Cuidem-se os convictos!


A desumanidade não tem limite, ultrapassa a nossa capacidade de cogitação! Disso são prova os milhões de deslocados e refugiados 


Do miradouro da Fraga, em Caminha,  a vista é esplêndida: a vila raiana, muito arranjadinha – aninhada nos arrabaldes das faldas da serra d’Arga -, o mar, o rio Minho, a Ínsua com seu Forte e, na outra banda,  o Monte de Santa Tecla em La Guardia: “Galiza mail´o Minho / são como dois namorados”, recordando os célebres versos de João Verde, poeta minhoto.   Aqui fica a foz do Minho, onde o rio encontra o mar num lânguido abraço.  Apenas o céu azul e o azul das águas em contraste com o verde intenso da Mata do Camarido. No vasto areal,  as gaivotas imprimem geométricas pegadas que rivalizam com os gritos que vão largando nos seus voos planados, enquanto algum turista acidental se passeia enlevado pela beleza inebriante que o rodeia. Logo adiante encontra-se a bela praia de Moledo – cuja aldeia mantém o traço de terra de gente abonada -, de quem se diz ser o local “onde o inverno vai passar o verão”, porque atreita a ventos e nevoeiros que, longe de a desfear, lhe dão personalidade.

A serra d’Arga, fustigada pelos incêndios deste verão, tem uma imensa capa negra a cobrir-lhe o habitual manto verde, qual dama recatada por um luto imerecido. As chamas andaram a lamber aldeias, tragaram-lhes animais e culturas, a custo lhes deixaram as casas. Imagina-se o susto! Oxalá as enxurradas de inverno não lhes venham roubar o pouco que lhes restou. 

A inclemência do tempo causa dano, mas a do homem… A desumanidade não tem limite, ultrapassa a nossa capacidade de cogitação! Disso são prova os milhões de deslocados e refugiados, que os mortos e os estropiados contam só para a estatística – como o défice agravado de 2014, Passos dixit, e o povo a penar sucessivos ajustamentos; que lata estanhada! E o chamado mundo civilizado a lançar achas na fogueira, interesses geopolíticos, e não só,  obligent! A dona Europa, para variar, anda aos  tropeções. Os “países de leste” da (des)União Europeia – como se não bastasse termos os “do norte” e os “do sul”, mas isso é outra conversa… – uniram-se e tomaram posição conjunta (?!): não aceitam receber refugiados. Alegam mil e uma razões, cada qual a mais bizarra, resumindo: não querem! E vá de levantar muros e barreiras, eles que viveram subjugados, atrás da Cortina de Ferro, o muro que a então União Soviética ergueu no período da Guerra Fria. Folgam agora, fazem finca-pé, porque sabem que nenhum Pacto de Varsóvia os vai obrigar, espezinhar.  A Hungria tem-se destacado na liderança, e o arame farpado de Órban, chefe do governo de Budapeste, lança o vilipêndio sobre os húngaros, como se todos fossem iguais e não houvesse quem  recorde a crise de 1956: 200 mil refugiados húngaros! No oposto, a chanceler alemã faz jus ao seu passado de exilada política: parabéns, Angela Merkel! Nem sempre se está do lado errado, mas… uma mão não lava a outra, por mais que se queira. Nem a Grécia passou à história, amestrada e submissa. Contra ventos e marés – e até sondagens… – o Syrisa voltou a vencer as eleições e Alexis Tsipras volta a ser primeiro-ministro, o tal que pôs muito boa gente à beira de um ataque de nervos.

Aparentemente foi vencido pelos senhores da Europa, aparentemente… Moral da história: as sondagens não são de fiar.

Cuidem-se os convictos!

Gestora
Escreve quinzenalmente ao sábado

Cuidem-se os convictos!


A desumanidade não tem limite, ultrapassa a nossa capacidade de cogitação! Disso são prova os milhões de deslocados e refugiados 


Do miradouro da Fraga, em Caminha,  a vista é esplêndida: a vila raiana, muito arranjadinha – aninhada nos arrabaldes das faldas da serra d’Arga -, o mar, o rio Minho, a Ínsua com seu Forte e, na outra banda,  o Monte de Santa Tecla em La Guardia: “Galiza mail´o Minho / são como dois namorados”, recordando os célebres versos de João Verde, poeta minhoto.   Aqui fica a foz do Minho, onde o rio encontra o mar num lânguido abraço.  Apenas o céu azul e o azul das águas em contraste com o verde intenso da Mata do Camarido. No vasto areal,  as gaivotas imprimem geométricas pegadas que rivalizam com os gritos que vão largando nos seus voos planados, enquanto algum turista acidental se passeia enlevado pela beleza inebriante que o rodeia. Logo adiante encontra-se a bela praia de Moledo – cuja aldeia mantém o traço de terra de gente abonada -, de quem se diz ser o local “onde o inverno vai passar o verão”, porque atreita a ventos e nevoeiros que, longe de a desfear, lhe dão personalidade.

A serra d’Arga, fustigada pelos incêndios deste verão, tem uma imensa capa negra a cobrir-lhe o habitual manto verde, qual dama recatada por um luto imerecido. As chamas andaram a lamber aldeias, tragaram-lhes animais e culturas, a custo lhes deixaram as casas. Imagina-se o susto! Oxalá as enxurradas de inverno não lhes venham roubar o pouco que lhes restou. 

A inclemência do tempo causa dano, mas a do homem… A desumanidade não tem limite, ultrapassa a nossa capacidade de cogitação! Disso são prova os milhões de deslocados e refugiados, que os mortos e os estropiados contam só para a estatística – como o défice agravado de 2014, Passos dixit, e o povo a penar sucessivos ajustamentos; que lata estanhada! E o chamado mundo civilizado a lançar achas na fogueira, interesses geopolíticos, e não só,  obligent! A dona Europa, para variar, anda aos  tropeções. Os “países de leste” da (des)União Europeia – como se não bastasse termos os “do norte” e os “do sul”, mas isso é outra conversa… – uniram-se e tomaram posição conjunta (?!): não aceitam receber refugiados. Alegam mil e uma razões, cada qual a mais bizarra, resumindo: não querem! E vá de levantar muros e barreiras, eles que viveram subjugados, atrás da Cortina de Ferro, o muro que a então União Soviética ergueu no período da Guerra Fria. Folgam agora, fazem finca-pé, porque sabem que nenhum Pacto de Varsóvia os vai obrigar, espezinhar.  A Hungria tem-se destacado na liderança, e o arame farpado de Órban, chefe do governo de Budapeste, lança o vilipêndio sobre os húngaros, como se todos fossem iguais e não houvesse quem  recorde a crise de 1956: 200 mil refugiados húngaros! No oposto, a chanceler alemã faz jus ao seu passado de exilada política: parabéns, Angela Merkel! Nem sempre se está do lado errado, mas… uma mão não lava a outra, por mais que se queira. Nem a Grécia passou à história, amestrada e submissa. Contra ventos e marés – e até sondagens… – o Syrisa voltou a vencer as eleições e Alexis Tsipras volta a ser primeiro-ministro, o tal que pôs muito boa gente à beira de um ataque de nervos.

Aparentemente foi vencido pelos senhores da Europa, aparentemente… Moral da história: as sondagens não são de fiar.

Cuidem-se os convictos!

Gestora
Escreve quinzenalmente ao sábado