Onde vão os tempos do “Red Ed”! O Miliband mais à esquerda venceu as eleições internas dos trabalhistas há quatro anos, contra o seu irmão blairista David.
Na época, Ed Miliband era acusado pelos adversários de ser excessivamente vermelho num partido que tinha dominado o Reino Unido durante dez anos sob a liderança moderadíssima – para não dizer coisas menos simpáticas – de Tony Blair. Mas o “Red Ed” não era nem “red” nem outra coisa qualquer.
Num país onde o protesto antigovernamental foi para o Partido Nacional Escocês (e também para o UKIP, embora o sistema eleitoral inglês não lhe tenha dado lugares em Westminster), “Red Ed” optou pela política da esquerda mole – em português popular chama-se “pisar ovos”.
A vitória de Jeremy Corbyn não significa que todos os trabalhistas britânicos tenham, num ápice, passado a ser adversários da NATO ou combatentes das armas nucleares existentes no país desde o governo trabalhista de Clement Atlee. O que significa a vitória de Corbyn, um radical trabalhista com 66 anos, é o esgotamento das políticas socialistas que em muito pouco se distinguem das políticas conservadoras.
É evidente que em Jeremy Corbyn há uma autenticidade e uma coerência – valores em desuso no mainstream político – capazes de apaixonar um eleitorado exausto dos socialistas mais ou menos blairistas do costume, que têm muito pouco a oferecer de diferente relativamente a conservadores que, entretanto, também já são menos conservadores do que há 20 anos.
Para o bem ou para o mal, Corbyn ganhou porque apresentou uma agenda radicalmente diferente da da esquerda mole que, na Europa, é praticamente indistinta da dos conservadores e dos liberais.
Não sabemos como acaba o filme (as últimas esperanças da esquerda, de Hollande a Alexis Tsipras, revelaram-se rotundos fracassos), mas pelo menos sabemos que, so far, Corbyn agita as águas paradas dos socialistas europeus bem-comportados.