Quinito. “Quando cheguei a Santander, era o único que bebia e fumava”

Quinito. “Quando cheguei a Santander, era o único que bebia e fumava”


Faz hoje 40 anos a estreia do médio português no Racing, com vitória sobre o Saragoça (4-1)


Quinito é uma figura. Como treinador do Braga, veste-se de gala (fraque) para a final da Taça-82 com o Sporting. E como jogador? Um aventureiro, entre Académica, Belenenses e Racing. Sim, Quinito joga em Espanha. E estreia-se faz hoje 40 anos. Ao fim de três anos (seis golos e seis cartões amarelos em 72 jogos), volta a Portugal e dá esta entrevista. Mestre.

Defina a passagem por Espanha.
Positiva.
A adaptação foi difícil?
Muito difícil. Quando cheguei a Santander, era o único que fumava e bebia. Reconheço que foram os empregados dos bares aqueles que mais se esforçaram por integrar-me na sociedade. No final da aventura, já era um espanhol mais.
Quando voltou a Portugal, era um milionário?
Ganhei muito dinheiro mas também gastei muito. Gosto de viver o presente e não pensar no futuro.
Falemos do futebol espanhol…
Em Espanha, o jogador de futebol ainda é mal visto na sociedade espanhola porque é desvalorizado e tido sem cultura. Por isso, acho muito bem o movimento de futebolistas de se juntarem para formar uma associação. Nessas reuniões, juntam-se fenómenos, como Cruijff e Pirri, com ‘hombres’ da 3ª divisão.
Fala-se muito das irregularidades em Espanha. Alguma vez jogou drogado?
Não posso assegurar. Não sei se o cognac que tomávamos por intermediários era realmente cognac ou havia extras.
Tomavam cognac?
Sim, Em Santander, havia muito frio e era normal beber brandy ou café. O que não posso assegurar é se essas bebidas estavam adulteradas ou não.
Que papel tem o dinheiro na organização do futebol espanhol?
É o mais importante. O dinheiro compra tudo: jogadores, árbitros, jogos, etc…
Alguma experiência pessoal?
Uma, e quero esclarecer que estava envolvido nela com um companheiro português. Há dois anos, no último jogo da liga, o Santander estava obrigado a ganhar ao Salamanca para salvar-se. Eu e o Damas falámos com o Alves para ver o que se podia arranjar. Alves disse-nos que a sua equipa nunca iria baixar a guarda e que entrariam em campo para ganhar. Isto demonstra, sem dúvida, a honestidade de Alves e dos seus companheiros.
E como terminou o jogo?
Ganhámos nós, e curiosamente com um autogolo de Rezza. Imagine a confusão… O que está claro é que existe em Espanha uma enorme organização à margem dos jogadores. Os directores compram e vendem jogadores. Tudo se adquire com dinheiro. Em mais de uma ocasião, sabia-se que o árbitro estava comprado mas faltavam sempre provas para denunciá-lo.