“Não há consenso para quem tem visão autoritária do país e demonstra uma incapacidade em viver em democracia”. A líder bloquista, Catarina Martins, deu esta noite a nega final ao primeiro-ministro Passos Coelho, que apelou a um consenso político depois de dia 4 de Outubro. Se de manhã Catarina não se alongou na justificação, dizendo que não se poderia “levar a sério” um primeiro-ministro que "nem a Constituição respeita", esta noite, no comício de encerramento em Faro no auditório do Instituto Português da Juventude (IPJ), a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) elencou várias razões para não o fazer. E rematou, perante uma plateia cheia, com pessoas a assistir fora do auditório: “Onde não há vontade de mudar, vêm falar de consenso para que fique tudo na mesma."
Num discurso onde voltou a juntar PS e PSD na mesma crítica, Catarina Martins decidiu mostrar ao público as diferenças entre um “consenso” e uma “escolha”, isto é, continuar com as políticas de austeridade de direita ou escolher o Bloco que “defende a vida das pessoas”. “Não há consenso para quem quer defender as parcerias publico-privadas, para quem quer tapar o buraco do Novo Banco e para quem acha bem premiar os colégios privados. Não há consenso, há escolhas”. Por isso para o PSD não há mesmo hipótese de entendimentos com os bloquistas, nem na área da saúde, nem na educação ou nas privatizações.
A porta-voz do BE negou também qualquer entendimento político com os socialistas. Não “por má vontade”, mas por não existir diferença de “rumo e fundo”, entre “quem quer cortar as pensões ou reduzi-las por via do congelamento”, recordando as propostas da coligação e de António Costa para a Segurança Social. Compromisso do Bloco, esse, só há um: “com a sustentabilidade da Segurança Social”, disse.
Sobre os sucessivos empates técnicos das sondagens – sobre as quais Catarina não se tem alongado muito em comentários – preferiu rematar a questão, dizendo que “onde não há diferença em quem se vê empatado fala-se em consenso, mas nós não aceitamos falsas escolhas com aquilo que é igual”, terminou.
O cabeça-de-lista por Faro, João Vasconcelos, também tomou a palavra durante o comício para apelar ao voto dos mais jovens, "para que não desistam do país".
Mas o convidado de honra tinha um nome, Alfredo Barroso, o histórico socialista que não tem poupado críticas ao PS. Falou de "uma alterância sem alternativa que vicia o sistema democrático" para lançar duras críticas ao executivo de "Pedro PàF" e "Portas PàF", os rostos da "direita ultraliberal e revolucionária" que querem continuar a lucrar, ao lado dos mais ricos, com a austeridade.
Mas a principal curiosidade era saber se Barroso iria criticar, como tem feito, o Partido Socialista. E lá o fez, em jeito de aviso: "a esquerda rotativa, que pelos vistos não tem emenda, irá claudicar mais uma vez se alcançar o poder por incapacidade de resistir às forças não legitimadas democraticamente que continuam a condicionar as vidas de milhões de portugueses".
Porque para o agora apoiante do partido de Catarina Martins, tanto sociais-democratas, trabalhistas, conservadores, liberais e socialistas estão "rendidos à ideologia neoliberal" que se traduz num rotativismo "deprimente e estéril". O voto útil, e de "convicção" de Alfredo Barroso vai para o BE, terminando como habitualmente encerrava os comícios socialistas: "Viva a república, viva o socialismo, viva o Bloco!".
Mais um comício, mais distância aos principais partidos. Na agenda do Bloco para este sábado está novo salto além mar para os Açores.