As alheiras por detrás dos três casos de botulismo detectados este mês em Portugal terão sido confeccionadas numa antiga escola primária reconvertida em fábrica de produtos regionais pelo ex-concorrente do programa televisivo Masterchef, Luís Portugal.
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Segundo o i apurou, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica esteve este fim-de-semana na unidade de produção da marca “Origem Transmontana” na aldeia de Paradinha Nova, no distrito de Bragança, e recolheu várias amostras, isto depois dos primeiros estudos terem confirmado que os três doentes consumiram este produto.
A ASAE confirmou ao i diligências neste local e que já foi determinado que na origem do surto estão as alheiras desta marca. Questionada sobre se a unidade de produção foi encerrada, mesmo que temporariamente, a autoridade de segurança alimentar informou que dado que a fábrica não estava de momento a laborar não foi aplicada qualquer medida cautelar, decorrendo ainda as investigações.
No fim-de-semana, a Direcção-Geral da Saúde, o Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária e a ASAE emitiram um comunicado conjunto dando conta da notificação de três casos de botulismo alimentar, associada ao consumo de alheiras comercializadas pela marca comercial Origem Transmontana, registada pela empresa Verdade Transmontana. As autoridades ordenaram a retirada do mercado todos os produtos à base de carne e queijo desta marca, que vende ainda frutos secos, compotas ou conservas com sabores regionais.
Cristina Abreu, da Unidade de Gestão de Emergências da DGS da Direcção-Geral da Saúde, explicou ao i que o alargamento do alerta a outros produtos desta marca está a ser feito apenas “por precaução”, enquanto prosseguem as investigações. O único risco certo, ou seja a única coisa que os três doentes têm em comum no seu historial de alimentação, é o consumo das alheiras.
Alerta congelador
Cristina Abreu adiantou ao i que o primeiro caso foi notificado a 11 de Setembro e, o último, no passado dia 23. Só esta sucessão de casos permitiu estreitar as investigações e chegar ao produto em comum nos três casos. Dois doentes recorreram a hospitais do Norte do país e um caso foi detectado no estrangeiro, tratando-se de um turista que terá consumido o alimento contaminado em Portugal. Os três permanecem internados mas não correm perigo de vida.
A especialista considerou ao i “pouco provável” que surjam mais casos associados a este surto, dado que à partida a alheira é um produto que se consome fresco. A perita da DGS explica que a doença tem um período de incubação médio de 36 horas e que mesmo que outras pessoas tenham consumido alheiras contaminadas, não quer dizer que adoeçam. Isto porque geralmente a boa confecção, com um aquecimento acima dos 80.ºC e o correcto manuseamento dos alimentos, é o suficiente para prevenir a ingestão de toxinas perigosas.
“O risco que se mantém é se alguém tiver comprado estas alheiras e as tiver congelado, pelo que recomendamos que não sejam consumidas.”
No terreno Além do alerta público, a ASAE está no terreno a notificar todos os agentes que distribuíram este produto e revendedores. A autoridade não adianta, nesta fase, a quantidade de produto no mercado.
O i tentou ontem durante o dia contactar Luís Portugal, sem sucesso. Numa entrevista no início do ano à TVI, o empresário natural de Bragança, que no ano passado chegou à semifinal do Masterchef, contava como tinha criado uma laboratório de produtos regionais na antiga escola da aldeia do pai, também para ajudar a revitalizar uma região cada vez mais despovoada.
A escola foi cedida pela autarquia e a empresa candidatou-se a fundos comunitários para apoiar a divulgação da marca e internacionalização. Luís Pires Fernandes, presidente da União de Freguesias de Izeda, Calvelhe e Paradinha Nova, disse ontem ao i que o impacto deste incidente na economia da região é ainda incerto.
A unidade de produção em Paradinha Nova emprega duas pessoas, disse o autarca, explicando que isso faz a diferença numa aldeia de 100 habitantes. Antes de ser a fábrica de produtos regionais, a escola primária estava fechada há 15 anos, adiantou ainda.
Numa outra entrevista concedida este ano, a empresa traçava a internacionalização como objectivo e dava conta de um volume de negócios de 500 mil euros, cinco funcionários mas mais impactos indirectos.
“Conseguirmos dar emprego a 50 pessoas de forma directa e indirecta é, sem dúvida, um forte impulso para o desenvolvimento da região, mas a nossa preocupação é fixá-las”, disse Luís Portugal ao site “Café Portugal.”