Um Louçã anti “homotroikensis” e uma Catarina a questionar Passos

Um Louçã anti “homotroikensis” e uma Catarina a questionar Passos


O ex-coordenador do Bloco de Esquerda Francisco Louçã afirmou que o seu antigo partido pode ser “muito mais forte do que o CDS”.


“O Bloco de Esquerda precisa de ser muito mais forte do que partes da direita, como o CDS”. Na sua primeira intervenção, o ex-porta-voz do Bloco de Esquerda (BE), Francisco Louçã, pediu “uma profunda viragem na noite das eleições ”, apelando ao voto contra o partido liderado pelo vice-primeiro ministro Paulo Portas. E Porquê? “Porque o CDS não está sozinho nestas eleições, mas com os seus deputados alcandorados nas listas do PSD”, afirmou no comício de encerramento do Bloco em Coi

Antes, Louçã falou de três “votos decisivos e difíceis para o BE”: o voto de quem se abstém, ou seja, “do maior partido em Portugal que não faz nada”, o voto “dos socialistas, que não percebem o que o seu partido quer”, e o voto dos “enganados do PSD e CDS”, a quem Passos deixou uma “enorme dívida”. E Louçã sabe o que é que este eleitorado tripartido necessita: de um BE “mais forte, porque é assim que esta viragem desta política conseguirá afirmar uma esquerda popular, com compromissos razoáveis” já a partir de 5 de Outubro.

Este era um comício que se previa longo, com quatro intervenções: o mandatário distrital Pedro Rodrigues, a eurodeputada Marisa Matias, Francisco Louçã, o cabeça-de-lista por Coimbra José Manuel Pureza e claro, a actual coordenadora do BE, Catarina Martins. Entre cânticos de “chegou o momento de Pureza ao Parlamento” para apoiar a eleição do professor universitário perdida em 2011, a expectativa da plateia era perceber que discurso estaria reservado para Francisco Louçã, que, para muitos, não desiludiu.

Primeiro, afirmou que a campanha de um Bloco que se vai “agigantar” nesta recta final até 4 de Outubro, para derrotar uma “espécie nova de predadores naturais, o homotroikensis”, responsável pelas políticas “mais gravosas que Portugal poderia receber nos últimos quatro anos”. Essa nova formulação científica, onde segundo Louçã, encaixa a coligação PSD/CDS, teve várias vitórias “troiksianas”:  400 mil pessoas na pobreza, 300 mil pessoas a quem cortaram a electricidade, aumento da carga horária de trabalho e tantas outras medidas causadas pela austeridade. Depois de enumeradas as consequências desta “nova espécie”, Louçã deixou a pergunta: “Valerá a sua palavra?”, para o ex-coordenador bloquista não, porque a única coisa que a direita quer é “corrigir as políticas que fizeram, porque criaram desigualdade e agora querem igualdade”, disse.

Mas quem pensava que os ataques de Catarina Martins ao PS não estariam no discurso de Louçã, teve uma surpresa. “Passos diz, votem em mim por medo a Costa, Costa diz votem em mim por medo a Passos – e os dois têm medo de Portas- mas só têm uma solução: querem o poder absoluto”, reiterou. E esse poder absoluto, que dá pelo nome de “Merkel”, introduzindo a chanceler alemã para as críticas de Louçã,  já está tão definido que “ainda nem se sabe quem será governo, mas já existe uma linha de política deste orçamento [de Estado] , definida com aqueles que obedecem à austeridade perpétua, que é a lei da Europa”. Portanto, o poder absoluto tem uma palavra: “austeridade”, rematou dizendo que “é essa que temos de enfrentar”.

Se Louçã colou os socialistas aos sociais democratas por estarem dependentes de ordens de Bruxelas, não quis deixar passar em claro a ausência de Costa para possíveis acordos pós-legislativas com o Bloco. “Não te espantes Catarina por não te responderem sobre a redução das pensões”, lembrando o congelamento de pensões do programa eleitoral de Costa, que ainda não foi explicado, ao qual para o antigo responsável máximo bloquista, o BE não poderá concordar para qualquer compromisso político.

Sobre a “paixão” que Catarina tem demonstrado nesta campanha, Louçã não tem dúvidas, “é assim que somos esquerda”, concluiu.

O acordo de impostos escondido entre Bruxelas e PSD/CDS Depois de uma ovação de pé ao antigo líder bicéfalo João Semedo- novamente presente no comício- pedida por Pureza, e da crítica aos “bandos” ( leia-se, Bancos) de Marisa Matias ao caso do Novo Banco, Catarina Martins começou por relembrar que a violência doméstica “é a bandeira primeira do BE”, depois de falar da notícia de uma mulher de 58 anos morta no passado Domingo. Mas como de tarde a líder bloquista tinha respondido à Comissão Europeia depois desta ter dito que não estava a interferir na campanha eleitoral portuguesa, e que redigiu um relatório em que haveria margem para um novo aumento de impostos (como no consumo ou nos imóveis), nova farpa encontrava-se no horizonte: “para lá do programa escondido do corte das pensões com Bruxelas, PSD e CDS também têm um programa acordado para aumentar impostos”, atacou. Mas como “não foi o Bloco” a acordar esta medida, Catarina pergunta: “quais são, quanto é, Bruxelas não fala de cor, mostrem qual é”, pegando novamente no défice orçamental (7,2%), acordado bem acima dos limites estabelecidos para lançar a pergunta: "quais são os impostos que andaram a negociar com Bruxelas?", lançou directamente a Passos e Portas.

Amanhã será o décimo dia de campanha,  e o Bloco ficará agora à espera de uma resposta da direita à esquerda. Há no entanto uma certeza para Catarina, é que no próximo dia 5 de Outubro, "o PSD terá um lugar vago para ocupar", ou seja, Passos não será reeleito e o BE estará disponível para uma solução governativa que "respeite as pensões, a democracia e a dignidade do país", finalizou.