Evereste.  Lá em cima é sempre longe demais

Evereste. Lá em cima é sempre longe demais


Foi o título de abertura do Festival de Veneza e estreia-se hoje em Portugal. A tragédia de 1996 no ponto mais alto do planeta transformada em filme pelo islandês Baltasar Kormakur  


Diz quem sabe – nós só repetimos – que as verdadeiras dificuldades de uma subida ao topo do Evereste não estão nas coisas mais técnicas do alpinismo. O que ameaça qualquer um que queira subir ao ponto mais alto da Terra é a quase ausência de oxigénio, as avalanches, as tempestades, a sobreexposição aos raios ultra-violeta e a cascata de gelo do glaciar de Khumbu. As expedições que em 1996 acabaram de forma trágica sofreram de todos estes males. E como se isto não bastasse, ainda foram acrescentadas algumas decisões questionáveis durante os trajectos. Está tudo no livro “Into Thin Air”, de Jon Krakauer, publicado em 1997 mas a história só agora foi transformada num blockbuster de Hollywood.

Na verdade, à “Entertainment Weekly” o realizador Baltasar Kormákur confessou que o livro de Krakauer não faz parte das principais inspirações para a narrativa que filmou, até porque “é o ponto de vista de uma só pessoa, com coisas que ele assume e que podem não ter acontecido”. A fonte-referência para o argumento terão sido as cassetes com as conversas gravadas durante o dia 10 de Maio de 1996 e o livro BeckWeathers, “Left For Dead”.Weathers (no filme é Josh Brolin) era um dos oito alpinistas que contrataram o guia Rob Hall (interpretado por Jason Clarke) e que ficou sem as duas mãos e o nariz. O outro chefe de expedição era ScottFischer (Jake Gyllenhaal), os dois eram amigos mas só fora da montanha, durante a subida eram patrões de empresas rivais, que em meados de 90 aproveitavam a crescente popularidade do Evereste para facturar forte e feio. Daí que a controvérsia faça parte da história.

Gyllenhaal disse ao site “Outside Online”: “Aqui não houve só actores confortavelmente instalados nas suas roulottes. Isto é gente que gosta de coisas físicas e que quer fazer umas merdas meio loucas.” A rodagem aconteceu em estúdio, claro que sim, mas também foi feita no Nepal, a quase cinco mil metros de altitude, e na cadeia montanhosa dos Dolomitas, em Itália, na parte sul dos Alpes. “Estivemos perto do acampamento base do Evereste”, contou Johs Brolin à rádio americana NPR. O realizador quis tornar tudo o mais problemático possível. E quando chegámos a Londres, em vez de neve havia sal pelo ar, empurrado por ventoinhas gigantes, o esfoliante mais forte que alguma vez se viu.”

Tudo somado, “Evereste” segue a melhor das receitas para fazer espectáculo na sala de cinema (e a parte do “bom ou mau” não entra aqui, não neste departamento): um filme tragédia, no mais hostil dos ambientes os planeta, com estrelas por toda a parte (fora os já referidos ainda há Robin Wright e Keira Knightley, por exemplo) e tecnologia por toda a parte (é possível ver o filme em Imax 3D). Curioso é lembrar que nesse tal ano de 1996 era rodado um outro“Evereste”, um documentário de David Breashears, Stephen Judson e Greg MacGillivray, que acompanha a preparação, a subida e a descida de um equipa de alpinistas. Foi lançado em 1998 e é ainda a fita feita para o formato Imax com a maior receita de sempre.