© Paul White/AP
Bitarães. Isso existe? Existe, pois. E é terra de gente boa. Para início de conversa, tem um café central. Pumba, vai buscar, 1-0. No centro, uma igreja.Oleeeé, dois-zero. À esquerda, um salão de jogos com matrecos dispostos em linha. M-a-r-a-v-i-l-h-a. À direita, um conjunto de curiosos sub-70 a absorver aquele ambiente festivo, entre cânticos académicos, levantamento de minis e pontaria aos noivos com arroz. Noivos? (dito com voz estridente).
Noivos, sim. Iolanda e José Pedro, vulgo Seabra, dão o nó na tal igreja e não o desatam mais. Lá se vai o sábado, o domingo e até a segunda-feira. É todo um fim-de-semana perdido (futebolisticamente falando, claro).
Passa-se ao lado da bola e não se vê o Everton-Chelsea às 12h45 nem o Espanyol-Madrid às 15h00, muuuuuito menos o Atlético-Barça à noite. Vira-se a noite, vive-se o dia de testa enrugada e olhos semicerrados, como que a pedir desculpa ao sol. Vai daí, o Rio Ave-Sporting é mentira. Tal como a reviravolta na última etapa da Vuelta, a final feminina do US Open (e ainda a masculina), os oitavos-de-final do Eurobasket.
Tudo, tudo, tudo, mas tudo é esquecido. Somos ultrapassados na curva. A culpa não é só nossa. É também dos camarões, do presunto, dos mexilhões, do bacalhau, do cabrito e do queijo. E da polaroid das fotos instantâneas. E da música (falha, grande falha: não dá Vengaboys, tsc tsc). Bom, seja como for, blackout desportivo durante 72 horas.
Significa isso que a manita de Ronaldo ao Espanyol, em Barcelona, não é da nossa conta. Insistimos na tecla do tsc, tsc. Que pena. E vergonha. Ainda por cima, Ronaldo faz uma assistência para Benzema e participa assim em todos os golos do 6-0. Admirável. A mão-cheia de golos (daí o termo manita) de Ronaldo faz-me logo lembrar aquelas duas últimas jornadas do campeonato nacional 97-98, em que Jardel marca cinco ao Salgueiros num 7-2 do Porto nas Antas e Nuno Gomes (Benfica) responde na mesma moeda vs. Leça, na Luz (7-1).
Baixo o quadro de resultados e vejo 2-1 do Barça, em Madrid, ao Atlético. Ao intervalo, 0-0. Na segunda parte, 1-0 de Torres, 1-1 de Neymar e 1-2 de Messi. Normal, vá. Nada demais. Vira-se a noite. Outra. Bem mais fresco, o sol é visto com outros olhos. E é então que… Messi começa a suplente no Vicente Calderón. Quando o Atleti marca, Diego Simeone nem festeja. Simplesmente vira-se e encosta-se ao banco. A explicação é dada no final do jogo: “Vi o Messi a aquecer.”
O Barça empata logo a seguir, num livre do arco- -da-velha de Neymar. Mal é assinalada falta, o brasileiro pede a bola com um entusiasmo fora do comum. Até parece que sabe que ela vai entrar no canto, onde a coruja dorme. E não é que entra mesmo? Perto do fim, Messi resolve.
O homem passa a semana anterior em Buenos Aires (bis à Bolívia, 6-0), salta para Dallas no sábado (é o autor do 2-2 vs. México), voa directamente para a maternidade de Barcelona, onde é pai do segundo filho (Mateo), e aterra em Madrid sem um único treino nos últimos seis dias.Por tudo isso, é banco com ele. Pelas imagens televisivas, é entretenimento puro. Ri-se e coça a barriga. De repente, Luis Enrique diz-lhe “entra aí, ó Leo”. E ele faz o dele. Sem cerimónia – elementar, o homem não estava em Bitarães.
Editor de desporto
Escreve à sexta