Paulo Oliveira acompanha o filho desde o primeiro dia e Miguel nunca hesita na hora de valorizar a importância do pai na iniciação, que foi “muito difícil”, e na evolução ao longo dos anos. Se a mãe Cristina e a irmã Andreia não são necessariamente uma presença assídua nas corridas, o progenitor só costuma falhar quando não tem mesmo alternativa. Apesar de tudo, conhece o filho como ninguém.
A 19 de Setembro, oito dias antes do Grande Prémio de Aragão, pai e filho falaram ao i sobre os objectivos a alcançar até ao final da época, numa fase em que o futuro – a promoção à Moto2 com a equipa Leopard – já está definido. Se Miguel Oliveira foi mais conservador e reconheceu que alcançar o segundo lugar é difícil mas que esperava ser terceiro “pelo menos”, Paulo foi mais directo, naquela que foi a última anotação tirada da conversa: “Até final do ano espero que tenha mais uma vitória.”
© Javier Cebollada/EPA
Não basta pedir, mas pareceu. Miguel Oliveira satisfez o desejo do pai e teve um fim-de-semana a roçar a perfeição em Espanha. Na sexta-feira, fez o segundo melhor tempo da sessão e garantiu que “o dia correu bastante bem”. Na qualificação de sábado, voltou a ter o segundo tempo mais rápido e mostrou estar confiante para a corrida de domingo. “Sozinho, sem nenhum cone de ar, e ainda assim consegui um tempo muito bom, o que me deixa muito confiante para a corrida”, começou por dizer antes de antecipar um objectivo: “Espero poder trazer a KTM para o pódio e, não tendo nada a perder, vou tentar lutar pela vitória.” No domingo, somou o triunfo, numa corrida irrepreensível e que não deixou dúvida sobre quem foi o melhor e mais rápido piloto da 14.a etapa do Mundial.
Miguel Oliveira saiu do segundo lugar da grelha, atrás do italiano Enea Bastianini, mas fez a primeira curva na dianteira. Durante as vinte voltas da corrida, cruzou a meta na liderança em doze e passou pela liderança em 18 das vinte voltas: só a 13.a e a penúltima escaparam ao piloto da KTM que somou em Aragão a terceira vitória, depois de Itália e Holanda, e o quinto pódio da temporada.
A corrida teve praticamente 40 minutos e só por breves segundos Miguel Oliveira não esteve num lugar que cumprisse o objectivo do pódio. Cumpriam-se os primeiros metros da última volta quando o português caiu para a quinta posição, antes de atacar de forma brilhante na primeira curva e aparecer na perseguição ao colega de equipa Brad Binder.
“Queria ceder uma posição na última volta e pensei nisso até ao fim mas foi difícil decidir porque eu sabia que a minha moto era rápida na recta interior e quando estava atrás conseguia passar com alguma facilidade. Então pensei que surgir em primeiro era uma boa opção. Mantive-me do lado esquerdo para proteger a trajectória e se alguém me quisesse ultrapassar, teria de ser apenas pela direita. Normalmente faço esta curva uma mudança acima mas desta vez fiz com uma mudança abaixo e consegui a vitória”, comentou Miguel Oliveira sobre a estratégia utilizada.
O cenário foi descrito na perfeição mas houve outro factor a garantir que a vitória não teria qualquer discussão na última volta. Primeiro, o italiano Enea Bastianini enfiou o pneu dianteiro na roda traseira de Brad Binder quando estavam no segundo e terceiro lugares. Instantes depois foi Danny Kent, líder do Mundial, a cometer um erro que provocou uma queda durante uma das últimas curvas. Com a oposição reduzida, Miguel Oliveira cruzou a meta com 0,193 segundos de vantagem sobre Jorge Navarro e confirmou outra máxima do pai.
“Quem anda na frente arrisca-se a ganhar”, disse-lhe Paulo na véspera da primeira vitória da carreira em Moto3. A diferença é que, ao contrário de Mugello em Maio, desta vez a família esteve presente em peso no circuito: o pai, a mãe, a irmã e até o primo, assistiram comovidos a mais uma presença no pódio e com direito ao hino nacional.
O fim-de-semana perfeito de Miguel Oliveira não teve discussão. Os 25 pontos serviram para ultrapassar Romano Fenati no Mundial e garantiram a aproximação a Enea Bastianini e Danny Kent, que saíram de Espanha sem pontos. A quatro provas do fim, está a 20 do italiano e a 75 do britânico. “Agora vamos para a ronda asiática. Motegi [Japão] é um circuito de que gosto bastante”, anteviu. E, por falar em antevisão, não será surpresa se Paulo quiser renovar o desejo. Este foi muito fácil de alcançar.