Metro de Lisboa – relação “amor-ódio”


Quando ando de metro, ‘vou, mas vou contrariado’: a razão diz-me para o utilizar, mas o coração vai revoltado!


© Shutterstock

Sou um fervoroso adepto do Metro como meio de transporte urbano. Sendo adepto não sou mero defensor teórico. Até em Lisboa sou utilizador diário deste meio de transporte. Ao invés da maioria dos meus amigos, que utilizando-o no estrangeiro se recusam a utilizá-lo cá na nossa capital – já se perceberá porquê –, esforço-me por utilizar o Metro cá sempre que possível.

Insisto em não ter “passe” por teimosia, acabando por gastar em bilhetes muito mais do que gastaria se utilizasse “passe”… mas as razões para dar o lucro indevido a esta empresa pública travestida de ente privado resultam precisamente dessa relação de amor-ódio: mantenho a relação física, mas recuso formalizações!

Como cidadão urbano, habituado a deslocar-me nesse meio de transporte em qualquer cidade europeia, concluo que se o faço lá fora devo, por maioria de razão, fazê-lo cá dentro. E até passo a vida a encorajar toda a gente a fazer o mesmo… Principalmente porque o “nosso” Metro até teria condições materiais para ser muito melhor que outros.

Porém há uma série de características do nosso Metro que me levam – e a parte dos Lisboetas que recusam utilizá-lo – a achá-lo insuportável. Não o meio de transporte, mas a Instituição. E é fácil perceber porquê.

Antes de mais é uma instituição “putinista” no que à aceitação da diferença diz respeito, como o demonstraram factos noticiados há poucos meses. Se o Conselho de Administração desta empresa utilizasse o Metro de Madrid, veria anunciado milhares de vezes aquilo que cá recusou publicitar. Com isso Madrid ganha milhões de euros. Lisboa perde-os.

Por outro lado é uma instituição que desrespeita os seus utentes, pelo estado lastimoso em que por décadas deixa estar as paredes da principal estação da rede, a Rotunda, actual Marquês de Pombal. Enquanto nó principal da rede, na zona central da cidade, não se compreende que seja impossível eliminar as vergonhosas infiltrações que parece remontarem aos tempos do próprio Marquês. Para já não dizer que onde não há infiltrações, a sujidade das paredes dá dó! Quantos salários de administração seriam necessários para reparar e pintar a estação?

Pior que tudo: a instituição abusa da boa-fé de quem paga para fruir dos serviços, tendo a política de, pelo menos na Estação Baixa-Chiado (saída Chiado), ter desligadas aleatoriamente, mas todas as noites, duas ou três das escadas rolantes, alegando avaria. Obriga assim os utentes, carregados de malas (na zona histórica a maioria são turistas), a suportar o calvário da subida de centenas de degraus.

As placas de avaria de equipamento estão lá sempre afixadas: ora rodadas num sentido, ora noutro, conforme a Empresa decide desligar uma ou outra das escadas. Anunciam avarias que só podem ser inexistentes, o que se vê quando os funcionários religam uma escada e viram as placas… não é bonito!

Por fim, é o meio de transporte em que os funcionários são menos afáveis… e que mais greves fazem por ano. Por isso, para utilizar uma imagem criada por Raul Solnado, quando ando de metro, “vou, mas vou contrariado”: a razão diz-me para o utilizar, mas o coração vai revoltado!

Advogado
Escreve à sexta-feira

Metro de Lisboa – relação “amor-ódio”


Quando ando de metro, ‘vou, mas vou contrariado’: a razão diz-me para o utilizar, mas o coração vai revoltado!


© Shutterstock

Sou um fervoroso adepto do Metro como meio de transporte urbano. Sendo adepto não sou mero defensor teórico. Até em Lisboa sou utilizador diário deste meio de transporte. Ao invés da maioria dos meus amigos, que utilizando-o no estrangeiro se recusam a utilizá-lo cá na nossa capital – já se perceberá porquê –, esforço-me por utilizar o Metro cá sempre que possível.

Insisto em não ter “passe” por teimosia, acabando por gastar em bilhetes muito mais do que gastaria se utilizasse “passe”… mas as razões para dar o lucro indevido a esta empresa pública travestida de ente privado resultam precisamente dessa relação de amor-ódio: mantenho a relação física, mas recuso formalizações!

Como cidadão urbano, habituado a deslocar-me nesse meio de transporte em qualquer cidade europeia, concluo que se o faço lá fora devo, por maioria de razão, fazê-lo cá dentro. E até passo a vida a encorajar toda a gente a fazer o mesmo… Principalmente porque o “nosso” Metro até teria condições materiais para ser muito melhor que outros.

Porém há uma série de características do nosso Metro que me levam – e a parte dos Lisboetas que recusam utilizá-lo – a achá-lo insuportável. Não o meio de transporte, mas a Instituição. E é fácil perceber porquê.

Antes de mais é uma instituição “putinista” no que à aceitação da diferença diz respeito, como o demonstraram factos noticiados há poucos meses. Se o Conselho de Administração desta empresa utilizasse o Metro de Madrid, veria anunciado milhares de vezes aquilo que cá recusou publicitar. Com isso Madrid ganha milhões de euros. Lisboa perde-os.

Por outro lado é uma instituição que desrespeita os seus utentes, pelo estado lastimoso em que por décadas deixa estar as paredes da principal estação da rede, a Rotunda, actual Marquês de Pombal. Enquanto nó principal da rede, na zona central da cidade, não se compreende que seja impossível eliminar as vergonhosas infiltrações que parece remontarem aos tempos do próprio Marquês. Para já não dizer que onde não há infiltrações, a sujidade das paredes dá dó! Quantos salários de administração seriam necessários para reparar e pintar a estação?

Pior que tudo: a instituição abusa da boa-fé de quem paga para fruir dos serviços, tendo a política de, pelo menos na Estação Baixa-Chiado (saída Chiado), ter desligadas aleatoriamente, mas todas as noites, duas ou três das escadas rolantes, alegando avaria. Obriga assim os utentes, carregados de malas (na zona histórica a maioria são turistas), a suportar o calvário da subida de centenas de degraus.

As placas de avaria de equipamento estão lá sempre afixadas: ora rodadas num sentido, ora noutro, conforme a Empresa decide desligar uma ou outra das escadas. Anunciam avarias que só podem ser inexistentes, o que se vê quando os funcionários religam uma escada e viram as placas… não é bonito!

Por fim, é o meio de transporte em que os funcionários são menos afáveis… e que mais greves fazem por ano. Por isso, para utilizar uma imagem criada por Raul Solnado, quando ando de metro, “vou, mas vou contrariado”: a razão diz-me para o utilizar, mas o coração vai revoltado!

Advogado
Escreve à sexta-feira