Cartões. Débito com anuidades mais caras do que os de crédito

Cartões. Débito com anuidades mais caras do que os de crédito


É provável que daqui a 15 anos o cliente pague mais do que 50 euros pela anuidade.


As anuidades dos cartões de débito estão cada vez mais caras e este custo está a pesar na carteira da maioria dos consumidores. O aumento tem sido, em média, de 10% ao ano, o que significa que praticamente duplicaram nos últimos seis anos. Esta é uma das conclusões do estudo feito pela Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor (DECO): “Esta anuidade chega a ser mais elevada do que a aplicada aos cartões de crédito.”

{relacionados}

Mas vamos a números para se perceberem as diferenças. Em 2009, um cartão de débito custava, em média, 6,83 euros anuais. Dois anos mais tarde, o valor chegava aos 7,50 euros. Desde então, o custo disparou. Só entre 2014 e 2015, subiu em média 9,8%, ou seja, 1,04 euros: “Se pensarmos nos últimos quatro anos, o acréscimo foi de quase 55%.” A manter-se esta evolução, dentro de uns 15 anos, o consumidor arrisca-se a pagar bem mais do que 50 euros a título de anuidade, alerta a associação. 

De acordo com o mesmo estudo, entre 2009 e este ano, cinco instituições de crédito mais do que duplicaram o valor aplicado: o Banco BIC, o Banco BPI, o Banif, o Millennium bcp e o Santander Totta. Nos dois primeiros, a variação atingiu os 150%, passando de 5,20 para 13 euros e de 6,24 para 15,60 euros, respectivamente. “Estes cinco bancos cobram uma média muito superior (15,27 contra 11,62 euros) e têm feito subir os custos de forma mais acentuada do que a concorrência”, denuncia a DECO.

As subidas não ficaram por aqui. Outras três instituições levaram a cabo aumentos superiores a 90% no mesmo período: o Best Bank, o Novo Banco e a Caixa Geral de Depósitos. “Apenas o BiG e a Caja Duero mantiveram os valores cobrados, e o Montepio registou um incremento a rondar os 10%”, acrescenta. 

Este aumento de custos é, de acordo com o mesmo documento, um valor bem superior à taxa de inflação verificada. 

débito vs. crédito Mas ao contrário do cartão de débito, visto actualmente como uma ferramenta quase obrigatória para movimentar a conta bancária, o mesmo não se pode dizer de um cartão de crédito. “Apesar de útil, pois disponibiliza um financiamento para qualquer eventualidade, não é indispensável. Além disso, os elevados custos, sobretudo ao nível dos juros, impõem cautelas na utilização”, lê-se no estudo.

No entanto, se compararmos apenas as anuidades de ambos os tipos de cartões, “verificamos que já não existem grandes diferenças e que, em muitos bancos, o de crédito sai até mais barato”, conclui a DECO, acrescentando ainda que “no mesmo banco chegam a existir cartões de débito mais caros do que versões que concedem crédito”. 
Trata-se de uma subida “injustificada”, pois os bancos já obtêm lucros “avultados” com a menor utilização dos balcões. É caso para dizer que a actividade principal das instituições está a deixar de ser a realização de operações financeiras para passar a ser a aplicação de comissões, defende esta entidade.

E o estudo dá como exemplo o caso do Abanca, do BiG, do Novo Banco e do Barclays, que possuem um cartão de crédito sem custos, mas cobram pelos de débito. Já no Millennium bcp e na Caixa Geral de Depósitos, o cartão de débito também é mais caro do que o de crédito classic.

Por isso mesmo, se o seu cartão de crédito tiver também função de débito e permitir aceder à rede multibanco, como acontece com alguns do Novo Banco, do Millennium bcp e da Caixa Geral de Depósitos, pode abdicar do cartão de débito e poupar até 14,56 euros por ano, mas só se pagar sempre as despesas a 100%.

Caso contrário, poderá não ser assim tão vantajoso, pois os juros dos cartões de crédito, apesar de continuarem a descer, mantêm-se ainda próximo dos 20%. Para o terceiro trimestre de 2015, o limite estabelecido pelo Banco de Portugal é de 19%, menos 0,8 pontos percentuais do que nos três meses anteriores. Se compararmos estes valores com os praticados nos períodos homólogos dos anos mais recentes, verificamos uma descida: de 37,2% em 2012 passámos para 25,4% em 2013 e 21,5% em 2014.
 
Ainda assim, um valor “muito acima” se compararmos as taxas de juro praticadas no crédito pessoal ou até mesmo no descoberto das contas-ordenado. “O mais interessante continua a ser o pagamento das despesas a 100%. No caso de se sentir apertado pelas circunstâncias e precisar de um financiamento, o melhor é escolher o cartão com a taxa anual de encargos efectiva global (TAEG) mais reduzida, aconselha a associação. 

O certo é que, face a uma oferta diversificada que, muitas vezes, inclui seguros, serviços, descontos em compras ou pontos que podem ser trocados por produtos, nem sempre é fácil escolher o melhor produto. A decisão, no entanto, poderá tornar-se mais simples se tiver em conta o seu perfil de utilização: “Se pensa pagar sempre as despesas a 100%, o principal critério de escolha é a anuidade, que deve ser, de preferência, gratuita ou tão baixa quanto possível. Assegure-se também de que a isenção ou redução da anuidade se mantém para lá do primeiro ano.”

Considere depois um eventual cash-back, ou seja, a devolução de uma percentagem das despesas efectuadas com o cartão num dado período, e benefícios associados, como seguros ou programas de descontos. Se, no entanto, tenciona pagar as despesas de forma faseada, saiba que ficará sujeito a juros. E, neste caso, pesa a TAEG, que deverá ser a mais reduzida que encontrar, explica a DECO.

De acordo com a ronda feita pela associação, “no caso de pretender pagar as despesas a 100%, a melhor opção é o ActivoBank Visa Classic, sem anuidade e com uma TAEG de 17,7%. Se utilizar o crédito de forma recorrente e amortizar em prestações mensais, a TAEG mais reduzida pertence ao cartão Montepio Origem e encontra-se nos 11,6%. Tem uma anuidade de 13 euros e o máximo de crédito atribuído é de 2500 euros, segundo a entidade. 

Comissões Os bancos não aumentaram apenas os custos dos cartões de débito. Há cada vez mais instituições financeiras a cobrarem por outros meios de movimentação, como o homebanking. “Ainda que as operações tenham custos bastante mais reduzidos via internet do que ao balcão, no início eram gratuitas”, relembra a DECO, chamando ainda a atenção para o facto de existirem bancos, como o Barclays, a Caja Duero e o Crédito Agrícola, que não concedem descontos aos clientes por optarem pela internet. 

Além disso, as contas à ordem são penalizadas por outras vias: é o caso das comissões de manutenção dos custos de processamento das prestações dos créditos – uma realidade que representa um “fardo sobretudo para os clientes com rendimentos mais reduzidos”, defende a associação, acusando ainda os bancos de estarem “conscientes de que os consumidores dificilmente vivem sem conta à ordem, e confrontados com a impossibilidade de cobrar no multibanco, montaram o cerco para aplicar comissões a tudo o que mexe, sem que o Banco de Portugal se digne mover o mindinho para impor limites a estas estratégias”, remata a associação.