A virgindade governativa do PCP


Será que este PCP do poder local vai conseguir convencer o PCP nacionalde que chegou a hora de se juntar ao arco formal da governação em Portugal?


“Quem é que combateu a política do governo? O PS esteve ausente. Deixou-nos sozinhos com os trabalhadores.” Jerónimo de Sousa

António Costa, secretário-geral do Partido Socialista, poucas semanas após ter sido confirmado em congresso “líder” do PS, afirmou várias vezes em público que estava a chegar o tempo de em Portugal acontecer o que já tinha acontecido noutros países da Europa: a possibilidade de as esquerdas da esquerda chegarem ao poder, e muito em particular o PCP. António Costa disse-o e fundamentou-o referindo que se tal não acontecer, estaremos a alhear uma parte do eleitorado português de também fazer parte do chamado arco governativo do nosso país.

Este sinal foi interpretado, em simultâneo com a manifesta simpatia pela vitória do Syriza na Grécia (e críticas ao partido-irmão PASOK), com a ida ao congresso do Partido Livre da esquerda-caviar e folclórica e com o abraço ideológico e programático a Sampaio da Nóvoa, como a vontade de o PS governar à esquerda, federar as esquerdas e assumir a vontade de acabar com a virgindade governativa do PCP. Esse caminho e essa vontade manifestada nos últimos nove meses tem tido altos e baixos. E tem merecido cada vez mais desconfiança entre o eleitorado socialista, a fazer fé no que se percepciona no espaço público e mediático. E têm sido muitas as análises na forma e no conteúdo que confirmam que esta vontade é (tem sido) um grande risco para António Costa e para o PS.

Em plena campanha eleitoral para as eleições de Outubro, constata-se que no dia-a-dia, para o PS, o PCP poderá (ou não) vir a ser a chave da eventual viabilidade de um seu governo. Sendo assim, impõe-se que se pergunte se isso interessa aos portugueses. E ao PCP. Será que o PCP estará disponível para perder a sua virgindade governativa nacional? A preço de quê? Por quanto tempo? E com que consequências para o seu futuro no médio e longo prazo? Salvo outras opiniões, é preciso ter presente o que é e tem sido o PCP para o sistema político nacional e para a democracia política, social e cultural.

O PCP é, na prática, o dono da rua, do protesto, o partido com maior ligação formal e informal ao meio sindical e contestatário. Mesmo com as disfuncionalidades do poder da rua e do protesto, é de longe quem melhor o mobiliza e percepciona, ficciona e protagoniza (sem ceder aos protestos inorgânicos marginais ao sistema). O PCP, por outro lado, nos órgãos de soberania é um partido institucionalista, respeitador das instituições e até – há que dizê-lo no quadro da actual sociedade do espectáculo e da informalidade – um partido soberanista, da “defesa intransigente da soberania nacional” e “dos mais profundos valores do povo português”. Estes dados do PCP nacional completam-se.

 vivem muito um do outro numa dialéctica muito inteligente. Existe depois o PCP do poder local. Que é um PCP pragmático que há décadas desceu à realidade, que aposta tanto no social como na economia, na ligação à economia privada, e que não tem devaneios ideológicos ortodoxos. O PCP do poder local perdeu a virgindade governativa (municipal) muito cedo, e nisso foi muito precoce! Será que este PCP do poder local vai conseguir convencer o PCP nacional de que chegou a hora de, após os devaneios pré-constitucionais de 1976, perder a virgindade governativa e juntar-se assim ao arco formal da governação em Portugal? Julgo que, no período pós-eleitoral de 4 de Outubro, isso vai estar em cima da mesa.

Ao longo da sua história, foram muitos os bons quadros políticos que saíram do PCP (muitos em dissidência) por perceberem que não passavam de protagonistas do protesto e cultores da oposição a todos os governos. E no quadro europeu, é bom que se perceba que, se o PCP é um dos partidos comunistas com mais força, é porque ainda não teve de governar. Outros, quando tiveram de governar, quase desapareceram. E, hoje como nunca, governar é cada vez mais descontentar. E descer à realidade. Será que o PCP está disponível em 2015 para isso? Ou prefere esperar mais uns anos? 

