Manuel Maria Carrilho vai começar a ser julgado por violência doméstica a 7 de Outubro. A primeira sessão do julgamento, ao que o i apurou, está marcada para as 9h30 no Campus da Justiça, em Lisboa. E só o antigo ministro da Cultura, acusado de exercer violência doméstica contra a ex-mulher, Bárbara Guimarães, se sentará no banco dos réus, depois de o Tribunal da Relação ter decidido não pronunciar a apresentadora de televisão – que também chegou a ser constituída arguida por violência doméstica na sequência de uma queixa do ex-marido.
Manuel Maria Carrilho, de 64 anos, e Bárbara Guimarães, com 42, separaram-se em 2013 depois de um casamento que durou mais de uma década e que terminou da pior forma. Segundo o despacho de acusação do Ministério Público (MP), que o i divulgou em Janeiro, o professor de Filosofia não quis aceitar o divórcio. E, na noite de 23 de Agosto de 2013, terá mesmo pegado numa faca de cozinha, apontando-a a Bárbara Guimarães, que estava com a filha ao colo, ameaçando matá-la: “Se me deixas vai haver muito sangue, mato-te a ti, mato os nossos filhos e depois mato-me a mim”.
A acusação do MP garante que já teriam existido agressões antes e que a apresentadora não apresentou queixa “por vergonha”, evitando ir ao hospital mesmo quando levava “socos e pontapés pela cabeça e pelo corpo”. O despacho conta também como, a 5 de Outubro de 2013, Carrilho terá pegado no telemóvel para fotografar a ex-mulher no banho, ameaçando pôr as imagens na internet. Depois, pontapeou-a e entalou-a numa porta. “O arguido quis e conseguiu molestar física e psicologicamente a denunciante [Bárbara Guimarães] e mantê-la intimidada e submissa à sua vontade, afastada de outras pessoas”, acredita o Ministério Público.
A relação terá piorado depois de o antigo ministro regressar de Paris, onde foi embaixador, e de a filha mais nova ter nascido, em 2010. Nessa altura, Carrilho “passou a isolar-se no escritório”, no sótão da casa, “evitando o contacto social com amigos e mesmo a convivência com familiares”. Ao mesmo tempo, começou a “controlar os movimentos diários” da mulher – vigiando o conteúdo de emails, SMS e registos de chamadas do iPhone. E começaram as discussões, “especialmente na véspera” do programa de televisão que Bárbara Guimarães apresentava à época.
O ambiente, continua o despacho de acusação, voltou a piorar no início de 2013, com discussões “diárias” e noite dentro. Um conjunto de “pressões intoleráveis”, que incluíam maus-tratos psicológicos e agressões físicas. O MP conta como, numa outra noite, entre Setembro e Dezembro desse ano, Bárbara terá sido agarrada “pelos braços”, tendo levado “um pontapé no corpo”. Antes disso, em Maio, dias antes da gala dos Globos de Ouro, Carrilho já a tinha agredido: empurrou-lhe a cabeça “contra a porta de um armário”. A acusação garante ainda que a apresentadora ouvia insultos quase todos os dias: “És uma alcoólica”, “não vales nada”, “estás acabada”, “não tens cabecinha para nada”, “estás tramada” ou “os teus filhos dizem-me que querem que a mãe morra”, lê-se no despacho do MP.
bárbara não é julgada Entretanto, Manuel Maria Carrilho também se queixou de ter sido vítima de violência por parte da ex-mulher e Bárbara Guimarães chegou a ser constituída arguida. O Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa decidiu mesmo levar a apresentadora a julgamento por ter trocado as fechaduras do apartamento ao ex-marido – uma atitude que, para o juiz de instrução, poderia configurar “maus-tratos psicológicos”, uma vez que Carrilho não pôde ver os filhos durante três semanas nem ter acesso aos seus bens.
O MP começou por arquivar o inquérito, mas o antigo ministro recorreu e o TIC concordou que Bárbara teria de ser julgada. Mas a apresentadora recorreu dessa decisão para o Tribunal da Relação – que, em Maio, decidiu não a pronunciar.
Carrilho paga 31400 euros Pouco tempo antes, no final de Abril, Manuel Maria Carrilho foi condenado num outro processo por três crimes de difamação com publicidade por ter afirmado, em várias entrevistas, que Bárbara Guimarães foi violada pelo padrasto.
O professor de filosofia foi obrigado pelo tribunal a indemnizar o médico Carlos Teixeira Pinto em 25 mil euros por danos morais e condenado a uma multa de 6400 euros. No total, teve de desembolsar 31400 euros, fora as custas do processo. O i tentou contactar Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães sem sucesso.