Grécia. Os cenários, as coligações e o futuro pós-eleitoral

Grécia. Os cenários, as coligações e o futuro pós-eleitoral


Perto de dez milhões de gregos são hoje chamados às urnas para decidir o novo governo do país, numa luta que as sondagens prometem ser até ao último voto. Além do vencedor, gregos decidem quem será o seu futuro aliado


Sem que as sondagens tenham conseguido atribuir um favorito claro para as eleições gregas, a votação deste domingo poderá ser apenas o primeiro passo de uma semana longa de negociações entre partidos até se forjar uma coligação maioritária para governar – este executivo terá a cargo a tarefa de implementar o terceiro resgate.

Os problemas de não surgir um governo maioritário na fase actual foi um dos tópicos mais recorrente nas quatro semanas de campanha, pois o eventual atraso na formação de um governo maioritário pode significar atrasos na implementação de medidas já aprovadas por Bruxelas e "aceites" pelo parlamento grego. E quando a Grécia – e o FMI, analistas, comentadores, economistas e prémios Nobel – procuram que os credores aceitem renegociar a dívida, atrasos é a última coisa que se quer.

"A Grécia terá que agir de forma rápida depois das eleições", comentou Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank em Londres, em declarações à "Bloomberg". "Progressos rápidos são essenciais para se reconstruir a confiança no governo e no futuro, confiança necessária para que alguns fluxos de capitais sejam revertidos e para travar a queda do investimento."

O Bom Em termos de cenários possíveis, o melhor resultado – ou seja, o "melhor" em termos de não lançar o pânico nas capitais europeias – será que as eleições resultem num governo maioritário, de coligação e de claro pendor pro-Europeu, seja liderado pelo Syriza seja liderado pela Nova Democracia, explicou Michael Michaelides, do Royal Bank of Scotland, à "Bloomberg".

Um governo com este alinhamento seria visto como com mais vontade de implementar as medidas exigidas pelos credores em troca do terceiro empréstimo a Atenas – de 86 mil milhões de euros -, explicou o analista. Escusado será dizer que de Bruxelas às sedes de bancos, a preferência vai para uma vitória da direita-conservadora, a Nova Democracia.

No caminho para este cenário de um governo pro-Europeu, alguns obstáculos: apesar da luta renhida, o Syriza vai surgindo à frente nas sondagens e não quer uma aliança com a Nova Democracia. Entre os restantes partidos, Tsipras privilegia os Gregos Independentes (ANEL) para uma futura coligação. Alexis Tsipras admitiu também coligar-se com Pasok e Potami, tal como a ND fez, já que ambos são favoráveis ao resgate.

Segundo a lei grega, e independentemente da vantagem sobre o segundo, o partido vencedor ganha automaticamente 50 lugares extra no parlamento. Depois das eleições, e sem uma maioria de um partido, os três partidos mais votados são convocados à vez e terão três dias para formar uma coligação através de contactos com as restantes organizações políticas. De notar ainda que caso o vencedor das eleições fique longe da fasquia dos 30%, o presidente poderá decidir avançar com um novo acto eleitoral – improvável.

O Mau Um governo liderado pelo Syriza "sem o apoio do Potami ou do Pasok" é visto por Michaelides como um mau cenário – ou seja, se o Syriza voltar a coligar-se com o ANEL a ideia não será bem recebida por Bruxelas e pelos bancos. Isto ocorre porque a implementação do resgate "vai depender dos Gregos Independentes e de uma maioria muito curta", explicou o analista do RBS. O ANEL é contra o resgate e deverá ter uma votação próxima (ou aquém) do limiar mínimo para eleger um deputado.

"Um mau resultado será termos um parlamento muito fragmentado, com o Syriza e a ND a terem votações curtas, exigindo uma coligação muito alargada para se chegar à maioria", explicou Lefteris Farmakis, analista do Nomura, em citações à "Bloomberg".

O Vilão Um dos piores cenários que pode sair das eleições deste domingo é precisamente um parlamento fragmentado ao ponto de exigir mais quatro partidos para que o vencedor chegue à maioria. Neste caso será necessário ter pelo menos um partido anti-austeridade no governo ou então convocar novas eleições.

A Unidade Popular, de Panagiotis Lafazanis, seria então um dos partidos a contactar. Mas este partido nasceu da cisão da Plataforma de Esquerda do Syriza, é abertamente contra o terceiro resgate e defende a saída de Atenas da moeda única. Ou seja, é melhor nem contactar.

Um cenário que levanta igualmente preocupações é a votação que a Aurora Dourada, de extrema-direita, irá conseguir. As sondagens mantêm o apoio do partido ao nível do que conseguiu em Janeiro último, quando chegou aos 6,3%, mas os receios de que possa crescer existem.