Volkswagen não está sozinha. Mercedes, BMW e Peugeot também falsificam dados

Volkswagen não está sozinha. Mercedes, BMW e Peugeot também falsificam dados


Fabricante alemão poderá ter de vender alguns dos seus activos, como a marca Audi ou a Seat para pagar elevadas multas e indemnizações.


O grupo Volkswagen não está sozinho no escândalo da manipulação de gases. Também a Mercedes, BMW e Peugeot distorcem os dados. O alerta é feito no estudo “Mind the Gap”, publicado anualmente pela Transport & Environment, uma organização não governamental que trabalha directamente com a Comissão Europeia. 

De acordo com este relatório, a emissão de gases poluentes e de consumo de combustível na condução real era de 8% em 2008, superior ao que se registava em ambiente controlado, nos testes de laboratório. Em 2012 já era de 31% e, no ano passado, a diferença fixou-se entre os 40% e os 45%. Mas em algumas marcas chegou a atingir os 50%. É o caso dos modelos classe A, C e E da Mercedes, onde a lacuna testes/realidade é superior a 50%. Na série 5 da BMW e no Peugeot 308, o fosso fica pouco abaixo dos 50%. “As causas destas divergências têm de ser clarificadas o mais brevemente possível”, aponta o relatório.

Depois da Volkswagen e da Seat, ontem foi a vez da Audi admitir que 2,1 milhões dos seus veículos a diesel em todo o mundo estão equipados com o software que falsifica os resultados dos testes anti-emissões, concebido pela empresa-mãe Volkswagen. De acordo com a marca, só na Alemanha existem 577 mil veículos afectados e nos Estados Unidos 13 mil.

 Horas mais tarde, o construtor automóvel Skoda, que também pertence ao grupo VW, anunciou que 1,2 milhões dos seus veículos estão equipados com o dispositivo que permite manipular as emissões poluentes.

VW terá de vender marcas Para pagar as indemnizações que tem pela frente, o grupo Volkswagen poderá ter de vender algum dos seus activos. Alienar a Audi ou a Seat poderá ser a alternativa para reforçar o valor que já provisionou – 6,5 mil milhões de euros. O que é certo é que esta verba representa pouco mais de um terço da potencial multa nos Estados Unidos (18 mil milhões de dólares, cerca de 16 mil milhões de euros) e não tem em conta a acção de outros governos. 

Recorde-se que, em declarações feitas ao i  na semana passada, o secretário-geral da Associação de Defesa do Consumidor (DECO), Jorge Morgado, disse que se existirem carros em Portugal com esse dispositivo, o Estado deve pedir uma indemnização ao fabricante alemão.

Outro critério a ter em conta diz respeito à quota de mercado do fabricante alemão: tem um quarto do mercado europeu – onde mais de metade dos carros vendidos têm motor diesel – e um quinto do chinês. Também o modelo de negócio vai ter aqui grande influência. 

Depois da Suíça ter proibido a venda de novos carros da Volkswagen que possam ter motores a gasóleo manipulados, ontem foi a vez de um importador belga suspender a comercialização de 3.200 veículos devido à suspeita de que poderiam estar equipados com o dispositivo manipulador.

Bruxelas debate escândalo Os ministros da Indústria da União Europeia (UE) debatem na próxima quinta-feira o escândalo em que está envolvido o fabricante alemão Volkswagen pela manipulação dos testes às emissões de gases poluentes. 

A Comissão Europeia (CE) precisa de “obter uma imagem clara do número de veículos certificados na UE que foram equipados com dispositivos falsificados que, como já dissemos, são proibidos pelas regras comunitárias desde 2007”, acrescentou o porta-voz.

O mesmo responsável disse ainda que “o controlo desta situação é uma obrigação das autoridades dos Estados-membros”, salientando que Bruxelas “não vai tolerar a fraude” e espera um cumprimento rigoroso. Fontes europeias acrescentaram que há agora que aguardar se a CE apresenta qualquer proposta concreta na quinta-feira, mas descartaram a possibilidade de ser adoptada qualquer declaração ou documento formal.

Entretanto, as autoridades alemãs já abriram uma investigação ao antigo presidente da VW, Martin Winterkorn. Esta investigação vai focar-se nas “alegações de fraude na venda de carros com dados de emissões manipulados”, disse o gabinete da Procuradoria de Braunschweig.

Recorde-se que o fabricante alemão tem de apresentar um plano calendarizado para resolver as consequências da manipulação dos testes de emissões de gases até ao dia 7 de Outubro.