Sem ter alcançado a maioria absoluta de que precisava para governar sozinho, Artur Mas e a lista “Junts Pel Sí”, a coligação do seu Convergência com a Esquerda Republicana (ERC) de Oriol Junqueras, dependiam da Candidatura de Unidade Popular (CUP) e do seu líder, António Baños, para garantir o mínimo de 68 deputados do total de 135 assentos parlamentares. E foi precisamente Baños quem ontem bateu com a porta na cara de Mas – que, pela primeira vez, poderá ter assinado a sua própria morte política ao convocar as eleições regionais deste domingo: perder, leia-se, o executivo catalão (Generalitat).
“[A recusa da CUP em reconduzir Mas na presidência da Generalitat] não tem nada a ver com projectos nominais, mas com desobediência concreta em relação a legislação que vai contra os interesses sociais e económicos da Catalunha”, disse a candidata Anna Gabriel, avançando que a CUP nunca daria votos a uma pessoa, “seja que de que partido for”, que esteja “vinculada com a corrupção, os cortes e as privatizações”. De resto uma das promessas do partido na campanha eleitoral.
A sombra de Artur Mas © Francisco Seco/AP
Para os anticapitalistas e antieuropeístas, o que é necessário agora é um governo provisório que deve ser presidido por uma “pessoa que possa dar o exemplo nesta nova etapa que se inicia”. “Não vamos passar do fetichismo de Mas para o fetichismo de [Raul] Romeva [militante da ICV e membro da lista Cat. Sí que es Pot] nem de [Oriol] Junqueras [candidato da ERC]”, acrescentou Baños, líder da CUP.
Negociações
Durante a manhã de ontem, a CUP deu início a convocatórias de reuniões com a Junts Pel Sí e a Cat. Sí que es Pot a acontecerem esta semana, para começarem a definir uma rota conjunta, avançou o “El País”.
Paralelamente, confirmou o mesmo jornal, a formação de esquerdas catalãs irá abrir um processo interno de assembleias com os seus militantes. “O independentismo na Catalunha é a opção maioritária e o caminho que vem a seguir”, sentenciou Baños depois de confirmar que não irá reconduzir Artur Mas na presidência catalã. Ainda assim, disse aceitar a versão dos factos como apresentada pela Junts Pel Sí, que assim que a contagem de votos começou no domingo declarou que “ganhou a independência”.
A vitória das três forças de esquerda, ainda que a Cat. Sí que es Pot não defenda a secessão com Espanha, demonstra o desejo de ruptura com o statu quo, declarou. Quanto à promessa de Mas de emitir uma Declaração Unilateral de Independência, Baños disse que não faz sentido considerando a derrota da Junts Pel Sí.
Nas regionais deste domingo na Catalunha, que foi às urnas agora e não em Junho com as restantes comunidades espanholas, Mas queria obter a maioria absoluta como um claro sinal de que o povo catalão quer separar-se de Espanha. Finalizada a contagem dos votos, a Junts Pel Sí só elegeu 62 deputados, aquém do mínimo de 68 de que precisava para governar sozinha.
A essa coligação independentista seguiu-se o Ciudadanos, de centro-direita, com 25 assentos, o Partido Socialista Catalão com 16, a Cat. Sí que es Pot com 11, o Partido Popular catalão com outros 11 e a CUP com 10. OUnião, que por causa da questão da independência pôs fim ao casamento de décadas com o Convergência de Artur Mas, candidatando-se sozinho pela primeira vez, nem sequer entrou no parlamento regional.
Reagindo aos resultados, Mariano Rajoy ofereceu-se para “dialogar e escutar” o novo governo catalão, impondo contudo como limite “a unidade de Espanha e a soberania nacional espanhola” e afastando assim qualquer hipótese de discutir a possível secessão que Mas prometeu “dentro de 18 meses” a contar do dia das eleições se ganhasse com maioria estrondosa.