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Há menos de um ano, Mark Zuckerberg recusou a ideia de criar a variante “não gosto” no Facebook com o símbolo “dislike”, por oposição ao conhecido “like”, porque podia levar a que a rede social se tornasse um concurso de posts com mais ou menos “likes” e “dislikes”, muito parecida ao insuportável Reddit. Por outro lado, Zuckerberg afirmou na mesma altura o que recentemente repetiu: os utilizadores querem expressar mais emoções, sobretudo querem poder ter uma resposta rápida e adequada a posts tristes, em que são partilhadas más notícias, etc.
Na verdade, desde 2009 que os utilizadores andam a pedinchar por mais maneiras de expressarem o que pensam sobre o que é escrito. Comentar nem sempre é uma opção, porque nem sempre os “amigos” querem fazer algo mais do que cumprimentar o autor do post. Ou agradecer-lhe por alguma coisa que tenha escrito. O entendimento do que é o “like” e as suas múltiplas funções parece demasiado restrito à tradução imediata de “gosto”, quando por vezes só quer dizer “olha, já vi” ou “teve piada” ou “concordo com o que dizes a respeito da notícia pavorosa que estás a partilhar” ou muito simplesmente: “obrigada por teres escrito o que não fui capaz de dizer”. Seja como for, ou que significado lhe queiram dar, o polegar virado para cima do Facebook, um “ok” que entendemos ser um sinal positivo mais ou menos inócuo, parece a ruína de um gesto antigo, que conhecemos de filmes sobre imperadores romanos cruéis.
Penso que não é preciso perguntar a ninguém o que significava o polegar virado para cima, embora um utilizador do Facebook com 18 anos de idade possa responder que Nero afinal só queria dizer “like”. Pelo que vemos nos filmes, a mão fechada e o polegar virado para cima significava que o imperador poupava a vida do gladiador em desvantagem na luta, mas de repente tive dúvidas sobre se seria mesmo assim e que autor antigo descreveria melhor o que se passava naquele horror do Coliseu, por exemplo, com Nero.
Anthony Corbelli, no segundo capítulo de “Nature Embodied, Gestures in Ancient Rome”, eloquentemente intitulado “The power of thumbs”, chama a atenção para uma passagem da História Natural (28.5, em perseus.tufts.edu) em que Plínio estaria a sugerir que um misterioso “polegar pressionado”, passo a fraca tradução de pollices premere, seria um sinal de aprovação e não de condenação. Mas contra quê seria pressionado este polegar se estivesse virado para cima? Plínio falava do poder que alguns gestos tinham no quotidiano em Roma, e por isso (e outras razões) é arriscado adaptar ainda por cima um sentido pouco claro da expressão a um uso específico no Coliseu.
Porém, a expressão pollice verso que dá o título ao célebre quadro de Jean-Léon Gérôme, em que vemos um grupo de vestais a indicar o que pensamos ser a condenação do gladiador moribundo, significa apenas “polegar invertido”, sem especificar que era para baixo nem para cima. E se era tudo ao contrário?
É possível que estejamos enganados a propósito de gestos de aprovação e desaprovação que dávamos por garantidos. Não há sossego! Por mim, a culpa é toda de Hollywood.
Escreve à segunda-feira