Escreve à segunda-feira 

A virgindade governativa do PCP


Será que este PCP do poder local vai conseguir convencer o PCP nacionalde que chegou a hora de se juntar ao arco formal da governação em Portugal?


“Quem é que combateu a política do governo? O PS esteve ausente. Deixou-nos sozinhos com os trabalhadores.” Jerónimo de Sousa

António Costa, secretário-geral do Partido Socialista, poucas semanas após ter sido confirmado em congresso “líder” do PS, afirmou várias vezes em público que estava a chegar o tempo de em Portugal acontecer o que já tinha acontecido noutros países da Europa: a possibilidade de as esquerdas da esquerda chegarem ao poder, e muito em particular o PCP. António Costa disse-o e fundamentou-o referindo que se tal não acontecer, estaremos a alhear uma parte do eleitorado português de também fazer parte do chamado arco governativo do nosso país.

Este sinal foi interpretado, em simultâneo com a manifesta simpatia pela vitória do Syriza na Grécia (e críticas ao partido-irmão PASOK), com a ida ao congresso do Partido Livre da esquerda-caviar e folclórica e com o abraço ideológico e programático a Sampaio da Nóvoa, como a vontade de o PS governar à esquerda, federar as esquerdas e assumir a vontade de acabar com a virgindade governativa do PCP. Esse caminho e essa vontade manifestada nos últimos nove meses tem tido altos e baixos. E tem merecido cada vez mais desconfiança entre o eleitorado socialista, a fazer fé no que se percepciona no espaço público e mediático. E têm sido muitas as análises na forma e no conteúdo que confirmam que esta vontade é (tem sido) um grande risco para António Costa e para o PS.

Em plena campanha eleitoral para as eleições de Outubro, constata-se que no dia-a-dia, para o PS, o PCP poderá (ou não) vir a ser a chave da eventual viabilidade de um seu governo. Sendo assim, impõe-se que se pergunte se isso interessa aos portugueses. E ao PCP. Será que o PCP estará disponível para perder a sua virgindade governativa nacional? A preço de quê? Por quanto tempo? E com que consequências para o seu futuro no médio e longo prazo? Salvo outras opiniões, é preciso ter presente o que é e tem sido o PCP para o sistema político nacional e para a democracia política, social e cultural.

O PCP é, na prática, o dono da rua, do protesto, o partido com maior ligação formal e informal ao meio sindical e contestatário. Mesmo com as disfuncionalidades do poder da rua e do protesto, é de longe quem melhor o mobiliza e percepciona, ficciona e protagoniza (sem ceder aos protestos inorgânicos marginais ao sistema). O PCP, por outro lado, nos órgãos de soberania é um partido institucionalista, respeitador das instituições e até – há que dizê-lo no quadro da actual sociedade do espectáculo e da informalidade – um partido soberanista, da “defesa intransigente da soberania nacional” e “dos mais profundos valores do povo português”. Estes dados do PCP nacional completam-se.

 vivem muito um do outro numa dialéctica muito inteligente. Existe depois o PCP do poder local. Que é um PCP pragmático que há décadas desceu à realidade, que aposta tanto no social como na economia, na ligação à economia privada, e que não tem devaneios ideológicos ortodoxos. O PCP do poder local perdeu a virgindade governativa (municipal) muito cedo, e nisso foi muito precoce! Será que este PCP do poder local vai conseguir convencer o PCP nacional de que chegou a hora de, após os devaneios pré-constitucionais de 1976, perder a virgindade governativa e juntar-se assim ao arco formal da governação em Portugal? Julgo que, no período pós-eleitoral de 4 de Outubro, isso vai estar em cima da mesa.

Ao longo da sua história, foram muitos os bons quadros políticos que saíram do PCP (muitos em dissidência) por perceberem que não passavam de protagonistas do protesto e cultores da oposição a todos os governos. E no quadro europeu, é bom que se perceba que, se o PCP é um dos partidos comunistas com mais força, é porque ainda não teve de governar. Outros, quando tiveram de governar, quase desapareceram. E, hoje como nunca, governar é cada vez mais descontentar. E descer à realidade. Será que o PCP está disponível em 2015 para isso? Ou prefere esperar mais uns anos? 

Escreve à segunda-feira