“Acham que somos PàF?”, pergunta Coelho. Sim, é PàF e, não, não foi esse Coelho

“Acham que somos PàF?”, pergunta Coelho. Sim, é PàF e, não, não foi esse Coelho


Almoço-comício do PS em Setúbal foi interrompido por uma senhora que tomou o microfone para se queixar do governo. António Costa aproveitou o palco num distrito de esquerda para apelar ao voto da esquerda à esquerda do PS.


Ao fundo do largo da Fonte Nova em Setúbal, quase se percebia outra coisa nas dezenas de vezes que o socialista Jorge Coelho gritava no palanque: “Acham que as pessoas são PàF?” O ex-ministro do PS foi até à campanha do partido para fazer um discurso a pedir “razão e coração”, bem ao estilo de Guterres/1995.

Dezasseis anos depois de ter sido cabeça-de-lista pelo distrito, Jorge Coelho voltou para dar uma mãozinha a António Costa e apelar à “memória dos portugueses”. No seu estilo próprio, o socialista que tem estado afastado da vida política desde 2006 agravou a mensagem para dizer que “é a hora do ajuste de contas. É assim que temos de chamar ao momento que estamos  viver em Portugal. Está a acontecer algo muito grave”. E apelou ao “combate” nos últimos dias de campanha.

Depois, Coelho passou ao ataque à coligação que “criou um nome PàF para as pessoas se esquecerem que quem está a ir a votos é o PSD e o PP. Tiraram fotografias dos cartazes, não apresentam programa nenhum”. “Os portugueses têm memória e não se vão esquecer que foi Pedro Passos Coelho e Paulo Portas que dirigiram a política que levou a esta situação”, acredita o socialista que passou a elencar medidas do executivo para tirar uma conclusão. “Há 580 mil pessoas que estão no limiar da pobreza. Os responsáveis são os que não estão nos cartazes, que escondem os nomes. Acha que as pessoas são PàF?”. “Acham que com esta carga de impostos, as pessoas são PàF?” E sem falar das sondagens que continuam a dar entre o empate técnico e a vantagem da coligação mas que pesam sobre os socialistas, Jorge Coelho rematava: “Eu não acredito nisso. Não acredito.” “Nem nós nem o povo português somos PàF’s!”.

Coelho ainda juntou mais um argumento ao PS, que não é novo, foi buscá-lo às legislativas de há 20 anos para falar com “razão e coração”, aproveitando o facto de ter sido interrompido, mesmo quando ia começar a falar, por uma senhora que se aproximou do microfone (mais uma interrupção inopinada num comício socialista) para “não falar de números, mas de sentimentos. De sofrimento”. “Deitem para trás o síndrome de Estocolmo”, disse a apoiantes do PS que acabou por ser abraçada por António Costa.

O apontamento guterrista de Coelho foi aproveitado por Costa, na intervenção que se seguiu. O candidato do PS foi claro: “Não sei se é por ver aqui Jorge Coelho que me vem à ideia que as pessoas estão primeiro. É mesmo para as pessoas que a política existe”.

Mas nem assim Costa deixou de atirar à parte dos números e da notícia que está a marcar o dia (as alterações noticiadas pela Antena 1que o governo terá feito às contas da Parvalorem, a gestora dos maus activos do BPN), para dizer que “não há truques que disfarcem a realidade concreta da vida da pessoas”. “Ainda hoje foram apanhados mais uma vez com um truque que fizeram para mascarar contas de 2012. Questionamos que truques ainda estão para fazer para enganar as contas” dos anos seguintes. 

Costa ainda aproveitou o palco num distrito tradicionalmente de esquerda para atirar À esquerda à esquerda do PS. “Não gastamos energia a responder a outros ataques que nos são dirigidos. Estamos sozinhos contra a direita toda a disputar palmo a palmo a vitória nestas eleições”. E ainda deixou mais um recado: “O mínimo que se pede às outras forças política é que ao menos concentrem forças a atacar a direita e que não desperdicem energia a atacar o PS”. O candidato socialista disse mesmo que “depois das eleições podem voltar Às manifestações e a dizer Costa para a rua, mas nestas eleições o que está em causa é o Passos Coelho e o Portas irem para a rua”. E fez mais um apelo à maioria absoluta do PS. 

No almoço de grelhados num largo no bairro dos pescadores de Setúbal, Costa terminou o discurso tentado pelo “irresistível cheiro a sardinha” e voltando a citar Coelho (Jorge)  ara dizer que até domingo “é tempo de combate. Temos de lutar até ao último minuto”.