Autoeuropa treme com escândalo da manipulação de emissões da Volkswagen

Autoeuropa treme com escândalo da manipulação de emissões da Volkswagen


A fabricante usou um chip para manipular dados. As vendas de carros a diesel nos EUA estão suspensas.


A Autoeuropa, fábrica portuguesa da Volkswagen, não é abrangida pelo escândalo nos Estados Unidos, em que foram falseadas as emissões de alguns modelos da marca, arriscando uma multa de de 18 mil milhões de dólares e pondo em causa os seus planos de expansão em território americano. Ao que o i apurou a fábrica de Palmela exportou para o mercado americano o modelo Eos, mas a gasolina. Contactada pela i, fonte da Autoeuropa não quis prestar declarações, remetendo uma explicação para o comunicado oficial da Alemanha que diz apenas que a “Volkswagen está empenhada em corrigir esse problema o mais rápido possível. Queremos garantir aos clientes e proprietários destes modelos que os seus automóveis são seguros para conduzir e estamos a trabalhar para desenvolver uma solução que cumpre as normas de emissões”.

{relacionados}

Em relação aos automóveis afectados, a casa-mãe da marca refere que “os proprietários desses veículos não precisam de  tomar nenhuma acção no momento”.

Problemas em Palmela Fonte da fábrica de Palmela admite que este caso de falseamento de emissões é inédito e, por isso, mesmo, não sabe como é que a marca vai resolver a situação. “Já assistimos a casos em que há problemas com determinadas peças de modelos que são vendidos e estes casos são simples de resolver. Os proprietários desses veículos são chamados à fábrica para que essas peças sejam substituídas. Mas esta situação é diferente,  já que estamos a falar da instalação de um chip que serve para deturpar informações sobre a emissão de gases poluentes”, salienta. 

Nas últimas duas semanas, alguns veículos produzidos na fábrica de Palmela foram recolhidos por problemas no airbag: o Scirocco, na China e o Eos, no Brasil. Segundo a informação publicada no site da Volkswagen do Brasil, o defeito em causa pode implicar “risco de danos físicos ou fatais ao motorista, devido à não deflagração do airbag em uma colisão que demande o seu accionamento”.

A empresa em Portugal emprega 3600 trabalhadores e com o fim do modelo Eos está a produzir diariamente 460 veículos em vez dos 500 por dia que fábrica. E apesar da Autoeuropa não estar directamente envolvida com esta fraude acaba por ser afectada tanto pela situação financeira do grupo como pela imagem da empresa que sai danificada. Para já, o impacto faz-se já sentir na negociação em bolsa da Volkswagen. As acções da empresa chegaram a cair mais de 20% em Frankfurt. A quebra em valor atinge os 15,6 mil milhões de euros.

Vendas suspensas nos EUA  O que é certo é que é a primeira vez que a fabricante automóvel alemã admite ter instalado um “dispositivo manipulador” de emissões em meio milhão dos seus veículos a diesel (a gasóleo) produzidos entre 2009 e 2015 nos automóveis a gasóleo de quatro cilindros. Quando sujeitos aos testes de controlo de emissões nos Estados Unidos da América, os veículos respeitavam os limites impostos pela lei. No entanto, na estrada, e sem o dispositivo em funcionamento, esses níveis podiam ser até 40 vezes superiores ao permitido. 

O presidente do grupo alemão já veio lamentar ter “quebrado a confiança” dos seus clientes e do público em geral. Uma das primeiras consequências para esta fraude é a suspensão da venda dos carros com motores a diesel integrados nos Estados Unidos. Entre eles está o Volkswagen Passat e o Jetta. Este escândalo acaba também por afectar a estratégia da marca para o mercado norte-americano que passava por vender carros a gasóleo com motores poderosos e poucas emissões, uma forma de ganhar quota, já que no ano passado as vendas nos Estados Unidos tinham caído 10% para 366.970 unidades.

Segundo a legislação norte-americana, a multa para este tipo de infracções pode chegar aos 18 mil milhões de dólares e não está posta de parte uma acção criminal. 

Como foi detectada a fraude? Peter Mock, responsável por uma associação dedicada ao estudo do ar, depois de verificar discrepâncias nos testes europeus dos modelos diesel Volkswagen Passat e Jetta e BMW X5 quis replicar esses testes nos Estados Unidos.  O objectivo era analisar se as versões americanas dos veículos passariam nos testes de emissão e mostrar aos europeus que o diesel é uma opção “limpa”. “Não tínhamos nenhum motivo de suspeita. Pensámos que os veículos seriam limpos”, afirmou. A sua equipa pediu ajuda à West Virginia University para os testes. Os veículos passaram pelo laboratório, mas foram os resultados na estrada que acabaram por despoletar toda esta polémica.