Alegre traz a lume “poderosíssimos interesses” e Costa vê “levantamento”

Alegre traz a lume “poderosíssimos interesses” e Costa vê “levantamento”


Comício do PS em Lisboa juntou mais de mil pessoas e contou com ataques aos partidos à esquerda do PS. Costa diz que coligação criou “ilusão” de que vai ganhar”, mas Alegre acha que é mais do que isso e sugere “interesses financeiros e mediáticos”.


A noite socialista desta terça-feira foi de comício em Lisboa com Manuel Alegre como convidado especial e a levantar a suspeita que o PS, nestas eleições, “não está apenas a lutar contra a coligação, mas contra poderosíssimos interesses financeiros e mediáticos”. António Costa não foi tão longe e atribui à coligação a criação da “ilusão” de que vai ganhar no domingo, garantindo que vê um “levantamento em todo o país” pelo PS. 

“Estão todos a jogar para o mesmo lado”, disse o histórico socialista quando falava de Bruxelas e a “ajuda que deu” à coligação quando o défice de 2014 aumentou. Mas não ficou por aí e, perante um comício onde os socialistas juntaram mais de mil pessoas na FIL do Parque das Nações, Alegre acrescentou: “Estão todos a jogar para o mesmo lado, à defesa dos bancos e dos grandes interesses, contra os direitos das pessoas. É por isso que não estamos a lutar apenas contra a coligação, mas contra poderosíssimos interesses financeiros e mediáticos.”

O socialista chamou-lhe mesmo “manipulação como nunca tinha visto em 40 anos de democracia, uma colossal manipulação” e falou na existecia de um objectivo claro que “é preciso abater o PS e António Costa”. Prevenindo: “O PS não tem bancos, não tem televisões, nem empresas de sondagens.” Manuel Alegre terminou a intervenção com a garantia de que “o PS não tem medo nem cede a chantagens nem a sondagens. O PS não se rende”.

António Costa foi o discurso que se seguiu mas, nesta matéria, ficou por acusar a coligação de “depois deste quatro anos querer criar a ilusão que agora vai ganhar”. A isso contrapõe o “levantamento” que diz ver “em todo o país”. “É em primeiro lugar um levantamento em nome do futuro”, afirmou o candidato do PS que aproveitou também o discurso de Lisboa para se demarcar da esquerda à esquerda do PS, sobretudo em matérias europeias, rejeitando a renúncia do euro. “Não aceitamos esta alternativa de oferecermos aos portugueses a alternativa de poderem escolher um caminho que é o caminho da mudança com confiança. Virar a  página da austeridade e atermo-nos no euro”, exemplificou Costa.

Antes do candidato, Manuel Alegre já tinha sido veemente na crítica à esquerda, apelando mesmo ao voto útil. O poeta socialista referiu que “há esquerdas mais apostadas em atacar o PS”, acusando-as de “fazer um grande frete à direita portuguesa”. “Não desperdicem os votos, só o PS e António Costa estão em condições de derrotar a direita”, disse.

Mas a hostilização da esquerda não correu todos os discursos da noite e até surgiu no mais insuspeito. O fundador do CDS Basílio Horta (e autarca de Sintra eleito em listas do PS) voltou a estar ao lado de António Costa e na intervenção que fez, na noite desta terça-feira, e disse: “Falar à nossa esquerda não significa perder um minuto na defesa das nossas convicções”. E ainda atirou a quem chama radical a Costa, no outro lado da barricada, por querer chumbar um orçamento da coligação: “Queriam que fosse hipócrita? O que fazer com um orçamento que é a cara desta política?”

Foi Manuel Alegre que acabou por colher a maior ovação do comício quando se referiu ao compromisso de Costa de repor os feriados do 5 de Outubro e do 1º de Dezembro. “Se ganhasse a direita seria muito possível que suspendesse mais dois feriados: o 1º de Maio e o 25 de Abril”.

No fecho da noite – em que também discursaram Marcos Perestrello (presidente do PS-Lisboa), o presidente da Câmara de Lisboa Fernando Medina e o líder da JS -, António Costa jurou ter um “contrato de confiança” e estranhou a “crítica extraordinária” por “fazer campanha com contas. Por que não distribuo promessas?” “Se calhar alguns gostam mais de outro estilo, mas eu gosto muito desta maneira de fazer política e creio mesmo que foi por isso que em três eleições sucessivas em Lisboa ganhei cada uma com mais votos do que a anterior. Fiz sempre mais do que tinha prometido”. E fechou com mais uma dramatização no apelo ao voto no domingo, quando “o que está em causa é muito mais do que saber quem ganha” mas “a defesa de pilares básicos do futuro colectivo”.