Adeus, Ricardo


“Tenho de lá ir”, disse com frequência a amigos comuns. Mas a verdade é que nunca fui. Com o meu pai foi igual, nos últimos dias do seu sofrimento deixei de ir. 


Não é fácil lidar com a morte. Sobretudo daqueles de quem gostamos e de quem esperamos assistir a alcançarem coisas boas. O Ricardo, que lutava contra o cancro, morreu. Muito novo. Aos 29 anos. Já me tinha referido a ele num artigo que aqui escrevi a propósito do cancro do meu pai, dos comentários depreciativos sobre semelhante doença da mulher de Passos Coelho e da dor insuportavelmente crescente que eles, e quem os rodeia, enfrentam.

Encarava a doença com uma força e uma determinação como poucos. Era assim o Ricardo. Esperançoso, alegre e determinado. Nunca deixou de sorrir, mesmo perto do fim. Ensinou-nos com a sua morte, mas sobretudo com a maneira como encarou o seu carrasco, muito sobre a importância das coisas que realmente contam e que para nós, saudáveis arrogantes, não passam de pormenores que valorizamos apenas na enfermidade ou no breve luto de um ente próximo. Nunca tive coragem de o visitar neste seu último internamento. Acobardei-me sempre.

"Tenho de lá ir”, disse com frequência a amigos comuns. Mas a verdade é que nunca fui. Com o meu pai foi igual, nos últimos dias do seu sofrimento deixei de ir. Não quis pactuar com aquela impotência. Não por me achar mais forte que eles. Mas porque me repugna a sensação de nada poder fazer para parar com aquele terrível definhamento em que mais não somos do que marionetas nas mãos de um destino cruel e brutal, sem que o tivéssemos pedido. Tão fortes para umas coisas e tão fracos para outras. É assim que somos. 

Sei que o Ricardo me perdoará. Porque me mostrou que a esperança não o abandonou, que há legados que ficam para nos corrigir, e porque me ensinou que não há nada mais importante do que as pequenas grandes coisas da vida. Porque era inquestionavelmente bom. 

Deputado
Escreve à segunda-feira 

Adeus, Ricardo


"Tenho de lá ir”, disse com frequência a amigos comuns. Mas a verdade é que nunca fui. Com o meu pai foi igual, nos últimos dias do seu sofrimento deixei de ir. 


Não é fácil lidar com a morte. Sobretudo daqueles de quem gostamos e de quem esperamos assistir a alcançarem coisas boas. O Ricardo, que lutava contra o cancro, morreu. Muito novo. Aos 29 anos. Já me tinha referido a ele num artigo que aqui escrevi a propósito do cancro do meu pai, dos comentários depreciativos sobre semelhante doença da mulher de Passos Coelho e da dor insuportavelmente crescente que eles, e quem os rodeia, enfrentam.

Encarava a doença com uma força e uma determinação como poucos. Era assim o Ricardo. Esperançoso, alegre e determinado. Nunca deixou de sorrir, mesmo perto do fim. Ensinou-nos com a sua morte, mas sobretudo com a maneira como encarou o seu carrasco, muito sobre a importância das coisas que realmente contam e que para nós, saudáveis arrogantes, não passam de pormenores que valorizamos apenas na enfermidade ou no breve luto de um ente próximo. Nunca tive coragem de o visitar neste seu último internamento. Acobardei-me sempre.

"Tenho de lá ir”, disse com frequência a amigos comuns. Mas a verdade é que nunca fui. Com o meu pai foi igual, nos últimos dias do seu sofrimento deixei de ir. Não quis pactuar com aquela impotência. Não por me achar mais forte que eles. Mas porque me repugna a sensação de nada poder fazer para parar com aquele terrível definhamento em que mais não somos do que marionetas nas mãos de um destino cruel e brutal, sem que o tivéssemos pedido. Tão fortes para umas coisas e tão fracos para outras. É assim que somos. 

Sei que o Ricardo me perdoará. Porque me mostrou que a esperança não o abandonou, que há legados que ficam para nos corrigir, e porque me ensinou que não há nada mais importante do que as pequenas grandes coisas da vida. Porque era inquestionavelmente bom. 

Deputado
Escreve à segunda-feira