Alex Ferguson foi um dos melhores treinadores do mundo, com uma carreira longa, recheada de troféus, e com muitas histórias para contar. Desde que se reformou, o escocês passou a dedicar algum tempo à escrita, tendo lançado ontem em Inglaterra o segundo livro desde que abandonou o banco do Manchester United: “Leading”. Como as informações confidenciais nos Estados Unidos, que passadas algumas décadas são tornadas públicas, os livros de Ferguson contam histórias impossíveis de serem confirmadas quando aconteceram, e que nunca seriam admitidas pelo próprio na altura dos acontecimentos. Por essa razão, são livros a não perder.
Uma das histórias do livro que mais tinta está a fazer correr tem Ronaldo envolvido, como não poderia deixar de ser. Basicamente, Alex Ferguson revela que treinou grandes jogadores, mas que apenas quatro foram de classe mundial: Cantona, Giggs, Scholes, e Ronaldo. Ferguson vai mais longe sobre o português, considerando-o o ornamento no cimo de uma árvore de Natal e que, a par de Messi, é o único futebolista do presente de classe mundial. Mas há mais sobre o português, que um dia afirmou que se iria casar na Escócia, depois de um consultor financeiro trazido pelo Manchester United para ajudar os jogadores ter dito que as leis desse país favoreciam mais os maridos do que em qualquer outro lado.
Outro assunto do livro que gera uma grande curiosidade são as movimentações no mercado que o Manchester United não conseguiu concretizar. Nesse campo, o treinador escocês aborda sete casos que lhe ficaram atravessados na garganta. O mais frustrante deverá ter sido o de Ronaldo, o Fenómeno, para quem o Manchester United não conseguiu uma licença de trabalho, acabando por ver o brasileiro rumar ao PSV. Sergio Agüero foi um dos casos mais recentes, uma contratação que falhou porque o valor pedido pelo Atlético Madrid era demasiado elevado. Seguiu-se Petr Cech, considerado demasiado novo para a exigência da Premier League. Didier Drogba é outro dos arrependimentos de Ferguson, que travou perante o valor pedido e viu o Chelsea não pestanejar. Para a defesa, Ferguson queria deixar Varane de presente para o futuro do Manchester United e, quando tudo parecia acordado, Zidane adiantou-se e levou o francês para o Real Madrid. Outro caso foi o de Thomas Müller, um jogador observado por Ferguson desde os 10 anos, e a quem o Manchester só contactou no dia seguinte ao alemão ter assinado pelo Bayern Munique. O falhanço mais recente foi o de Lucas Moura, que o PSG roubou com uma proposta demasiado elevada para o clube inglês igualar.
Um dos temas mais interessantes foi a questão da sucessão do treinador escocês. Muito se falou sobre Guardiola e Mourinho, mas Ferguson esclareceu que o catalão era a primeira opção. O escocês jantou com Guardiola e pediu-lhe para que este lhe ligasse antes de aceitar uma oferta de outro clube, mas Guardiola nunca o fez, e acabou por rumar a Munique. David Moyes, o treinador que acabou por suceder a Ferguson, era apenas a sexta opção, e o único que parecia disponível. José Mourinho, Jurgen Klopp, Louis van Gaal e Carlo Ancelotti eram os outros nomes em carteira.
Mas há mais no livro relacionado com Portugal, com Alex Ferguson a admitir toda a sua admiração por Carlos Queiroz, que no seu entender poderia ter sido o seu sucessor, caso não tivesse trocado o Manchester United pelo Real Madrid, e depois por Portugal, “uma má decisão que se tornou desastrosa para ele”. Também a questão dos agentes é abordada no livro, com Ferguson a afirmar não gostar da maioria, em específico de Kia Joorabchian e Mino Raiola, os representantes de Carlos Tévez e Paul Pogba, respectivamente. Jorge Mendes aparece do lado dos bons, por ter sempre agido de acordo com os melhores interesses dos seus clientes.
Muito do que aparece escrito é apenas a constatação de factos, que deixam um sorriso no leitor ao ver que Ferguson os admite. À cabeça, a questão de ser um ditador, não gostando de jogadores que tentassem usurpar o seu controlo o que, nas suas palavras, explica algumas das vendas realizadas pelo Manchester United. Os ordenados também eram uma questão que interessava a Ferguson, que não aceitou ver o salário de Rooney duplicar, fazendo com que o avançado passasse a ganhar o dobro do que o treinador escocês auferia na altura. A decisão foi simples: nenhum jogador receberia mais do que Ferguson. Mas o escocês também sabe admitir os seus erros, como quando disse a Jaap Stam, em plena bomba de gasolina, que o defesa holandês iria jogar para a Lazio, ou quando vendeu o seu filho Darren ao Wolves, algo que a sua mulher ainda hoje não lhe perdoa.
Se ficou curioso, poderá encomendar o livro de 448 páginas e lê-lo na versão original, em inglês, ou esperar mais um pouco para que a tradução chegue a Portugal.