Botulismo. Origem Transmontana. Nome da empresa afecta indústria da região

Botulismo. Origem Transmontana. Nome da empresa afecta indústria da região


“É preciso fazer a distinção” entre o nome da empresa e os produtos de Trás-os-Montes, alertam.


O problema “está no nome”. As indústrias de fumeiro e alheiras deTrás-os-Montes temem que os consumidores deixem de comprar os produtos da região devido ao nome comercial da marca associada aos casos de botulismo detectados este mês em Portugal. “A marca Origem Transmontana faz com que os consumidores possam ser levados a pensar que tudo o que é produzido em Trás-os-Montes está estragado”, alerta Américo Pereira, presidente da Câmara Municipal de Vinhais. 

{relacionados}

A verdade é que os casos de botulismo apenas ocorreram com alheiras de uma empresa cujo nome pode criar dúvidas. Ao i, Américo Pereira explica que se trata de uma marca “relativamente pequena” e que representa “praticamente zero no contexto da economia no que diz respeito aos enchidos” da região.

 O problema coloca-se quando há o perigo de contágio. Jorge Morais, presidente da Associação Comercial e Industrial de Mirandela, gestora das alheiras daquela região, ressalva a necessidade de “se ter de distinguir a marca do resto dos produtos transmontanos”, até porque Trás-os-Montes é uma região do interior que vive do agro-alimentar:“Se só vivemos disto e surge um problema destes, isso pode colocar em causa a economia regional. Temos de esclarecer esta confusão e esclarecer que os consumidores podem continuar a comprar”, explica ao i. 

Para os representantes do sector, a prioridade é desfazer esta dúvida que pode surgir devido à denominação dos produtos contaminados. “Esta é uma questão que não está relacionada com os milhares de alheiras que se produzem em Trás-os-Montes e que são todas de excelente qualidade”, explica o presidente da câmara de Vinhais, acrescentando que o importante nesta altura é esclarecer que o problema está em produtos desta marca. “Temos de acabar com os equívocos.” 

Também Jorge Morais alerta para esta questão: “Quando as pessoas lêem que o botulismo retira das prateleiras as alheiras Origem Transmontana ficam a pensar que o problema está na região. E isto leva a que os consumidores fiquem confusos.” Em Mirandela, são produzidas toneladas de alheiras e todas elas são de origem certificada: “As fábricas são diariamente visitadas pelas entidades fiscalizadoras, são controladas empresa a empresa, alheira a alheira”, recorda, afirmando ainda que nunca houve casos destes com produtos certificados. “Há muita burocracia em termos de fiscalização e está tudo a ser cumprido. Não me lembro nunca de ter visto um produto de origem certificada, através de uma entidade gestora, a ter problemas”, ressalva Jorge Morais. 

O problema põe-se quando “alguém que teve protagonismo num programa de televisão [o responsável pela marca é Luís Portugal, concorrente que chegou à semifinal do concurso MasterChef, da TVI, em 2014] cria uma marca e a regista como Origem Transmontana, afirma o presidente da Associação Comercial e Industrial de Mirandela. No mesmo sentido, Américo Pereira afirma que esta questão deve servir como um alerta para as entidades que registam as empresas: “Está aqui uma boa oportunidade para o registo nacional da propriedade industrial ter muito cuidado com os nomes que autoriza para as empresas e as marcas. Este tipo de nome origina um problema”, admite, acrescentando que estes casos de intoxicação alimentar são “isolados”. 

Apesar de ambos os responsáveis contactados pelo i considerarem que “o bom nome e os produtos de Trás-os-Montes não podem ser afectados por uma situação destas”, encomendas de várias toneladas da conhecida alheira de Mirandela foram ontem canceladas. A ASAE está a fiscalizar a produção e a rastrear produtos para apuramento dos factos relacionados com casos de botulismo, divulgou o Ministério da Economia.