A noite aqueceu, em Vila Real, depois de um dia de campanha com pouco para contar pelo distrito de Bragança. O responsável foi Augusto Santos Silva, o ex-ministro do PS que subiu ao palco para baptizar Pedro Passos Coelho de “verdadeiro lapsista”. Depois dele, o cabeça-de-lista por Vila Real, Ascenso Simões, havia de falar no mesmo púlpito para dizer que António Guterres e José Sócrates estão na “luta e nos corações socialistas”.
Num comício cheio no Largo da Capela Nova, no centro de Vila Real, o cabeça de cartaz veio do Porto. Augusto Santos Silva foi até à campanha para fazer um ataque cerrado ao governo, na pessoa de Pedro Passos Coelho. “É um verdadeiro lapsista”, disse Santos Silva depois de falar no erro já assumido pelo primeiro-ministro e que foi cometido por Passos esta segunda-feira quando disse ter antecipado o pagamento de 5 mil milhões de euros ao FMI. Costa não falou nisto, mas Santos Silva não perdeu a deixa e juntou-lhe outros “lapsos”, enumerando cortes nas pensões, no 13º e 14º meses, o aumento de impostos, entre outras medidas aplicadas pelo governo.
“Tantos lapsos que, a nós que somos do Norte, cheira mais a aldrabice do que a simples erro”. E Santos Silva ainda acrescentou: “Só há uma maneira de fazer com que Passos Coelho não cometa mais lapsos, que é pôr António Costa a chefiar o próximo governo”. “É com o PS que se acabam os lapsos e que se acaba com a cegarrega das aldrabices”, rematou o ex-ministro do PS que nestas eleições está fora da listas de candidatos a deputado. Mesmo na recta final da intervenção que foi aquecendo o largo, o microfone falhou. Santos Silva seguiu com o mesmo ritmo e fez os socialistas rirem atirando: “Nem o microfone aguenta a minha pedalada.”
"QUEREMOS AS NOSSAS GALINHAS" Depois dele falou o cabeça-de-lista Ascenso Simões que abriu a intervenção com duas referências que ainda não tinham surgido nesta campanha: António Guterres e José Sócrates. “Foi no tempo deles que o nosso distrito mais investimento teve e que conseguiu ligar-nos ao litoral e ter melhores condições de vida”. Logo de seguida garantiu que “os transmontanos não esquecem que os ajudou. Estão sempre presentes na nossa luta e nos nossos corações”.
O ex-director de campanha de Costa, que saiu na sequência dos cartazes polémicos, também não poupou governo e falou na “traição aos transmontanos” (as raízes de Passos Coelho estão em Vila Real). “Tudo o que prometeu não cumpriu e é por isso que a 4 de Outubro vamos pô-lo na rua que é onde ele deve estar”. O socialista enumerou “os problema na saúde”, com a falta de médicos no interior, e o “abandono da agricultura e dos agricultores” e aqui houve direito a trocadilho: “Queremos as nossas galinhas, queremos continuar a ter os nossos coelhos, não o Coelho que não nos liga nenhuma.”
AJUSTE DE CONTAS Para António Costa sobrou pouco nos ataques ao governo. Mas na sua intervenção, a fechar o comício, houve tempo para um ajuste de contas que ainda vem da semana passada, do debate com Pedro Passos Coelho na rádio. Nesse dia, Costa foi atacado por Passos por não explicar que cortes aplicará nas prestações sociais para conseguir poupar os mil milhões de euros na próxima legislatura, tal como o seu programa eleitoral indica. Costa nunca tinha explicado com clareza em que prestações ia introduzir o critério da condição de recursos. No comício desta segunda-feira disse que o PS “não só não vai cortar o rendimento a ninguém como vai devolver rendimento que é devido aos que foram vítimas da austeridade deste governo e não vai permitir que haja novas vítimas e novos cortes que este governo quer fazer com cortes nas prestações”.