foi herói, tem de dividir os louros da vitória com o guarda-redes. A partir daí, Simeone tentou tudo com as alterações. Mas as limitações do Atlético ficavam bem evidentes. Os colchoneros não tinham forma de ultrapassar um Benfica muito bem organizado no relvado. A exibição personalizada na primeira parte do Dragão foi transferida para o Vicente Calderón, e com a sorte que faltou na Invicta, os três pontos voaram para a Luz. Mais do que um onze, Rui Vitória começa a ter uma equipa.
O Benfica sai de Madrid isolado na liderança do Grupo C e com cinco pontos de vantagem para o terceiro classificado. Um excelente cenário para atingir os oitavos-de-final. Agora tem de mudar o chip para a Liga, onde vai jogar fora com o União da Madeira. Com Arouca e FC Porto, foram 180 minutos sem marcar. Mas as dificuldades de balançar as redes fora da Luz parecem estar a afastar-se definitivamente.